O corpo do meu namorado está cheio de marcas, mas ele se recusa a me contar a origem delas. Quem anda fazendo isso com você, David? Quem anda te batendo? Quem chupou o seu pescoço com tanta voracidade? Quem sugou agressivamente o seu mamilo esquerdo? E essas marcas na bunda? Você andou sendo castigado por quem? É tão óbvio que você está mentindo, é tão claro que está sendo cínico... Se não eu brigo, é porque não tenho total certeza quanto ao fato de você estar me traindo de forma consensual. E se alguém estiver abusando de você? Quão cruel eu seria, não é mesmo, por estar insinuando que você me engana por ser mau, quando na verdade alguém te força a ficar calado a respeito dessas agressões eróticas as quais você vem tão suportando de forma tão resiliente. Eu disse ao meu pai:
— Talvez você esteja certo. E se o David estiver sendo abusado por alguém em sua própria casa? E se ele estiver fazendo daqui o seu refúgio? Eu pensei bem no que você me disse, pai, e comecei a ver sentido nas suas palavras.
Meu pai me olhou em choque. Eu prossegui:
— Eu acho que ele está sendo abusado pelo próprio padrasto.
— Impossível — meu pai logo disse. — Por que você acha isso?
Essa reação me surpreendeu. Até então, ele parecia convicto de que algo assim era perfeitamente provável. Agora, todavia, mostrava-se estarrecido com a ideia.
— O corpo dele está cheio de marcas — eu disse. — Quando toco no assunto, ele se esquiva, fica irritado e constrangido. É visível que algo estranho está se passando com ele.
Meu pai ficou olhando para mim, pensativo e confuso.
— Eu vou lá cobrar o padrasto dele — falei depois de um tempo. — O David sempre me diz que ele é uma pessoa terrível, mas nunca me diz o motivo. Preciso ver por mim mesmo.
— Eu acho que você não deveria fazer isso. É muito arriscado.
— O que eu faço então? Cruzo os braços e deixo meu melhor amigo ser estuprado?
— Você está fazendo uma acusação muito grave, meu filho. Não temos como saber se sua suspeita tem fundamento ou não. Talvez o David só esteja se relacionando com uma mulher mais fogosa.
— Não... isso não é do feitio dele, definitivamente. O David é puro e inocente. Nós precisamos protegê-lo.
Meu pai parecia absolutamente desconfortável.
— Filho... pense bem antes de fazer ou falar qualquer coisa, para quem quer que seja...
— Eu já não sei mais o que fazer, pai. Estou mesmo muito preocupado com ele.
— Isso é normal. Afinal, vocês são grandes amigos. Mas tente não ficar metendo caraminhola nessa sua cabeça. Talvez você esteja imaginando demais...
— Até semana passada você teria concordado comigo.
— É.... talvez. No entanto, hoje eu vejo que exagerei um pouco. O David está sempre aqui porque gosta da gente, nada mais... E essas tais marcas que você viu... talvez elas não signifiquem nada.
— Como poderiam não significar nada? Elas claramente estão ligadas a atividades sexuais. Ontem eu vi tudo quando fomos colocar a sunga pra ir na piscina.
Meu pai ficou pensando.
— Que estranho... — comentou ele. — Mas tente conversar com ele. Você não pode simplesmente ir e acusar o padrasto dele de abuso, sendo que não há prova nenhuma de que isso está de fato ocorrendo. Imagine que absurdo! Nós nunca nem vimos esse cara.
— Mas eu sei o suficiente a respeito dele para imaginar isso... O David me disse que ele não trabalha, vive bêbado e toma todo o dinheiro da esposa. As brigas entre os dois estão se tornando infernais... eles não dormem juntos mais... O cara tem dormido no quarto do David, aliás, e isso me preocupa bastante. Será que essa situação não me dá motivo o suficiente pra que eu levante uma suspeita grave acerca de um possível abuso do meu amigo?
— Filho... eu não quero que você se meta nisso. É melhor eu mesmo tentar resolver essa situação.
— Como, pai? O que você pretende fazer?
— Eu vou lá falar com ele.
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EROS
NouvellesPablo e Tiago se falam pela primeira vez: a semente é jogada. Na sexta conversa ela afunda na terra. Lentamente, regada pelas gotas de uma chuva fraca, a intimidade entre eles brota no jardim, cresce com timidez. Eles cuidam juntos da pequena roseir...