Sugestão

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Naquela manhã, Mikasa bebericava um copo de suco natural, abastecendo o seu estômago com algumas fatias de bolos preparado especialmente por Elizabeth. Ela tinha um belo dote culinário, algo que foi apreciado por Mikasa, e curiosamente ao lado do seu pratinho estava aquele docinho de banana com calda caramelizada que ela tanto adorava. Ao invés de escolher o bolo em primeiro lugar para forrar o seu estômago, Mikasa escolheu o docinho. Ele era pequeno, redondinho, e consistente. Comeu lentamente, amando com o seu paladar, desejando que não acabasse tão rápido. Reparou que Levi não estava na mesa. Durante os longos minutos que ela esteve ali, ele não deu sinal de vida. Isso era estranho, pois o hábito era sempre encontrá-lo primeiro sentado à mesa.

–Onde está... o Levi?

–Ele saiu um pouco mais cedo, Senhorita Ackerman. –Respondeu Elizabeth de costas para Mikasa, arrumando as coisas em cima da pia.

–Sabe porque? –Mikasa levantou o olhar amassando o papelzinho de embrulho do docinho e colocando em um cantinho. Não era comum Levi sair na frente, dentro dos dois meses de convivência.

–Ele não comentou nada ao sair! –A mulher suspirou olhando levemente por cima do seu ombro. –Sinto muito.

Mikasa tomou um generoso gole do suco, cruzando as pernas debaixo da mesa, observando Elizabeth organizar toda a pia que sujou para preparar o café da manhã. Sua curiosidade foi atiçada em torno da mulher que pouco conversou durante o tempo que esteve ali, os servindo.

–Você tem quantos anos, Elizabeth?

–Trinta e cinco. –Disse ela, secando algumas vasilhas.

–Você tem namorado?

–Não tenho. –Elizabeth corou com aquela pergunta bastante pessoal, mas continuou com o seu serviço, acreditando que era um meio de Mikasa manter um diálogo e conhecê-la melhor, já que conviviam na mesma casa.

–Porque não?

–Porque eu não encontrei ninguém que me fizesse sentir alguma coisa. –Não levou um minuto para que entregasse uma resposta honesta.

Mikasa refletiu a respeito. As pessoas sempre confundiram o seu alto nível de cuidado e proteção com Eren, como paixão desenfreada. Talvez Levi acreditasse nisso também, devido ao seu comportamento. Porém, Mikasa sabia separar as coisas. Eren, representava a família. Fez essa declaração algumas vezes para algumas pessoas que confundiram Eren como seu namorado, e também buscou se convencer que não existia outro sentimento além do amor fraternal.

A frase de Elizabeth fez sentido. Mesmo que não demonstrasse para os seus amigos, ou conversasse sobre esses assuntos, Mikasa gostaria de sentir alguma coisa por alguém. As sensações descritas como palpitações no peito, borboletas no estômago, os olhos presos no da outra pessoa como se enxergasse o que existia por trás dos gestos, das palavras. O sentimento de bem estar e a atração forte e sexual, além da apreciação da companhia da outra pessoa, e o amor. Mas, o que significava o amor dentro de um relacionamento? Acreditava que amor não poderia ser confundido com gostar, ou com paixão. Amor significava outra coisa, como algo inexplicável e transcendental. Um sentimento que não pode ser apagado, esquecido, ou destruído pelas circunstâncias da vida. Amar é amar, concluiu por fim, evitando fazer comparações. Não existia uma definição.

–Posso perguntar uma coisa? –Elizabeth interrompeu o fluxo de pensamentos de Mikasa, ao fazer a pergunta.

–Claro. O que quer saber?

–Eu sei que vocês são casados, mas você sente alguma coisa pelo Senhor Levi?

Mikasa parou de comer e levantou o olhar, levemente arregalados. Aquela pergunta deixou-a sem reação. Sua garganta secou, e Mikasa percebeu que não conseguiria dizer sobre isso. Estranhamente suas mãos suaram frio, e as palpitações no peito se tornaram intensas. Nunca falou em torno dos seus sentimentos em relação a qualquer pessoa, e o coração era uma terra sem lei. Mikasa abriu a boca para responder, mas fechou, decidindo mudar a direção daquele assunto.

Ascensão AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora