Ele e Eu (Partes 5 e 6)

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V

Contei dele pra minha mãe num dia que eu e ela fomos dar uma volta no Sider Shopping. A gente tinha acabado de lanchar e tava dando uma olhada numas lojas do segundo piso. Fui dizendo assim:

— ...ele acha que eu faço tanta coisa por ele que vive insistindo que tem que retribuir. Primeiro queria me dar um cachorrinho, mas aí eu falei: minha mãe ia ficar louca.

Ela abriu um sorriso de lado, jogou pra trás do ombro uma mecha de cabelo, sempre tomando cuidado com a unha, e disse que ia mesmo. Continuou olhando as bolsas numa vitrine e eu continuei falando:

— Agora ele quer fazer pra gente um almoço. Disse que cozinha bem pra caramba. Que faz uma feijoada muito boa, só que aí eu disse que ninguém lá em casa come feijoada. Daí ele falou que podia ser uma lasanha e eu: ah, aí sim, minha mãe ama.

Ela pediu a minha opinião a respeito de algum item que tava de olho e eu briguei, dizendo:

— Mãe, presta a atenção no que eu tô falando!

Ela virou pra mim, indignada:

— Mas eu tô prestando! Chama ele. Esse fim de semana eu tô em casa. — Ela virou de novo pra bolsa. — Você acha mais bonita essa ou aquela? — Apontou a outra. Eu apontei a que eu gostava mais.

No carro ela perguntou:

— Onde é que esse rapaz mora?

— Vassouras.

— Nossa, deve ser ruim, né? Todo dia ir e voltar de ônibus.

— Uhum. Tem que ter muita vontade de fazer o curso mesmo.

— Você podia chamar ele pra dormir lá em casa.

— Eu chamei algumas vezes. Ruim que ele começou a trabalhar essa semana: tem que tá em Vassouras cedo: daria no mesmo.

— Ah. — Ela ficou um tempo quieta. O carro avançava pela estrada escura. — E você, filho, tá gostando do curso?

Eu tive que pensar um pouco na resposta. O curso era chato, mas o Tiago tinha se tornado um bom motivo pra eu não faltar. Antes que eu abrisse a boca minha mãe prosseguiu:

— Você não precisa continuar se não quiser. Sei que entrou mais por pressão minha, mas se não tiver gostando, não adianta. Melhor largar.

Fiz um gesto indicando "tanto faz", e disse:

— Agora que comecei vou até o final.

Ficamos em silêncio enquanto o carro descia macio por uma curva, o farol iluminando trechos de asfalto e do mato em volta. O céu era marrom. Os morros eram sombras. Ela perguntou do meu namoro. Respondi:

— Terminei.

— Outra vez? — Ela deixou escapar um risinho.

— Eu não tava feliz com ela.

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