Abri a boca prestes a responder não quando percebi que era realmente essa a resposta que ele esperava. Eu era, de fato, uma pedra. Uma pedra que havia percebido, pela primeira vez, que queria estar naquela dança. Uma dança que não era, nem de perto, algo semelhante a qualquer baile.Eu já havia recusado todas as oportunidades que me foram dadas de participar, e não sabia ao certo o motivo. Não havia regras ou normas de etiqueta. A música era alegre e ninguém era guiado a tocar somente as notas corretas. Não havia o cavalheiro certo a quem eu deveria, obrigatoriamente, ceder uma dança.
Havia apenas Victória, uma princesa fugitiva oculta e um príncipe que não parecia se importar com as regras. Desviei o olhar dele e foquei em observar os outros dançarem, pensando em como seria vê-lo entrar em uma coreografia que ele não conhecia.
— Eu disse que talvez eu tenha mudado.
— A palavra talvez é uma confirmação de uma vontade retraída.
— É muito presunçoso se pensa que pensei por dias e noites em dançar com vossa alteza até retrair a minha vontade.
— A vontade seria de dançar, não de dançar especificamente comigo.
— Já disse que não danço.
— Assim como disse que talvez tenha mudado de ideia.
— Não gosto de divergir acerca de minhas opiniões pré definidas. — juntei as mãos frente ao corpo.
— Não seja tão orgulhosa.
— Não sou orgulhosa.
— Prove. — ele arqueou as sobrancelhas, ainda com a mão estendida. Dando um passo à frente, seu olhar me penetrou. — É a sua última noite aqui.
O desafio pareceu fazer cada parte de meu corpo reagir em resposta, como se eu possuísse a necessidade desesperada de provar que não havia orgulho em mim. Ouvindo uma nova música começar a tocar ao fundo e sem retirar os olhos dele, coloquei minha mão sobre a sua. Não apenas pelo desafio.
Suas palavras estavam certas. Era a minha última noite aqui, e eu queria aproveitar. Não sabia como seria no dia seguinte, ou se teria outra oportunidade em Irina de participar de uma dança tão alegre como aquela.
A mão do príncipe era quente. Será que ele estava com febre?
Tentei não pensar nela junto à minha enquanto andávamos até a roda.
Todos gritaram quando entramos, batendo palmas. Os vagalumes permaneciam ao nosso redor, como se estivessem em sua própria dança. Bentley e madame Quinn nos ensinaram os passos e, em segundo, estávamos dançando em pequenos saltos e rodopios.
A minha mão se soltou da dele conforme os casais trocavam. O ar estava fresco e quente, ao mesmo tempo, com um leve cheiro da carne de porco que havia sido assada mais cedo. Senti o vento bagunçar a minha trança e os pequenos fios grudarem de um lado do meu pescoço pelo suor.
Deixando de segurar a barra do vestido para girar, arranquei a pequena amarria do cabelo e o soltei, sentindo o ar entrar por entre os fios.
O príncipe me olhou de forma intensa, enquanto batia palmas junto aos homens. Eles se ajoelharam e as mulheres voltaram aos seus pares, dançando em volta deles. O vi sorrir e acompanhei o ritmo, girando ao seu redor. Sem perceber, sorri também.
Ele se levantou e ergueu a mão, colocando em direção à minha, sem tocar. Giramos olhando um nos olhos do outro, sem precisar ter nada a dizer. Ele parecia sentir o mesmo. O mesmo sentimento de liberdade que nunca lhe fora dado.
Quis contar que eu o entendia. Entendia como era nascer e crescer preso em um castelo, sem poder ter escolhas. Entendia como era bom esquecer quem éramos, mas não seria o certo.
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Irrefutável Sentimento
RomanceSérie irmãs Beaumont- Livro 2 Violetta é a filha do meio das três princesas de Beaumont, sendo considerada a mais desapropriada para se portar diante de qualquer baile da sociedade, e de qualquer outra coisa que a fizesse parecer uma verdadeira prin...