Capítulo XVII

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Meu corpo estremeceu. Os olhos dourados vívidos de Andy foram, de forma regressiva, voltando à coloração normal aos poucos, retornando ao tom acastanhado. Respirando fundo, ela me olhou e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Você é uma princesa. — ela disse baixo, me olhando incrédula.

— Andy, você acabou de acordar de um coma...

— Você é uma princesa! — ela se sentou na cama, incrédula. Seus dedos foram até o nariz e ela se assustou ao ver sangue. Entreguei o pano a ela.

— Eu não sou uma princesa. Não mais. — olhei para os meus próprios pés.

— Você ia voltar à Beaumont? Voltar para a sua verdadeira família... pelos reinos, eu ainda não acredito que tenho uma amiga da realeza! E você estava limpando chão! O que tem na cabeça?

— Eu não ia voltar para lá. — me levantei e comecei a andar pelo quarto. — Porque não deixou que eu a levasse para a sua mãe? Você está desacordada há uma semana, Andy, eu pensei que não fosse mais...

— Eu estou bem. — ela me interrompeu, fechando os olhos e engolindo em seco. — Só estou... com sede.

— Aqui. — busquei um pouco de água na jarra de barro e a entreguei. Ela tomou em um único gole.

— Me perdoe. Não queria ter a assustado. Eu sabia que isso ocorreria.

— Sabia? Não pensou em me contar?

— Eu te contei. — ela suspirou. — Pela metade, pelo menos. Eu completei a idade. Pedi que não me levasse à minha mãe porque ela reconheceria imediatamente a transição. Ela nunca me perdoaria...

— Eu não estou entendendo...

— Há uma escolha. Eu escolhi passar pela transição, assim como o meu pai. — ela olhou para baixo, com os olhos se enchendo de lágrimas. — Ele queria honrar a minha avó e dar continuidade à herança de bruxos da família. Minha mãe tentou convencê-lo a parar, mas ele queria ajudar as pessoas. Ele se tornou médico e usava os poderes para curar os enfermos. A questão é que a magia tem um preço, e a cada vez que ele a usava para casos mais graves sua força se enfraquecia. Minha mãe implorou para que ele parasse, mas ele não escutou e um dia... — a lágrima desceu. — ...um dia o feitiço exigiu muito dele. Ele não suportou.

— Eu sinto muito, Andy...

— Minha mãe não aguentaria descobrir que eu também aceitei o meu destino.

— Se você tinha uma escolha, não era exatamente seu destino. Andy, você pode morrer...você quase morreu!

— Eu não me importo, Vi! — ela disse alto. — Eu também quero ajudar as pessoas. Meu pai gostaria que eu fizesse...

— Não tem como saber o que o seu pai queria. — a frase saiu de mim sem que eu acreditasse. Imediatamente, a lembrança da dor que me acompanhava durante os últimos anos veio com mais força. Porque eu estava questionando Andy? Eu não havia tentado fazer a mesma coisa? Ir ao baile e tentar me comportar por pensar que era isso o que ele queria que eu fizesse...

— Eu sei. Ele cantava para mim à noite dizendo que um dia, faríamos magia juntos. Eu preciso descobrir qual é o meu propósito. — ela se levantou e andou até a minha direção.

Antes que eu impedisse, Andy tocou o meu colar e retirou a mão de vez, como se tivesse sentido algo. Seus olhos se arregalaram e antes que ela pudesse dizer algo, um barulho interrompe.

— Andy! — Tiana apareceu na porta e correu para abraçá-la, com os olhos marejados. — Você acordou, eu estava tão preocupada... eu vou chamar o médico...

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