David (Parte 10)

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Por que ela colocou esse "d" inútil no final do meu nome? Essa mulher sobre quem eu sei tão pouco colocou o meu nome de "David", mas decidiu que a pronúncia seria simplesmente "Davi"

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Por que ela colocou esse "d" inútil no final do meu nome? Essa mulher sobre quem eu sei tão pouco colocou o meu nome de "David", mas decidiu que a pronúncia seria simplesmente "Davi". O que se passou na cabeça dela? Por que ela foi embora e me entregou a essa megera a quem eu não chamo mais de mãe desde que eu tinha treze anos? Acho que foi nessa época que eu descobri que eu jamais havia sido amado. A mulher que me gerou havia me abandonado; a outra, essa dondoca vulgar, fútil e convencida que só me adotou por conta de um capricho, por conta de uma vontade passageira de ser mãe, esse ser desprezível me negligenciou e me maltratou desde que eu era novo demais para entender o que significava a palavra "negligenciar". Ela fechava as portas quando eu chamava por ela. Porta atrás de porta. Eu ficava trancado para fora em algum lugar, eu gritava, eu berrava: "mamãe! Mamãe!" E ela virava as chaves nas fechaduras, assustada, ela também abandonada por um homem qualquer, com quem um dia sonhou em construir uma família, e eu ali me esgoelando, eu parte desse sonho despedaçado, dessa ilusão sem sentido e vã. Eu com aquele "d" inútil pesando sobre meu nome como um fardo, sem entender por que haviam decidido me chamar simplesmente de "Davi", abandonando aquele detalhe que poderia me transformar num "Dêividi", numa outra pessoa quem sabe diferente e mais feliz e amada? Amor é algo que eu nunca conheci. Eu nem sei se isso existe, na verdade. E se todos ao meu redor estiverem fingindo que amam uns aos outros? Talvez seja assim. Talvez por ser conveniente as pessoas chamem umas às outras de "baby", "meu bem", "querido", e por aí vai. Quando penso dessa forma, me sinto menos miserável, me sinto menos mendigo de afeto e de afeição. Eu gostaria tanto que alguém fosse sincero ao me chamar de "amor". As pessoas que fazem isso normalmente me batem depois. Meu corpo está cheio de marcas. Sou arranhado, sugado, mordido, chupado. Eu nasci pra ser tratado feito um caqui, pelo visto. Doce, suculento... Os olhares que eu atraio definitivamente não são olhares que me transmitem estima. Eu costumava sentir prazer ao me olhar no espelho quando era alguns anos mais jovem. Hoje em dia eu olho e sinto uma pontada de aflição, até mesmo um medo. A perfeição do meu rosto me torna um alvo sempre vulnerável. Se eu tivesse feições banais ou até mesmo feias, aposto que eu seria muito mais feliz. Na escola os outros olham para mim com temor ou com adoração. Meu namorado me observa obsessivamente. Às vezes eu finjo dormir e, com os olhos só o mínimo possível entreabertos, eu espio o rosto dele ao meu lado na cama, só pra ter de novo aquela paradoxal sensação ­— que sempre comparo ao estranho prazer masoquista que sinto ao cutucar com a língua um dente dolorido — só pra ter aquela paradoxal sensação de exultada ânsia ao me deparar com seu semblante vidrado, ansioso, alerta; seu rosto estranho me observando, gravando os detalhes do desenho dos meus lábios, do meu nariz. As pessoas no geral têm uma obsessão pelo formato do meu nariz. Eu fico imaginando até que ponto eles poderiam ir para poderem arrancar essa vantagem de mim, uma vez que até mesmo com uma cirurgia plástica seria difícil para eles obterem um resultado que os tornassem meus rivais nesse aspecto. Não sei como ainda não tentaram me dar um soco bem no meio do rosto. Eu já apanhei diversas vezes, porém até hoje nunca colocaram em prática esse plano simples que sempre esteve presente em meu imaginário. O jeito que algumas mulheres me olham, principalmente mulheres mais velhas, costuma me deixar enojado de verdade. Elas deveriam ter vergonha de encararem de forma tão insistente um mero adolescente como eu — tudo bem que agora eu já tenho dezoito; isso, no entanto, acontece desde que eu tinha catorze anos. Os homens me olham desde os doze. Assim que entendi o que aquelas estranhas expressões significavam, deixei de brincar na rua com os "amigos" ­— aqui eu gostaria de deixar claro que essas aspas não carregam nenhuma conotação sexual; a intenção é apenas explicitar o fato de que jamais considerei alguém como amigo, visto que por alguma razão todos acabam se irritando com minha presença cedo ou tarde, e então se afastam de mim após me dirigirem uma série de xingamentos ou atos violentos mais ou menos leves. Às vezes fico me perguntando: se sou uma pessoa boa, por que sofro tanto? Se pareço com um anjo, por que as pessoas tendem a me agredir, ao invés de me dar carinho? Eu gostaria de ter relações tranquilas; todavia, ao que tudo indica, parece que fui destinado a estar no olho do furacão. Esses pensamentos flutuam comigo na piscina. O sol arde em cima de mim. É um dia lindo. Uma manhã profundamente azul. A minha sunga também é azul, e parece que o meu padrasto está me olhando da janela do quarto dele. Eu aqui tranquilo boiando e ele lá pensando que está escondido atrás daquela persiana inútil. O prazer que eu sentia de repente se esvai, e eu decido sair da piscina e me secar. Não. Melhor deixar o sol me secar. Minutos depois aquele crápula se junta a mim e ocupa uma das cadeiras-de-sol de plástico branco em torno da nossa longa piscina oblonga. Ele está de sunga vermelha e fica lá deitado, tomando sol, e finge que eu não estou ali. O que será que ele espera que eu faça? Por que ele mesmo não toma uma atitude? Eu mudo de ideia, assim, do nada, e decido tirar a sunga e terminar de me secar com a toalha mesmo. Ele fica olhando a minha bunda que está mais clara que o resto do corpo, já que eu tomei bastante sol esta manhã. Esse pervertido desgraçado agora está de pau duro e vem conversar comigo. Eu deixo ele falar, acrescento uma ou outra observação para que ele possa sempre continuar a conversa, porque eu acho interessante essa situação de estarmos eu e ele conversando e ele explicitamente com a benga armada bem ali na minha frente, faz parecer que ele colocou um pepino dentro da sunga, apontado pra frente, pra mim, que falo com certa inocência, como se não estivesse entendendo nada, e ele vasculha o meu corpo de cima a baixo, de baixo a cima, e de repente ele abaixa a sunga até a metade da coxa e vai em frente falando e falando como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, ele com a piroca apontando bem na minha direção, a sunga ali abaixada até quase a altura dos joelhos, e aquela conversa sem sentido sobre o que mesmo? Nem eu sei mais. Até o meu pau começou a ficar duro também, o que me deixou vermelho e morrendo de vergonha. Por que isso está acontecendo? Não sei. Essa situação não me excita de verdade, mas meu pênis parece que tem vida própria e agora está bem duro e eu falando de business com meu padrasto, sobre carros e aviões, e de repente ele me dá um beijo apaixonado e eu afasto ele de mim e continuo o assunto como se aquilo nem tivesse acontecido e quando vou ver minha mão está na rola dura dele e ele finge que nem percebeu nada e fala do preço da gasolina, que está um absurdo e também do IPVA do Astra, ou do Corolla, eu já nem sei eu tô com a mão na pica dele e ele de novo me beija como se a gente fosse um casal de cinema e eu afasto ele porque eu detesto isso! A gente é enteado e padrasto, eca, que nojo fazer essas coisas, é melhor eu entrar pra dentro de casa. Ele tira a sunga toda e vem atrás de mim e eu tenho que andar mais rápido e correr, correr em volta do sofá com ele, rindo e ele rindo também, a gente sobe as escadas, e gotas de água de piscina se espalham pelo chão da casa e a gente entra no quarto que ele divide com a minha mãe e eu subo na cama e desço da cama e ele me perseguindo até me encurralar contra a persiana inútil da janela, contra a quina do cômodo onde ele fica lambendo meu pescoço e passando a mão no meu piru, na minha bunda, eu consigo escapar dele e saio correndo pro banheiro, pra me trancar lá dentro, mas ele consegue me vencer na disputa de força e entra antes que eu consiga bater a porta bem na cara dele, então o único lugar que me resta é o box de vidro onde eu pretendo me fechar e ficar a salvo e tranquilo, mas ele outra vez me vence e abre a porta de vidro do box e agora estamos eu e ele pingando suor e água de piscina dentro daquele box apertado, o pau duro dele pressionado contra a minha barriga e o meu passando embaixo das bolas dele, encaixado ali no vão das pernas dele, a parte de cima da minha pica fazendo força contra o períneo dele. Outra vez aquele maçante beijo de novela, aqueles carinhos cansativos de lambe pescoço e lambe orelha e beija isso e beija aquilo, eca! Eu dou um tapa nele, pra tentar afastá-lo de vez, e sou retribuído com outro tapa bem no meio da cara, e com gritos e xingamentos como sempre, e quando vejo ele está me esbofeteando uma pá de vezes, um tapa atrás do outro, de leve, na minha cara que fica cada vez mais ardida, aí ele cospe na minha cara, liga o chuveiro para limpar o cuspe, então me bate na cara de novo e cospe de novo na minha cara e então enfia a minha cara embaixo da água pra limpar aquele cuspe nojento e ele vai repetindo isso incansavelmente e quando eu vejo o dedo dele está entrando bem no meu cu e eu grito e ele me bate outra vez e eu começo a gemer em agonia, doido pra me libertar daquilo, mas não é bem assim que as coisas funcionam. Eu começo a falar: "para, eu não quero isso", e essas palavras acendem um brilho raivoso no olhar sombrio que ele me dirige por razões que eu desconheço completamente... Se eu sou um rapaz do bem, por que ele olha assim pra mim? Agora ele tem as mãos em torno do meu pescoço. Eu tenho certeza de que o desejo dele é tirar a minha vida de uma vez, e assim que eu penso nisso, ele, que leu meus pensamentos, começou a brincar de me afogar no chuveiro. Ele posicionava meu rosto de modo a deixá-lo ali embaixo d'água até eu começar a engasgar com aquela água. Quando ele via que eu estava me debatendo a sério, suas mãos me seguravam com um pouco menos de força e eu respirava profundamente e outra vez a tortura começava. Uma hora eu cansei e me sentei no chão do box de cabeça baixa. Á água batia forte contra o meu cocuruto e eu, humilhado e já sem sentir excitação alguma, tinha que lidar com uma piça sendo passada no meu cabelo, testa, globos oculares, bochecha. Uma hora ele cansou de brincar e me fez fazer sexo oral dele. Como ele tem uma bunda grande e até razoavelmente musculosa, eu me aproveitei da situação e enfiei o meu dedo no cu dele, e isso fez o meu pau ficar duro de novo, embora eu tenha levado uns tapas na cabeça por conta da insolência. Por fim, eu fiquei implorando pra ele deixar eu fazer um cunete nele e tive meu pedido atendido. Ele apoiou uma mão no vidro do box e a outra na parede coberta de azulejos verde-claros. Estava de costas pra mim, as pernas dele ligeiramente afastadas uma da outra, a bunda grande empinada só um pouquinho, para que o ato ferisse o mínimo possível o seu orgulho de macho, eu ali agachado, chupando o cu dele e apalpando suas nádegas como sempre sonhei em fazer, meu pau bamboleando e babando, a água caindo em cima da gente numa torrente quente, minha língua contornando o ânus dele, penetrando-o, meus lábios dando um beijo apaixonado naquele cu peludo e salgado de macho. Eu via que ele estava tocando uma punheta. Ele gozou rápido, mas isso não fez com que eu parasse logo. Depois eu vi que tinha esperma escorrendo pelo vidro do box. Eu mesmo que limpei, assim que terminei de comer o cu do meu padrasto e gozar quente e gostoso dentro dele. Eu nunca pensei que um homem tão grande e parrudo pudesse gemer igual a uma putinha de esquina, mas foi exatamente isso que aconteceu. Depois da foda era eu quem estava dando tapas na cara dele. Fiz questão de dar uma cuspida também. E ele me olhou com inocência. Ele sorriu que nem uma bichinha, e por conta disso levou um tapa extra para largar de ser otário. A gente se secou e saiu do banheiro com toalhas amarradas na cintura, só para nos depararmos com a minha mãe à nossa espera no quarto contíguo. Ela me atacou como se fosse um bicho. O marido dela ficou olhando e rindo, com certeza de nervosismo, porque os olhos dele transmitiam pânico, não divertimento, e é só por isso que eu me permiti guardar por ele ainda um pingo de consideração. Quando consegui me desviar dela e das unhas postiças que ela quebrava em minha carne, arrancando sangue, dei um jeito de me trancar no meu quarto e ali eu desabei no chão, esbaforido, tentando processar o que se passara. Minutos depois, tendo consciência do quão louca pode ser essa mulher, eu me vesti e fugi pela janela. Eu pulei o muro porque tinha me esquecido de pegar a chave do portão. Eu corri, corri, corri dela. Eu não sei o quanto ela teria me ferido se tivesse tido a chance de fazer comigo tudo o que gostaria. Quando dei por mim, eu estava na casa do meu namorado. Lá ele me ajudou a fazer curativos enquanto eu explicava que outra vez eu tinha sido abusado pelo meu padrasto. Ele me fez contar a situação em detalhes. Já conhecendo como meu namorado funcionava, eu erotizei a história inventada o máximo possível, e logo nós estávamos transando ali dentro do quarto. Mais tarde, após o jantar, eu fui para o quarto do pai dele, como de costume, e pedi praquele troglodita me bater até me matar, já que eu tinha saturado de viver, eu tinha saturado de tudo. Para que eu acabasse logo com aquele drama inútil, ele começou a tocar minhas partes íntimas, tirou a minha roupa e começou a distribuir chupões em certos pontos estratégicos do meu corpo onde ele poderia me marcar de forma a me causar constrangimento futuro, pois ele sabe o quanto a vergonha me excita, ele sabe o quanto eu amo ter de inventar contos mirabolantes para o filho dele. E naquela noite, enquanto a gente metia eu fiz questão de gemer um pouco mais alto, porque, na verdade, eu no fundo tinha cansado de ficar tendo que criar aquelas narrativas... ou talvez eu só quisesse mesmo aumentar o risco, aumentar o perigo, e ele me bateu de verdade por isso. Ele disse: "Assim, não, David! Você sabe que, se meu filho ouvir alguma coisa, ele nunca mais falará comigo! Trate de se controlar". Como se ele fosse capaz de resistir ao meu descontrole... Primeiro, eu fingi que iria colaborar e continuei a dar pra ele sem fazer qualquer barulho. Eu estava de bruços, ele em cima de mim, e o meu pau roçando contra o lençol até que uma hora eu finalmente ejaculei e emiti um som agudo indefinido. Ele me pegou forte pelos cabelos e sussurrou: "cala a boca, seu filho de uma puta!" Continuei ali parado, de olhos fechados, esperando ele terminar o que fazia. Quando esse momento enfim chegou, ele me deu um esporro aos sussurros, dizendo que eu estava avacalhando com tudo. Eu falei:

— Tô com fome.

Ao que ele respondeu, ríspido:

— Foda-se!

— Você não pode falar assim comigo.

— Por que não? Você é um vacilão do caralho. Você sabe o quanto o meu filho é importante pra mim.

— Mas eu também deveria ser importante pra você.

— Você é só um depósito de porra. Mais nada. Agora vai lá. Volta pro quarto dele. Não quero olhar mais pra sua cara.

Eu respirei fundo e disse:

— Eu tenho algo pra te contar.

— Tem merda nenhuma, moleque. Não quero saber das suas mentiras.

— Você uma vez me contou sobre uma determinada mulher... uma tal de Laura... você lembra? Você disse que ela se parecia comigo.

De repente ele ficou pálido. Aquilo me animou. Do nada, agora com raiva, ele sussurrou grosseiramente assim:

— Toma muito cuidado antes de inventar qualquer mentira envolvendo a Laura, seu merdinha.

— E se ela for minha mãe verdadeira? E se eu também for seu filho?

Perdendo totalmente o controle, ele começou a me bater, pra valer dessa vez, e eu jurava que ele uma hora iria querer socar o meu nariz, pra tirar de mim o meu bem mais precioso, mas antes que ele fizesse isso eu saí correndo do quarto, involuntariamente gritando, e ele me perseguindo pelado pelo corredor, tentando de qualquer jeito me pegar. Eu bati em alguma coisa, gritei ainda mais alto de dor, e quando eu vi estávamos no chão de tábuas de madeira envernizada, ele me puxando pelo pé, eu tentando me desvencilhar dele, o luar gelado entrando por uma janela ampla e nos deixando fantasmagóricos, espíritos pelados à luz da lua, e de súbito o filho dele estava lá entre nós: não sei como: não sei de onde veio, ele de repente estava lá, tentando separar a briga que já não era mais briga, porque quando eu percebi eu e o pai do meu namorado estávamos na verdade no chão abraçados, excitados, tocando um ao outro de um jeito um tanto íntimo, e meu namorado em frenesi — que na verdade estava querendo começar uma briga, não terminar uma — batia em mim e batia no próprio pai, e este o olhava abobalhado, e foi recuando e se afastando, com medo do filho. Eu escapei para a escada, para a porta da sala que dava para o jardim, para o portão que dava para a rua e lá eu estava, nu ao luar. Laura. É claro que a história da Laura era uma história inventada. Porque, sim, eu tive essa suspeita, mas eu encontrei a tal Laura nas redes sociais, em busca de uma mãe de verdade, só para descobrir que ela tinha falecido poucos dias antes de eu nascer. Isso não me impediu de fantasiar que eu era seu filho, e que eu tinha conquistado o amor do meu próprio pai.

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