Capítulo XXXVI

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— Violetta! Violetta! — a voz de Andy me chamava. Ouvi um choro alto ao fundo. O borrão branco e sem nitidez que eu enxergava se transformou, aos poucos, em uma face inocente e olhos azuis.

— Vi, fala comigo, por favor. — Duas mãos pequenas e delicadas tocaram o meu rosto.

— Mia? — a reconheci, sentindo minhas pernas mexerem. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.

— Você precisa trazer o Cris de volta!

— O que? — olhei para o lado, percebendo que estava novamente no quarto dele. Como eu havia chegado até ali?

— Eu sei que a dor está tentando te bloquear, mas você precisa ser forte, minha filha. — Bentley apareceu em minha frente, tocando a minha mão.

— Christian! — me levantei, sentindo tudo voltar com força.

Andei em sua direção, vendo o corpo dele ocupar a cama. Ele estava sem camisa, com a enorme cicatriz da espada marcada com uma queimadura. A dor invadiu cada célula do meu corpo, de forma insuportável. Andy estava espalhando violetas, alfazemas e valerianas ao redor dele, recitando frases em uma língua desconhecida.

— Andeline, o que está fazendo? — Odella apareceu, abrindo a boca em choque. — Você... é uma bruxa... será presa...

— Não será. — a rainha disse, segurando a mão de Christian enquanto chorava e balançava o corpo na cadeira ao lado. — Só traga o meu filho de volta.

— As feridas são muito profundas, não sei se irei conseguir. Vi, segure a mão dele. — Andy disse, olhando para a rainha.

— Eu peço perdão por tudo que lhe disse. Não foi justo. — com os olhos inchados, ela estendeu a mão do príncipe para mim.

Senti minhas lágrimas descerem, assentindo para ela. Me ajoelhei no chão ao lado da cama, segurando a mão dele repleta de calos.

— Por favor, volte. — fechei os olhos, ouvindo Andy continuar a recitar as palavras.

Cada momento que passamos juntos, então, voltou em minha mente com força, me fazendo reviver cada sensação. Cada sentimento verdadeiro que foi impedido pela magia.

— Conan, tenha modos com a senhorita. — ele disse se levantando em uma postura perfeita e levando a mão ao rosto. Meu coração palpitou. O lobo fez um barulho como espécie de choro manso, e se deitou sob o chão, como se não tivesse me ameaçado de morte segundos atrás. — Se machucou?

— Não, estou bem.

— Já nos vimos antes? — ele me olhou com os olhos franzidos, e eu paralisei. Seria possível que o feitiço havia falhado e ele estava me reconhecendo?

— Sou serva do castelo, talvez tenhamos nos esbarrado.

— Ah, certamente. Perguntei pois estranhei a falta da reverência. — ele sorriu de lado, pegando a espada que havia caído ao chão. — Creio que és a primeira dama que conheço que não tenha se curvado, por isso, cogitei que talvez fosse uma das princesas convidadas pela minha mãe.

— Oh, eu me esqueci no susto, perdão vossa alteza. — me curvei, me sentindo tola por ter me esquecido disso. Péssima atuação de serva.

— Não, não é necessário. — ele tocou em meu braço, me impedindo de me abaixar.

Todo o meu corpo reagiu ao toque dele.

O choro da rainha ficou mais alto. As palavras de Andy também.

— Está me seguindo? — o olhei frustrada. — Eu disse que não queria companhia!

— Claro que não estou a seguindo, assim como você, senhorita Miller, também estou cavalgando pelo meu próprio castelo. — ele disse, escondendo um meio sorriso.

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