David (Parte 5)

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Tive uma discussão a respeito do David com meu filho durante um banho de piscina

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Tive uma discussão a respeito do David com meu filho durante um banho de piscina. A conversa foi mais ou menos assim:

Eu — Filho, você não acha que esse seu amigo tem vindo demais aqui em casa não?

Ele — E tem algum problema nisso, pai? Eu achei que você gostasse dele...

Eu — Mas eu gosto dele. O David é um rapaz muito bacana, mas fico preocupado com o que os pais dele vão pensar. Será que eles não se incomodam?

Ele — Não, eu acho que não...

Eu — Eu não quero que você pense que estou implicando. Seus amigos serão sempre bem-vindos. É que chega a ser esquisito a quantidade de dias que ele passa aqui. Tem semanas que ele nem vê a família! Não é possível que os pais dele não reclamem, que não queiram entender o que está acontecendo... Eu gostaria de conhecê-los para ficar mais tranquilo.

Ele — Ah, pai, fala sério! A gente não é mais criancinha, né?

Eu — É... você tem razão. Mas você tem certeza que está tudo bem? Ele é tão esquivo quanto a esse assunto. Às vezes sinto que ele está fazendo nossa casa de refúgio.

Ele — É... talvez ele esteja... Só que isso é coisa dele, né, pai? Não é pra gente ficar se metendo.

Eu — Hm... não sei se consigo simplificar essa situação a esse nível. Se ele está fugindo de algo, talvez devêssemos ajudá-lo a lidar com o problema em vez de incentivá-lo a evitar a questão.

Ele — Pai, relaxa. Não tem nada de demais acontecendo. Ele gosta da nossa companhia, só isso. Pelo que eu sei, o padrasto dele é um cuzão. O David vive falando que prefere você um milhão de vezes. Uma vez ele disse que queria que você fosse o pai dele. Olha só!

Eu — Eu fico feliz em saber, filho, e um pouco mais aliviado também.

Mas eu não estava feliz, muito menos aliviado. Eu já sabia o que estava acontecendo entre os dois e isso me feria profundamente. O David tinha decidido simplesmente fingir que nunca tínhamos nos conhecido e agora estava se relacionando com meu próprio filho. Como se não bastasse a dor de tê-lo perdido, agora eu tinha que lidar com os sons que vinham do quarto ao lado durante a noite, os sons dos dois se amando sem qualquer traço de selvageria, animalismo, bestialidade. Os sons de um perfeito e adequado romance adolescente. Eles combinavam e isso doía. Eles se respeitavam e isso era demais pra mim! Será que se amavam? Será que ficavam horas abraçados, trocando carinhos? Será que aos olhos do David eu era um pervertido vil que o havia espancado num beco e nada mais? Teria ele se sentido mal depois de tudo o que eu fiz? Será que tinha nojo de mim? O jeito que ele me olhava... chegava a ser insuportável a frieza com que ele me tratava. O que será que ele sentiu? Aparentemente o que se passava em seu íntimo seria sempre um mistério. Eu o havia perdido... ou ao menos assim pensava naquele dia. Eu jamais esperaria que ele fizesse o que acabou fazendo não muito tempo depois de eu ter sido atormentado por tais devaneios. Antes de entrar nesse assunto, no entanto, preciso relatar outro fato. O David é a cópia de uma mulher que tive na juventude. Seu nome era Laura. É incrível como os dois se parecem. A cor dos olhos, do cabelo, da pele. O formato das orelhas e o jeito de sorrir. Que curioso. Quando o vi pela primeira vez, tive uma estranha sensação de familiaridade, e só depois de um estranho sonho com ela eu fui entender o porquê. Estávamos eu e Laura deitados no jardim de um castelo medieval, de mãos dadas. Eu era jovem e belo. Eu me via de longe, meu espírito observador pairava sobre um lago e olhava o casal: lá estávamos nós em toda a nossa glória, cavaleiro e donzela se despindo e se amando sob a lívida claridade de uma manhã fria. De repente, ela se transformava nele. Laura... David... O sol se refletindo no caramelo dos olhos dela. Dos olhos dele. A pele castanho-clara. O sorriso largo, de dentes diáfanos e de aspecto tão limpo. Aquela mulher perfeita havia me deixado ao descobrir a respeito do meu noivado forçado com a Lívia, a mãe do meu filho — quando esta soube que estava grávida, não houve outra escolha para nós. Eu acordei do sonho e descobri o David ali em meus braços. Suados na madrugada, juntos, ele e eu. Chovia lá fora. Ele inocentemente fingia que dormia. A chuva de repente se tornou uma tempestade e os trovões foram nossos cúmplices, abafando os sons que tentávamos a todo o custo não produzir. Será que meu filho dormia sereno? Será que algum dia suspeitaria do que aconteceu naquela noite sombria e cheia de raios? No dia seguinte, nem um de nós três demonstrou quaisquer sinais de anormalidade em nossos comportamentos. Ao que parecia, estava tudo bem por enquanto.

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