Ele e Eu (Partes 3 e 4)

132 13 1
                                    


III

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

III

Foi na nona conversa que eu contei que era bi. Eu tinha tentando contar antes. Dei a entender na conversa 4, na conversa 7, só que não sei se fui obscuro demais ou se ele fazia mesmo um esforço pra não captar o que eu tava insinuando, pra ignorar esse lado meu que ele queria que não existisse. Era isso que a expressão dele dizia pra mim. Uma expressão de choque que por trás tava cheia de medo e curiosidade e negação. Ele dizia: não! você não! E eu disse sim, que eu sou sim, e contei pra ele dos carinhas da festa que eu já tinha ficado. Oito no total. Nove com aquele ali (eu apontei), o de camisa quadriculada dançando animadinho na outra beira da piscina, a piscina de onde vinha uma claridade verde meio azulada, uma claridade que deixava a gente com cara de fantasma. Ele ficou olhando praquele rapaz que eu apontei, o olho cheio de incredulidade. Falou assim:

— Mas e a (disse o nome da minha namorada)?

Respondi:

— Ela sabe.

Ele balançou a cabeça. Tinha uma ruga entre as sobrancelhas dele. Aquela descrença brilhando no olho ainda. A DJ passou de uma música animada pra uma música calma. Uma música que parecia que queria acompanhar o ritmo ondulante da luz da piscina. Eu perguntei:

— Você não liga de dormir no quarto da minha mãe, né?

Ele olhou pra mim. A cara de quem tá pensando num monte de coisa. Eu disse:

— Foi mal não ter te contado antes. Eu sei que é um pouco esquisito vir com esse assunto agora, logo hoje que você veio dormir aqui em casa. Se você tiver algum problema com isso eu posso te levar embora...

— Não! Que isso, cara.

— Eu quis te contar antes.

— Tá tudo bem.

— Sei que é bobeira minha, mas por causa da sua religião... Sei lá, fiquei com um pouco de medo.

Ele continuou pensando. Abriu um sorriso que sumiu rápido. Depois perguntou se eu me vestia de mulher. Eu disse que não. Entornei o que faltava da minha Budweiser e levantei. Ele levantou também (a gente tava sentado numa das cadeiras de sol), me seguiu e eu percebi que ele queria dizer alguma coisa, só tava faltando coragem. Essa coragem só veio quando a gente já tava lá dentro de casa, na cozinha, eu mexendo no freezer pra descer com umas cervejas quase congeladas pra geladeira. Perguntei se ele queria uma, interrompendo o que ele vinha ensaiando pra dizer. Ele fez que não. Pareceu desistir momentaneamente de falar o que tava pensando. Eu tava procurando o abridor numa gaveta quando ele por fim fez aquela confissão, todo tímido:

— Tô meio assim de dormir no quarto da sua mãe.

— Relaxa. Ela só volta depois de amanhã. — Eu revirando garfos, colheres: nada.

— Sei lá, nem conheço ela.

— É por isso mesmo que você tá com medo. Se conhecesse, duvido!

— Ah, é? — Com o rabo do olho vi ele meio que se abraçando. Tava um pouco frio. — Que tipo de pessoa ela é?

EROSOnde histórias criam vida. Descubra agora