David (Parte 2)

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Eu me apaixonei à primeira vista por um aluno novo chamado David

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Eu me apaixonei à primeira vista por um aluno novo chamado David. Ele se sentava lá no fundo da sala, bem distante da minha carteira, e logo virou amigo de todos aqueles que eu mais odiava na nossa turma desde o início do Ensino Médio. Um belo dia, porém, David surpreendentemente se aproximou de mim e me pediu ajuda com um determinado assunto de Química. Ele falou, em tom humilde, que havia repetido de série na escola onde estudara no ano anterior por conta dessa matéria, e que, como ouvira falar que eu sempre tirava as melhores notas da classe, ficaria muito feliz se eu pudesse ser sua dupla no trabalho mais recente que o professor havia passado. Tentando disfarçar o choque, eu disse de um jeito meio desastrado que colaboraria sim, com todo o prazer. Combinamos, então, de ele almoçar na minha casa; à tarde, faríamos o trabalho.

Não consegui prestar a atenção em aula alguma depois dessa breve conversa. Eu só conseguia pensar em David e em como ele era o garoto mais bonito que eu já tinha visto em toda a minha vida. Fiquei imaginando sobre o que conversaríamos até chegarmos na minha casa. Do que será que ele gostava? Mulheres? Carros? Com certeza ele falaria das coisas mais chatas do mundo, porém eu o incentivaria a prosseguir, e fingiria todo o interesse possível; o importante, afinal, era mantê-lo sempre entretido, já que eu não seria capaz de suportar assim tão cedo aquele silêncio embaraçoso e inevitável que uma hora ou outra surgiria só para evidenciar o quão incompatíveis nós éramos. Eu, estudioso, banal, amante de livros e séries de TV. Ele, popular e atlético: um ser superior que poderia estampar a capa de uma revista. Acho que eu não preciso entrar em detalhes em relação ao quão nervoso e tenso eu ficava só de pensar nas barreiras que nos dividiam, e também no frívolo motivo pelo qual ele decidira atravessá-las. Um trabalho de Química — para ele: um evento cotidiano; para mim: uma oportunidade talvez única na vida. Uma oportunidade de quê? Nem eu mesmo saberia definir o quão longe eu esperava chegar, o que exatamente eu gostaria de obter de David. Mas havia uma ânsia, uma fome em mim. A presença dele, sua conversa, sua companhia, de repente tudo isso havia se manifestado como um quase literal objeto de desejo que flutuava sobre a minha cabeça — uma maçã do Éden a ser coletada e mordida; um sonho bom e fugidio a ser memorizado desesperadamente para que se estabeleça como reminiscência em vez evanescer para sempre no oblívio.

Passaram-se minutos, horas aflitivas. Agora andávamos lado a lado numa calçada que ladeava uma rua de paralelepípedos. Eu não tinha coragem de olhar para trás, pois sabia que tanto os meus amigos quanto os dele achariam esquisitíssimo o fato de estarmos indo embora juntos, e suas expressões de escárnio e estranheza eram totalmente dispensáveis para alguém que já tinha outros incômodos com que se preocupar. David resolveu que gostaria de passar por um caminho subterrâneo para chegar ao centro da cidade. Eu detestava aquele local e não conseguia compreender o que poderia despertar tal desejo, contudo aceitei ir com ele prontamente. Não falamos nada enquanto descíamos a imensa escadaria que levava até o túnel de paredes pichadas fedendo a urina mais abaixo. Então ele de repente tirou um maço de cigarros da mochila e pediu para eu prometer que não contaria a ninguém que ele fumava. Eu dei minha palavra, o que o encorajou a sacar um isqueiro do bolso e acender um Derby recém tirado do maço. Ficamos lá embaixo, no subsolo, até ele terminar de fumar, depois caminhamos até a minha casa sem falar nada. Chegando lá, contei à empregada que havia trazido uma visita; em seguida, chamei David para subir comigo até o andar de cima, para que pudéssemos colocar nossas mochilas no meu quarto antes de almoçar. Ele me perguntou dos meus pais, ao que eu respondi que estavam trabalhando, omitindo o fato de que minha mãe já não morava conosco. Durante o almoço, ele mal falava, parecia distraído por algum motivo ao qual eu era ignorante. Lá em cima, outra vez no quarto, enquanto fazíamos o trabalho de Química, ele me perguntou se podia fumar um cigarro, e eu disse que sim, que eu só precisaria trancar a porta para não correr o risco de a empregada abrir de repente e pegar ele no flagra. E assim o fiz. Ele subiu a persiana, revelando um trecho friamente iluminado do jardim, abriu o vidro da janela e acendeu outro Derby. Eu fiquei observando ele fumar, sentado no meu puff azul-bebê.

De súbito ele perguntou: "você já beijou alguém?" Eu disse: "não". Ele cuspiu fumaça e falou que ia me ensinar. O meu pau começou a ficar duro. Ele tragava, soprava pequenas nuvens translúcidas, eu olhava... ele, por sua vez, sequer correspondia: a jabuticabeira em flor próxima à janela era o único alvo de sua admiração, de seu olhar melancólico, vazio, pesado de certa forma. Ele se juntou a mim no puff e começou a me beijar. Eu tinha certeza de que estava babando mais do que o normal. Ele, porém, não pareceu incomodado, pois continuou me beijando, e eu desastradamente babava, batia com os dentes nos dentes dele, virava a cabeça para o lado errado... David, sem parecer notar nada disso, continuava a me beijar como num filme de romance, fingindo uma atração por mim que com certeza não sentia, as mãos me tocando com uma paixão que certamente ele direcionava a outra pessoa em seus pensamentos. Sem jamais abrir os olhos, ele prosseguia com os beijos, e aos poucos eu fui pegando o jeito daquilo. Quando comecei a sentir que estava indo bem ele parou e se levantou. O cigarro ainda queimava entre seus dedos. Ele se recostou na parede, de perfil para mim, e continuou fumando, olhando para a jabuticabeira com uma expressão triste e preocupada. Meu pau estava babando na cueca. Terminamos o trabalho sem tocar no assunto.

Olá queridos(as)(es)! Alguém me chamou no Instagram de forma anônima e pediu atualização de Eros, então aqui estou para cumprir com a promessa de que postaria ainda esta semana. Pra ser sincero, eu não tinha certeza se alguém estava acompanhando esta coletânea, por isso não tive nenhuma pressa para atualizar. Eu jamais seria aquele tipo de escritor que diz "só vou postar se tiver comentários/likes", pois acho isso ridículo, mas podem ter certeza de que serei mais rápido caso alguém demonstre interesse. De qualquer forma, tentarei postar pelo menos uma vez por semana. Aceito sugestões para futuras histórias/coletâneas também. O que vocês gostariam de ler? Me contem! Um abraço a todos(as)(es)! :*

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