Capítulo XXX

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Quando Jacob desapareceu entre a multidão, uma mão masculina tocou a minha, me convidando a continuar com a dança. Encarei o cavalheiro de porte alto, cabelos escuros e cavanhaque, e me surpreendi por reconhecê-lo como sendo o primo mais velho da princesa Grace.

— Duque Hamilton. — ele se apresentou, se abaixando para beijar a minha mão de forma capciosa. Retirei antes que o fizesse. Ele se recompôs. — Perdão, gostaria de dançar?

— Não, obrigada. Já estava me retirando. — sorri fraco, me virando para sair.

— Uma única música, é o que peço. — o duque insistiu, se pondo em minha frente novamente com a mão estendida. — A dama mais bela do baile não gostaria de se divertir um pouco essa noite?

— Não em vossa companhia. Com licença. — saí da roda do baile, sentindo o olhar pesado do duque sobre mim.

Contrariando o conselho de Andy, andei até a biblioteca. Precisava acabar com tudo de uma vez por todas. Precisava encontrar o livro e descobrir como quebrar a porcaria do colar.
Passei escondido pelos fundos e subi as escadas, puxando uma lamparina do corredor.

A folga dos guardas ajudou bastante durante a passagem, e assim, consegui fechar a porta atrás de mim com êxito. Parei diante das centenas de estantes e respirei.

Poderia estar em qualquer lugar.

Sentindo o ambiente abafado, andei até a grande janela central e a abri, revelando uma lua cheia em início de um eclipse quase inverossímil iluminando o céu.

Sem ter tempo para admirá-la, abri ainda mais as cortinas deixando que o astro brilhasse sob os livros como uma verdadeira pintura. Apoiei meus braços um sobre o outro e olhei de volta para as estantes de madeira.

Andy havia dito que a capa era dourada.
Comecei a procurar. Depois de subir e descer a escada com dificuldade pelo volume do vestido para procurar nas prateleiras do alto, consegui encontrar a capa ao fundo, escondida por detrás de um livro vermelho grosso.

Soprei a capa para afastar a poeira. O título era solitudo, que reconheci ser a palavra solidão em uma língua morta. Era mesmo a continuação da história da rainha Angeline.

"Minha agonia me consome. Que faria eu, se não escrever durante minha tortura?" era a primeira frase do livro.

Pulei para o final, temendo não conseguir ler toda a trajetória de sofrimento que ela enfrentou.

A página estava manchada de sangue.

"Olhei para o veneno, encontrando o meu melhor amigo. Não há outra solução, senão perder a minha própria vida, já que ela não me vale mais. O colar mostrou a minha própria incapacidade de vencê-lo. A minha esperança é encontrar o meu amado do outro lado. O lado em que não haverá mais dor ou pedras malditas. O lado em que seremos só nós, novamente, pela eternidade."

Minha garganta ficou seca. Ela havia morrido.

Não havia solução.

Eu nunca quebraria o feitiço.

Coloquei a lamparina no chão. Meus pés se tornaram duros, como uma árvore. Uma lágrima desceu de meus olhos, sem barulho algum. A afastei de meu rosto quando ouvi passos do corredor.

A porta da biblioteca se abriu, fazendo com que eu me movesse de forma rápida e colocasse o livro de volta ao fundo da estante.
O príncipe entrou, fechando a porta atrás de si e me olhando como se eu fosse a única mulher que ele já havia visto em toda a sua vida.

— Porque está aqui? — ele se aproximou, tocando a minha mão. — Eu estava ansioso para convidá-la para dançar lá embaixo.

— Não pode dançar comigo, Christian. Não sou uma princesa.

Irrefutável SentimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora