A viagem até Várzea foi longa e exaustiva. O navio me causou ânsia e eu tentei, com afinco, não vomitar durante os quarenta dias que se percorreram. Falhei muitas vezes. Quando chegamos, eu estava com tanta fome que desisti de procurar outro navio para outro reino.Os alimentos que Amice havia preparado já haviam acabado e eu havia dado os últimos pães para algumas crianças do navio que pareciam famintas.
Do porto, peguei Romeo e pedi informações até conseguir chegar à cidade. Os moradores brigavam por alimento e os guardas passavam em meio ao caos sem se darem ao trabalho de fazer alguma coisa.
As ruas eram sujas e cheiravam a cerveja, isto, sem mencionar as moscas e insetos que permeavam as quitandas. Não era nada parecido com a vila de Beaumont.
Comprei uma sopa de verduras que desceu dificilmente em minha garganta, e paguei um espaço pequeno no estábulo para Romeo. Procurei uma estalagem e entrei, sem saber ainda ao certo qual seria o meu destino dali em diante. Meu dinheiro não duraria para sempre.
Me lavei na banheira velha do quarto e troquei o vestido preto, colocando um mais leve em tom Fúcsia. Me sentei na cama empoeirada e rígida, e tranquei a porta de madeira colocando minha adaga debaixo do colchão.
O dono da hospedagem havia sido deveras simpático demais, e eu não era cega ao não perceber que ele havia olhado rápido para o meu corpo de cima a baixo. No dia seguinte eu partiria.
Fecho os olhos tentando adormecer, e falho miseravelmente ao ter meus pensamentos invadidos por Jeffrey.
— As crianças gostam da senhorita. — ele sorriu, me vendo entrar na taverna.
— Eu também gosto delas. — me sento no banco, satisfeita pela primeira interação depois de nos olharmos à distância a semanas. — Tem algo para me servir que não me deixe em uma situação embaraçosa?
— A água de nosso poço é bem segura. — ele me encarou com os belos olhos castanhos, e se escorou sob o balcão. Eu sorri, sentindo meu coração se acelerar. — Prazer em conhece-la, me chamo Jeffrey.
— Victória.
Me repreendo por não conseguir me livrar de minhas próprias recordações ao sentir minha garganta fechada. Eu havia prometido a mim mesma que jamais choraria novamente, e iria cumprir. Mesmo com a raiva, adormeço por boas horas e acordo quando escuto a porta querendo ser aberta. Homem desprezível!
Pego rápido a minha adaga e o meu dinheiro e desço pela janela. Cogito ficar e cortar a garganta daquele ser abominável e desisto assim que o pensamento surge. Eu não podia chamar atenção, e não estava apta a desaparecer com um corpo gordo e nojento com fedor de álcool e coberto de pelos.
Torci para que não houvessem outras donzelas naquele buraco de estabelecimento, e andei até o estábulo a fim de buscar Romeo. Eu já havia tido o suficiente de Várzea para um único dia. Parecia haver um sol para cada pessoa, e definitivamente, tal sensação térmica não me agradava.
O reino de Irina era um bom destino. O clima era fresco, a população cultivava bons costumes e valorizava as camponesas. Eu poderia começar a trabalhar como professora infantil e pagar por uma boa moradia a bons preços.
Era isso. Havia acabado de descobrir meu caminho e iria coloca-lo em ação. Ando puxando Romeo decidida até parar em choque em frente a um tronco e ver um papel pregado ali com letras garrafais:
Princesa Violetta Beaumont desaparecida.
O suor que descia pelo meu corpo começou a surgir também de minhas mãos. Se alguém me descobrisse eu seria obrigada a voltar a Beaumont e teria que me casar. Cecília tentava dizer que jamais me obrigaria a tal ato mas eu sabia. Sabia que se eu não fosse dada ao casamento, Arabella jamais teria uma chance.
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Irrefutável Sentimento
RomanceSérie irmãs Beaumont- Livro 2 Violetta é a filha do meio das três princesas de Beaumont, sendo considerada a mais desapropriada para se portar diante de qualquer baile da sociedade, e de qualquer outra coisa que a fizesse parecer uma verdadeira prin...