David (Parte 1)

9 0 0
                                    

Eu disse ao meu filho que sairia com uns amigos, mas não era verdade

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu disse ao meu filho que sairia com uns amigos, mas não era verdade. Eu fui sozinho a um bar gay. Foi a primeira vez que eu saí sozinho. Eu cheguei lá, pedi uma cerveja e esperei. Quando a cerveja chegou eu bebi bem devagar porque eu não sabia direito o que fazer quando ela acabasse. Se eu pedisse mais uma, logo começaria a ter que ir ao banheiro toda hora e eu detesto isso. Sem contar que eu ia começar a ficar bêbado também. Então eu fiquei ali bebericando de leve e fingindo que eu estava me sentindo perfeitamente à vontade com aquela situação. Era impossível prestar a atenção nas músicas, nas pessoas ao redor, em qualquer coisa que estivesse além da minha garrafa, do meu copo, da borda da mesa feita de tábuas de madeira envernizada. Eu estava tão nervoso e arrependido de ter ido àquele local... mas agora não havia mais escapatória. Eu não podia simplesmente me levantar e ir, afinal, não tinha nem meia hora desde que eu chegara.

Eu estava sendo observado. Não. Com certeza não. Eu só estava finalmente conseguindo olhar para alguém, e esse alguém olhava para mim porque não havia outra alternativa. Nem estava tão cheio assim, e eu estava ali, olhando pra ele, encarando seu rosto... o que mais ele poderia fazer a não ser retribuir o olhar? Nunca que alguém desse naipe olharia para mim, e eu chegava a ter vergonha de desejá-lo. Pra começar, o cara devia ter a idade do meu filho. Tinha no máximo dezenove anos. Como se não bastasse isso, ele tinha aquela aparência padronizada de ídolo pop, ator teen, esse tipo de gente. E por mais que eu também tenha sido considerado muito bonito quando jovem, tenho plena consciência de que hoje em dia carrego em meu rosto e corpo apenas uma sombra, uma lembrança vaga dessa beleza. Embora eu me esforce para me manter em forma com exercícios quase diários, jamais poderia equiparar meu físico ao de um garoto. Tenho idade para ser o pai dele, provavelmente, e imagino que esse fato já seja o bastante para afastar alguém que tem tudo para ser tão cheio de si. Porque além de belo ele era carismático: dava para notar isso só pelo jeito como ele se comunicava com os outros membros do grupo de playboyzinhos com o qual ele desfrutava aquele momento de descontração. Dava para ver em seu olhar, dava para perceber em seus gestos, toda a autoconfiança que, não surpreendentemente, ele ostentava. De pé e tão à vontade ali num canto, com as costas recostadas à parede de tijolos aparentes que davam um certo charme rústico ao bar, ele bebia Heineken direto da garrafa e de vez em quando me olhava e então voltava a falar alegremente, dirigindo-se a outros rapazes de aspecto quase que igualmente deslumbrante.

Eu fiquei ali me imaginando num cenário ideal, num universo paralelo onde eu teria coragem de tomar uma atitude antes de ir embora para sempre daquele bar. E se ele tivesse um fetiche por homens mais velhos? Eu já ouvi falar de coisas desse tipo. Alguns rapazes, por terem sido abandonados pelo próprio pai, acabam se sentindo atraídos por homens que poderiam preencher o vazio deixado pelo genitor negligente. Seria esse o caso? Ou estaria ele só brincando comigo? Estaria ele rindo de mim com os amigos? E se ele estivesse lá agora mesmo comentando a respeito do quão absurda era a esperança que aquele esquisitão ali naquela mesa estava visivelmente criando? Sim, porque eu não conseguia parar de olhar em sua direção. A cerveja esquentava na garrafa, no copo, e eu ali completamente tragado pelos olhos castanhos dele. Eu, frágil e inseguro, completamente hipnotizado, refém de um jovem qualquer que só queria se divertir às minhas custas. Esses pensamentos aflitivos quase me fizeram ter coragem de sair sem nem pagar a conta. Eu não voltaria de qualquer jeito, então que diferença faz? Talvez o garçom nem notasse a minha ausência. Insignificante, quieto, lá eu estava... esperando, esperando, sem saber pelo que exatamente. O rapaz definitivamente me olhava. Agora não restava dúvidas disso. Ele estava rindo. Seus dentes brancos eram tão bem alinhados e tão perfeitos. A pele castanha clara. O cabelo liso, penteado para o lado esquerdo. A laterais da cabeça raspadas. Agora era moda esse tipo de corte militar. O nariz talvez fosse o que ele tinha de melhor em todo o rosto. Não era difícil de imaginar alguém pegando uma foto desse cara para mostrar a um cirurgião plástico, dizendo: eu desejo ter esse nariz. Esse é o nariz mais bonito que eu já vi em toda a minha vida.

EROSOnde histórias criam vida. Descubra agora