Ele e Eu (Parte 9)

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IX

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IX

No meu último dia de curso a gente não foi direto pro ponto: quando saímos da escola, fomos andando sem pressa pela rua de cima. Paramos num barzinho; eu pedi um litrão e azeitona de tira-gosto; ele não quis nada. Sentamos a uma mesinha típica de boteco, dessas dobráveis, metálicas e pintadas de branco, com cadeiras que têm logo de cerveja na parte de trás do encosto. Uma mulher veio trazendo o pratinho com azeitonas e um copo, depois trouxe a garrafa e outro copo. Eu falei: "ele não bebe, pode levar esse". A mulher já ia estendendo a mão pra pegar o copo de volta quando o Tiago disse: "Não. Deixa ele aí." Ela abriu a garrafa e se afastou.

— Então quer dizer que o senhor hoje vai beber comigo? — Fiz uma cara de quem tava impressionado.

— Quem sabe? — Ele me olhava quase que com desafio.

Enchi meu copo.

— Quando quiser que eu encha o seu, é só falar.

— Tá.

A gente ficou se olhando. Eu bebericava a cerveja. A gente continuava se olhando: fixo: assim, olho no olho. Ele pegou um palito, espetou uma azeitona, pôs na boca. Terminou de mastigar e disse:

— E agora?

— E agora o quê?

— E agora como é que a gente fica?

Tentei rir porque pensei que era piada. Quando vi que não, peguei com a mão uma azeitona e comi também, mais pra disfarçar o constrangimento. Falei pra ele:

— A amizade não precisa acabar junto com o curso. Quanto tempo de aula você tem ainda? Um? Dois meses?

— Três semanas.

— Então, você pode dar uma passada lá em casa todo dia depois de sair. Nem que seja pra ficar só uma ou duas horas. Depois eu te ponho num táxi, sei lá. A gente dá um jeito de continuar convivendo.

— Mas e depois?

— Depois a gente continua se falando normal. Não tô entendendo sua preocupação.

Dei uma boa golada na cerveja: na verdade eu entendia aquela preocupação. Ficamos quietos por um tempo, só que dessa vez tava cada um tava olhando pra uma direção. Apontei pro outro lado da rua, onde se via uma tela de alambrado que dava pra uma área restrita. Perguntei:

— Você já leu aquela placa ali?

Sem muito interesse, ele mirou a pequena placa que eu tava indicando e disse que não. Continuei:

— Um dia teve escrito nela "alta tensão", mas algum mané arrancou o adesivo que era a letra "N". Não consigo passar por aquele lado da rua sem rir do perigo de alta tesão.

Um vestígio de humor surgiu no rosto dele e isso me fez sorrir. Voltei a encher meu copo. O Tiago espetou outra azeitona e ficou brincando com ela no prato. Sem me olhar, foi falando:

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