A Espiã - Livro 1

•18

Acordo me sentindo renovada após uma boa noite de sono. A nova amizade com Tiana Gallaway está em minha mente, junto com os dois homens que disputam minha atenção. Não consigo concluir se tenho sorte de ter toda essa atenção ou se isso será o meu fim. Mas ninguém pode dizer que minha vida é entediante. Tudo tem sido uma aventura e tanto. 

Ivan saiu do meu apartamento logo cedo após nossa noite intensa. Me arrumo mais que de pressa e pouco tempo depois, entro pelas portas da luxuosa residência dos Gallaway, ansiosa pela reunião com a matriarca. 

Elizabeth solicitou minha presença na casa da família, e estou apreensiva e descontente com isso. Conhecendo Elizabeth como acho que conheço, boa coisa não vem por ai. Honestamente, depois de ontem, não era assim que queria começar minha manhã, mas o dever chama.

O mordomo me leva até a sala de estar bem decorada, com um sofá de couro imenso que deve ter custado quase um ano do meu salário como agente. Elizabeth espera por mim com seu ar superior de elegância e sofisticação. 

- Obrigada por vir. - Ela me cumprimenta de forma rígida. - Por favor, sente-se.

Elizabeth é graciosa como sempre, mas é evidente  que não há simpatia alguma aqui. Sento em uma das poltronas macias. Elizabeth se direciona ao sofá, ela se senta ali e cruza as pernas com elegância.

- Gostaria de beber alguma coisa?

- Não, obrigada. - digo.

Não há vestígios do sorriso calmo que Elizabeth usa normalmente com as pessoas. O que me deixa ainda mais apreensiva sobre essa reunião. Dá pra ver que tem algo incomodando ela, sem dúvida alguma. 

- Imagino que tenha gostado do churrasco? - indaga. 

- Foi... agradável. 

- Parece que boa parte da família tem apreço por você. 

Não sei dizer se ela está apenas jogando conversa fora ou se há uma razão por trás do comentário. Mas não vejo Elizabeth sendo o tipo de pessoa que gosta de jogar conversa fora. E Elizabeth nunca diz nada sem uma boa razão por trás, pelo menos não para mim. 

Sem esperar por uma resposta, ela se inclina para a mesa de centro, logo a sua frente pega uma pequena caixa de joias que não havia notado desde que entrei na sala. Elizabeth coloca as mãos no colo e abre a caixa com cuidado. Seu rosto se enche de uma ternura incomum enquanto olha o que tem dentro. 

- Você sabe alguma coisa sobre herança... tradição, orgulho? - ela me encara.

- Eu... - fico confusa.

- Imaginei que não. - ela diz convencida, e eu levanto o queixo, desafiando-a. - Oh, não se sinta mal, querida. É um conceito desconhecido para os que não possuem uma longa história familiar.

Ela levanta a caixa pequena para que eu possa ver o conteúdo. Um anel de ouro com uma pedra grande e azulada no centro e outras menores em volta do anel, surge diante dos meus olhos. Era o anel mais lindo que já vi na minha vida e com certeza, deve custar uma fortuna.

- Este anel está na minha família há gerações... - ela diz admirando a joia. - Quase 200 anos, para ser exata. 

- É bastante... coisa. - digo calmamente. 

Elizabeth parece irritada com minha resposta. Ela coloca a caixa no colo com desdém e a fecha.

- Não, agente... Você é bastante... coisa. - ela diz irritada. - Esse anel, no entanto, é a herança mais preciosa que possuo. É um símbolo dos Gallaway e tudo o que eles representam. 

Tenho vontade de retrucar Elizabeth, mas decido apenas ouvi-la. Já tenho preocupações o suficiente. Provocar a Elizabeth Gallaway não está na minha lista de prioridades no momento.