Capítulo XVI

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O cocheiro fez a carruagem velha e desconfortável dos servos andar até a cidade. Andy parecia nervosa, enxugando o suor sob a testa e olhando o tempo inteiro para as mãos.

Seus cachos loiros estavam presos em uma touca branca bordada e seus lábios quase sangravam devido ao hábito dela de mordê-los. Tentei perguntar como ela estava pela última vez.

— Estou bem, Vi, só ansiosa. Faz tempo que não visito minha mãe. — ela suspirou. — O lado bom é que não perdi meu dinheiro na aposta. Ainda não acredito que o príncipe mandou todas as princesas embora.

— Ele deve ter seus motivos.

— Ele é mesmo um homem honrado. Qualquer outro cavalheiro tiraria vantagem de ter tantas mulheres em volta por um mês inteiro. — ela olhou pela janela e a carruagem parou. — Chegamos.

—  E a história que vocês disseram na cozinha sobre a lady Ava? — desci junto com ela, vendo a cidade lotada e barulhenta.

— Ah, isso não foi agora, foi há muitos anos. Eles eram adolescentes e os beijos no jardim certamente não chegaram aos lábios. Os outros que aumentaram a história. — ela puxou-me pelo braço e começamos a andar. — Sabe o mais engraçado? Houve uma época em que uma condessa espalhou que ele era um libertino. Tudo porque ele havia rejeitado a filha dela.

— Talvez eu tenha ouvido tal história uma vez. — olhei para o céu, me lembrando de um chá há alguns anos, quando falaram o mesmo a Cecília.

— Várzea inteira não parou de falar isso por semanas. A moça tentou beijá-lo e ele a afastou, dizendo que quando ele quisesse beijar uma dama ele mesmo tomaria a iniciativa. Meu rosto queimaria de vergonha se eu estivesse no lugar dela.

— Podemos parar de falar sobre o príncipe Christian, Andy? — tentei focar nas ruas, afastando o rosto dele de meus pensamentos. Vários cavalos passaram, o que me fez pensar onde Romeo estaria. Em boa parte de minha vida, ele fora meu único amigo e confidente. A sensação me trouxe uma tristeza incômoda. — Onde fica a casa de vossa mãe? É mesmo necessário que eu vá?

— Certamente. Não me deixará sozinha. Seu navio só sairá ao fim do dia, temos tempo. — ela sorriu, claramente nervosa.

Continuamos andando pela vila até pararmos em frente a uma casinha simples de adobe. Andy bateu na porta e, em segundos, uma mulher alta com cabelos loiros enormes e olhos castanhos apareceu. Era, sem dúvidas, a versão mais velha de Andeline.

— Filha! — elas se abraçaram, sorrindo mutuamente. — Ah, que pele é essa Andy? Não está usando os produtos naturais que lhe dei?

— Estou, mãe.

— E quem é essa? — ela olhou para mim. — Você não é a Tiana.

— Muito prazer. — sorri de volta e estendi a mão. — Sou a Victória.

— Berenice, mais conhecida como a mãe de Andeline e de mais quatro crias. Deve ser nova no castelo. Seu sotaque não é daqui. — ela se apresentou e abriu a porta. — Vamos, entrem vocês duas. O sol está de matar!

A casa era simples, mas incrivelmente aconchegante. Havia, pelo menos, um vaso de flor em cada pequeno espaço que era possível. As duas conversaram por um longo período de tempo. Andy contou as novidades do palácio e dona Berenice contou as fofocas da vila.

O ambiente cheirava a rosas e, quando entramos na cozinha, um enorme bolo de milho com calda de açúcar ocupava a pequena mesa de madeira. Andy tentou esconder o rosto entre as mãos e sua mãe começou a bater palmas, começando a cantar com ritmo alegre:

Pelos reinos, pelos reinos, através das colinas, o dia está belo, cantemos assim. Entre trevas e luzes, primavera e inverno, o dia está belo, cantemos assim. Felizes estamos por estar aqui. Seu dia é belo, cantemos assim. — ela repetiu o mesmo verso em mais três idiomas distintos. Ajudei a bater palmas, sem saber como cantar uma canção que eu não conhecia. Provavelmente era clássica da cultura de Várzea. — Feliz aniversário, filha!

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