CAPÍTULO 21

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Mesmo com a entrega que tivemos, não podemos fugir da realidade por muito tempo. É por isso que temos uma série de coisas para fazer, a primeira delas: ir até a casa do meu pai.

Subimos até o heliporto do prédio para pegarmos o meu helicóptero que estava na cobertura. O caminho até o norte é interessante porque eu tenho uma Eda bem concentrada no ar, o que me faz lembrar que ela não viu nada da viagem quando esteve na minha casa, porque estava desacordada.

— Eu vou te mostrar mais lugares, o norte é lindo.

Eu a digo, porque eu quero que ela conheça cada parte do meu mundo.

Quando chegamos a minha casa, de imediato percebo que há uma movimentação incomum. Homens e carros de pessoas que não trabalhavam para nós estão espalhados por todo o pátio principal...

— Merda — Eda xinga ao meu lado, provavelmente notando o mesmo que eu.

— Os conhece? — pergunto.

— É o meu pai que está aqui.

Ótimo. Me poupa duas viagens e assim levo menos tempo para sair com Eda de novo.

Quando entramos na casa somos surpreendidos com Kemal e meu pai sentados juntos na sala de jantar.

— Ah, parece que finalmente resolveram se juntar a nós! — é meu pai quem fala.

Kemal ainda não havia notado nossa presença, mas quando nos olha sua expressão não demonstra emoções.

— Fico feliz de vê-lo bem — ele direciona a mim, para então falar com Eda: —  E nós precisamos conversar, mocinha.

— Estou surpresa de vê-lo aqui, pai. Algo que eu precise saber?

Eda olha entre meu pai e ele, como se tentasse pegar no ar o que está acontecendo, mas eu também não faço a mínima ideia do que os dois estão tramando.

— Acho que você, e ele, é que tem coisas a dizer. — Kemal diz, meu pai concorda, tomando uma dose de whisky.

Só então percebo que Kemal também tem um copo reservado.

— Nós não somos irmãos, ok? — eu falo logo, cortando essa merda de uma vez por todas.

Meu pai quase se engasga com a bebida.

— Eu pedi um exame de DNA — Eda explica — No dia da cirurgia de Serkan, deu negativo, não somos irmãos, fim da história.

Um silêncio constrangedor se instaura. Mexer com coisas do passado assim na frente de todos os envolvidos é como acender um fósforo em uma sala cheia de pólvoras.

— Bem, isso é... bom — Kemal diz.

— Sim, é... ótimo — meu pai complementa.

E nada mais sai deles.
É como se eles tivessem passado tanto tempo vivendo em dúvida, que quando a verdade foi revelada, já não importava mais qual o resultado final.

— Vocês só irão falar isso? — questiono.

— Vocês passaram anos de instabilidade, literalmente dividindo a cidade em duas por conta disso, mas agora que a verdade foi revelada, essa é a reação de vocês? — Eda parece indignada.

— E o que você quer que eu diga? — Kemal pergunta — É estranho estar de frente para Alptekin depois de tantos anos de indiferença.

— Eu digo o mesmo — meu pai responde.

— Vocês dois são iguais — eu falo, não me admira que eles tenham sido amigos — Até nas respostas são parecidos.

— Não vai mudar nada daqui em diante — Kemal diz — Eu estou aqui em agradecimento, uma visita cordial e...

Mas Eda o corta, sem dar chance que ele termine o que queria dizer.

— Vai mudar sim — ela intervém — Serkan e eu estamos juntos, vocês precisam resolver esse problema de vocês, superarem tudo, porque eu não vou ficar entre um lado e outro da cidade.

Eu me pergunto se consigo esconder a cara de bobo ao olhar para ela agora.

— Sim — eu concordo — Eda e eu estamos juntos, onde ela estiver eu também estarei.

O silêncio volta a reinar.
Nossos pais observam o copo de whisky em suas próprias mãos, como se buscassem respostas no líquido alcoólico.

Até que Kemal começa a sorrir. Para ser mais exato, ele começa a gargalhar. E então surpreendentemente meu pai o acompanha na gargalhada, e eu sinto como se tivesse perdido a piada, Eda também parece sentir o mesmo.

— Você... também... lembrou? — Kemal diz entre uma lufada de ar e outra.

— S-sim — meu pai responde sem ar.

O que porra está acontecendo?

— Vocês poderiam dividir com a gente do que caralho vocês estão falando? — Diz uma Eda nenhum pouco paciente ao meu lado.

— Quando vocês ainda eram apenas bebês na barriga de suas mães... — Kemal começa a explicar — Eu e Alptekin paramos uma noite inteira para comemorar.

— Antes de toda confusão acontecer — meu pai explica também — Nós havíamos combinado que, não importa o que acontecesse, vocês iriam juntar os negócios das famílias.

— Naquela noite nós bebemos tanto que dormimos aqui nessa mesma sala, completamente bêbados — diz Kemal.

Agora eu entendo a gargalhada, a situação pareceu familiar para os dois.

— E olha só agora, parece que nada mudou ao mesmo tempo que tudo está diferente — meu pai completa — Estamos no mesmo lugar, bebendo o mesmo whisky, vendo nossos filhos falarem que estão juntos, que era algo que nós queríamos, mas não podíamos ter.

— Eu fico feliz por vocês — Kemal diz, levantando o copo de whisky — Eu não vou interferir em nada, vocês têm a minha palavra.

— Eu também não vou — meu pai toca o copo no do ex amigo.

Olho para Eda e ela parece um pouco aérea.

— Bem, então eu preciso de um copo desse whisky — eu digo, me juntando a eles no sofá.

— Por favor, um copo para mim também — Eda diz, sentando ao meu lado.

E foi assim que pelo resto do dia nós ficamos na sala de estar conversando sobre o passado dos nossos pais, os erros cometidos sendo deixados de lado e apenas as boas memórias sendo contadas por eles. Pela primeira vez ouvimos deles como eram suas vidas antes de nós nascermos.

DYNASTYOnde histórias criam vida. Descubra agora