Ele e Eu (Partes 1 e 2)

234 20 2
                                    

I

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

I

A primeira vez que a gente se falou foi assim: eu tava sentado num banco bem lá da frente no ônibus, justamente pra ficar longe dele, só que ele veio, sentou do meu lado e disse:

— Oi.

Fiquei com vergonha. Não tenho pele clara, mas tem gente que diz que dá pra ver quando eu fico vermelho (deve ser algo mais prum vinho que vermelho). Respondi com um "e aí?".

— Só a gente hoje, né? — ele comentou e eu disse que pois é, tava vazio o ônibus. Era o motorista e a gente. Primeira vez que acontecia isso. Geralmente tinha uns dois ou três além de eu e ele.

Fiquei esperando ele comentar alguma coisa. Só que ele não comentou. Talvez ele nem tivesse visto que eu tinha tentado tirar uma foto dele no ponto de ônibus. Mas como é que podia não ter visto? Tava só a gente no ponto também. Tudo bem que ele tava de costas, mas e o flash? Impossível ele não ter visto o flash. Vai ver ele até viu o flash, só que pode ser que pensou que não era com ele. Que eu talvez tava tirando uma foto daquela paisagem ali. A rua deserta, os postes de luz amarela. O gramadinho, o meio-fio em volta dele, a árvore no meio do gramadinho. E pra lá da rua aquela construção e um pedaço da escola. Posso ter tentado tirar uma foto disso tudo e ter deixado o flash ligado por descuido. Mas ele não parecia do tipo que via beleza nessas paisagens sem graça. Ele parecia uma pessoa simples e geralmente as pessoas simples ignoram a beleza das coisas simples. Nunca que ia passar pela cabeça dele um troço desse. Não faz sentido, ele sabe que eu tava tirando foto dele, mais precisamente do corpo dele de costas. Vai ver outras pessoas também já se impressionaram com a visão do corpo dele de costas e já tentaram tirar foto. Não devo ter sido o único. A visão do corpo dele de costas é bonita demais. Tem um atributo chamativo demais. Eu tava enviando a foto pra uma amiga no Whatsapp, que besteira. Eu me senti ridículo e achei bem feito. Não acharia legal que fizessem isso comigo. Só me dei conta disso depois, quando a foto já tava carregando na tela da conversa dessa minha amiga. Ele agora já tinha virado pra frente, e eu também tava virado pra frente e vermelho e pensando. Vermelho vinho tinto.

— Você é de que curso mesmo? — ele perguntou e eu falei de que curso eu era, e ele falou o dele. E a gente ficou um tempo conversando dos nossos cursos. Eu fiquei pensando que ele devia ter a mesma idade que eu. Chutava uns 21 ou 22. Depois eu fiquei imaginando como devia ser a cor do rosto dele quando ele tava com vergonha. Porque aí eu podia ter uma noção de como ficava meu próprio rosto, já que nossa cor de pele era aproximada. Ele era um tom mais escuro que areia; eu era um tom mais claro que terra. Só que ele tinha cabelo liso. Nós dois temos lábios finos. O meu nariz é pontudo enquanto o dele, não. O meu olho é claro e o dele é escuro. Eu sou magro e forte. Ele é forte, mas não é magro. Dá pra ver que ele tem uma barriguinha quando tá sentado. Quando tá de pé até que disfarça bem. Eu pensei que se ele emagrece talvez já não seria mais tão interessante olhado de costas. E essas coisas passavam na minha cabeça enquanto ele falava já de outro assunto que não tinha muito a ver com o que a gente tava falando antes. Eu fiz: uhum. Sem saber direito com o que eu tava concordando. A conversa acabou aí. Mais pra frente o ônibus parou. Eu dei tchau e desci no meu ponto.

II

Na sexta vez que a gente conversou, estávamos deitados um em cada rede da varanda da minha casa. Tarde quente e alaranjada. A empregada lavando o jardim. Ele disse:

— Você já namorou uma japonesa?

Eu achei graça e falei:

— Por que você tá perguntando isso?

— Porque eu nunca namorei, mas tenho vontade.

— Não — eu respondi pra ele. — Também nunca namorei.

Dei uma tragada no cigarro e ele ficou olhando. Soprei fumaça e fiquei olhando pra ele. A próxima pergunta foi:

— Quantas você namorou antes dessa sua atual?

— Cinco ou seis.

— Nossa: cinco ou seis?!

Balancei minha cabeça afirmando e quis saber:

— E você?

— Duas.

— Elas também eram da igreja?

Ele fez que sim. Eu sorri e falei assim:

— Então tem chances de você ser virgem. — Eu sabia que ele ia ficar com vergonha, e pra mim a cor do rosto dele nem mudou (ou talvez seja porque eu tava sem óculos).

Olá, leitor querido! Espero que tenha gostado das duas primeira partes do conto. Pretendo postar as próximas em breve, talvez ainda essa semana. Muito obrigado pela leitura!

EROSOnde histórias criam vida. Descubra agora