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Está um dia lindo em Nova York e decido ir até o mercado da esquina antes de Ivan chegar. Os armários da minha cozinha estão vazios, e quero pelo menos oferecer uma xícara de café quando ele aparecer.

Aquela onda de felicidade não saiu do meu corpo ainda e o sorriso fica estampado em meu rosto enquanto caminho pela calçada. Fico me perguntando se é só impressão minha ou tudo está mais brilhante e bonito hoje?

Pelas pessoas mal-humoradas e apressadas que encontro pelo caminho, a surpresa de Ivan definitivamente tem algo a ver com toda essa felicidade.

Sinto como se estivesse em um musical, como se a qualquer momento eu pudesse começar a cantar e as pessoas ao meu redor seriam meu coro, e do nada apareceriam pessoas dançando uma coreografia que todos saberiam.

- Ah, veja só se não é aquela piranha!

Uma voz raivosa ecoa logo atrás de mim. No começo não tenho tanta certeza se estão falando comigo, mas, quando viro a cabeça, dou de cara com Ryan Cartter, com uma expressão de raiva em seu rosto.

Ryan se aproxima de mim até ficar com o rosto a centímetros do meu. Enquanto ele fala, posso sentir gota de saliva me atingirem, o que me causa uma enorme repulsa. Ele está claramente embriagado, seu hálito cheiro a licor da pior qualidade.

- Gostou da mensagem que eu te mandei? Eu disse que você não devia brincar com fogo. Você arruinou minha vida e eu devia te matar.

De todas as pessoas, jamais acharia que aquela mensagem anônima viria só asqueroso Ryan Cartter. Permaneço na minha postura e não me afasto, embora ser atingida pela saliva dele não seja muito divertido.

- Não, você arruinou sua própria vida. Não precisou da minha ajuda para isso. - indago, alterando meu tom de voz.

Ryan parece estar prestes a engasgar em sua própria raiva, quando levanta a mão para me bater. Antes que possa reagir, Ivan aparece de repente e agarra o braço dele antes que atinja meu rosto. Ryan vira a cabeça, extremamente agitado por não ter conseguido me atingir.

- Solta a droga do meu braço! - Ryan diz furioso. - Quem diabos é você?

A expressão no rosto de Ivan é ameaçadora, e uma pequena veia pulsa em sua têmpora. Com isso, Ivan solta a mão de Ryan, impulsiona o braço pra trás e dá um soco no meio do rosto dele. Ryan se desequilibra, ficando totalmente fora de si e depois cai de costas.

Fico completamente imóvel com toda aquela cena. Sangue escorre de uma das narinas de Ryan. Então Ivan se abaixa ao lado dele, agarrando o colarinho da camisa e levantando a cabeça dele até ficar próxima da sua. Mal consigo entender o que ele diz a Ryan, ele começa falando em russo, e a intensidade com ele fala surpreende e me fascina.

- Se você se aproximar dela novamente, vou acabar com você e você vai desejar nunca ter nascido. Entendeu? - Ivan o ameaça.

- Sim... - Ryan não consegue manter a cabeça muito firme, mas dá um jeito de concordar. - Só me solta, cara.

Ivan solta o colarinho de Ryan e ele cai no chão novamente. Ele me segura delicadamente me puxando daquela cena. Com passos rápidos, Ivan caminha ao meu lado, colocando as duas mãos em meus ombros.

- Você está bem? - ele indaga.

- Sim... Obrigada.

- Eu não deveria deixá-la sozinha nem por um segundo...

Sem dizer uma palavra, interrompo a frase de Ivan ao me inclinar contra seu peitoral e envolver os braços ao redor do pescoço dele, dando início ao um beijo cheio de saudades. Ele coloca as mãos em minhas costas, me permitindo sentir seu cheiro bem masculino. Como é bom estar nos braços dele, sentindo o calor do seu corpo enquanto nossos lábios se encontram em um beijo apaixonado.

- Senti sua falta... - ele sussurro ao afastar nossos lábios por um breve momento.

Apenas um sorriso surge em meus lábios como resposta. Logo ele encaixa suas mãos grandes em meu rosto e me beija completamente entregue. E naquele momento, só existe nós dois. Completamente entregues a paixão e saudade que sentíamos um pelo outro.

Mesmo com todas as pessoas passando em nossa volta, muitas delas parecendo sussurrar algo sobre aquela cena romântica no meio de uma calçada de Nova York. Aquele momento é apenas nosso.

Sinto como se meus pés mal tocassem o chão, como se Ivan e eu estivéssemos levitando e flutuando no espaço. Nunca me senti assim com ninguém, nunca senti essas sensações que sinto quando estou com Ivan. Minha barriga se enche de borboletas e meu coração sempre bate mais forte só de pensar nele. E quando estamos juntos, é como se não houvesse mais nada em volta. Já não posso negar a paixão que tenho por ele, meu corpo e minhas ações me entregam totalmente.

Depois de um tempo, o beijo se torna mais lento, mais suave, até que nossos lábios se separam, mesmo sem vontade. E eu não poderia estar mais feliz.

- Eu voltei por sua causa.

- Por minha causa? - repito as palavras dele, me sentindo surpresa pelo que ele diz e ele afirma com a cabeça, sem hesitar.

- Preciso de você ao meu lado... - diz calmamente enquanto segura minhas mãos. - Em São Petersburgo.

Minha garganta de repente parece tão seca quanto o deserto do Saara. Fico imóvel e minha cabeça parece processar aquela informação lentamente. Nunca pensei em sair de Nova York, do caos que é a cidade e toda a movimentação que nunca para. Ainda mais agora, com meu trabalho, a agência e o Jeffrey.

- Não precisa responder agora. Eu te dou um tempo pra pensar. - ele sorri gentilmente. - Thomas me ligou... - ele franze a testa por um momento. - E me contou tudo. Ele acredita que a Elizabeth inventou toda a história contra a Kate.

Fico surpresa em saber que Thomas realmente acha que a Elizabeth inventaria uma coisa desse tamanho contra ele. Mesmo ela sendo tão autoritária e em algum na momentos manipuladora, Kate não é nenhuma santa e tem algo de muito estanho por trás da história que ela contou essa manhã.

A investigação desse caso passa como um filme na minha cabeça rapidamente e me faz questionar a mim mesma se não é a hora perfeita para contar pro Ivan que sou uma espiã?! Estou adiando isso faz tempo pelo meu disfarce e pelo medo de sua reação.

- Quem você acha que está dizendo a verdade? - sua voz me tira de todos os pensamentos.

- Eu não acredito na história sentimental de Kate. E você e a Elizabeth se conhecem há muito tempo, você melhor do que ninguém deve sabe que ela está dizendo a verdade, certo?

- Acho que tem razão. A Elizabeth é muito fria, mas não mentirosa. - concorda. - Bom, por algum motivo, nós fomos convocados para uma reunião familiar de emergência na casa dos Gallaway.

O caso da família Gallaway parece não acabar. Por um momento pensei que tinham acabado as reuniões de emergência, as festas glamorosa e tudo o que envolve aquela família.

- Trouxe um presente pra você: um vestido que vi em uma loja em Paris. Ele me lembrou você... - sua voz é calma enquanto ele me observa atentamente. - E eu simplesmente precisava ver seu corpo lindo dentro dele. Pode vestir o vestido hoje a noite? Isso me deixaria muito contente.

- Você vai ter que esperar pra ver.

- Deixe-me levá-la pra casa. - Ivan apenas sorri e aponta para o carro estacionado a alguns metros de distância. - Imagino que precisará de algum tempo para se preparar para reunião.

A Espiã - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora