⇝ 𝒅𝒆𝒛𝒆𝒔𝒔𝒆𝒊𝒔

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Os dias seguintes foram tranquilos.

Eles passaram devagar e sombriamente. Draco não ficava mais no mesmo quarto com Charlene – ele nem falava com ela. Ele não podia. Ele estava com tanta raiva, tudo estava engarrafado dentro dele desde o buraco em seu estômago, até o topo de seu cérebro, onde ele não conseguia parar de pensar em como ela o envenenou.

E Charlene? Ela estava fazendo o mesmo.

Apenas sentada em seu quarto no escuro, olhando pela janela. Seus pesadelos estavam de volta. Ela pensou sobre o que ela fez, e então a culpa se instalou nos primeiros dias. Mas então ela pensou sobre si mesma, como ele a trancou no armário sem hesitar, e como ela ficou sem seu inalador e como foi fodidamente sortuda por estar viva.

Veneno de rato não matou Draco. Só o fez vomitar.

Ele não estava morto. Nem ela. Mas sempre haverá aquela chance – que eles poderiam ter matado um ao outro.

Agora, Draco está na cozinha, uma xícara de café entre as mãos e todos os outros reunidos no bar da ilha.

— Onde ele foi visto pela última vez? — Ele perguntou lentamente, misturando um único cubo de açúcar em seu café.

Mattheo largou seus papéis. — O motel – bem em frente a nós.

Tudo em Draco se acalmou, e ele teve que apertar a mandíbula pensando em Charlene. Ele ainda não queria que Harry a tivesse. Ele tinha visto suas cicatrizes, e ele tinha visto o quanto tinha mexido com sua cabeça. Pelo menos, ela não sabia quem era Harry Potter.

Certo?

— Nós vamos, agora — ele ordenou, as palmas das mãos segurando a xícara de café como se quisesse quebrá-la.

— E a remessa? — Haven ergueu a sobrancelha, um prato de donuts na frente dela. — Você não pode simplesmente esperar que a gente vá–

— Eu não dou a mínima para o carregamento — ele retrucou, todo mundo se levantando. Ele se importava – mas não o suficiente para Charlene estar em perigo. — Alguém vá acordar Mave.

— Ok, então é isso que estamos fazendo — Astória revirou os olhos, as mãos nos quadris.

— Fazendo o que?

— Ignorando o elefante na sala.

— Elefante?! Você enlouqueceu? Estamos na sala principal, se houvesse um elefante aqui ele iria–

— Não é um elefante de verdade, seu idiota! — Ela o interrompeu, observando todos os outros desocuparem a sala. — Você e Charlene. Esse é o elefante. Vocês dois não se falam há dias e ela não saiu daquele quarto.

Ele engoliu em seco, uma onda de tristeza e desespero varrendo-o. Ele ansiava por correr os dedos pelo cabelo e abraçá-la mais perto dele novamente. Ele ansiava por apenas tê-la falando com ele. Ele gostou mais dela do que pensava, e definitivamente não estava preparado quando a perdeu.

Então, em vez de contar a Astória o que aconteceu, ele apenas deu de ombros. — Nós simplesmente não nos damos bem.

Ela zombou. — Você é tão–

— Pessoal, nós temos um problema. Ela não está no quarto dela — Blaise voltou para a cozinha, cortando Astória. — Temos Theo e Mattheo procurando, mas – acho que ela foi embora.


Charlene estava sentada em um banco do lado de fora, uma xícara de chocolate quente em suas mãos.

Ela estava no meio de alguma cidade, não muito longe do prédio em que estava hospedada, mas precisava sair. Ela sabia que eventualmente voltaria, ela sabia que não tinha mais para onde ir até que eles voltassem.

Seus lábios carnudos se separaram, tomando um gole de chocolate com um pequeno suspiro de seu nariz. Ela estava tão exausta e faminta, e seu coração doía mais. Ela queria perdoar Draco. Mas ela não achava que pudesse. Claro, ela queria uma vida com ele. Ela queria uma vida com ele na dela, em vez disso ele partia seu coração ou não, mas prendê-la em um armário era algo que ela nunca faria com ele se ele tivesse claustrofobia.

Um corpo deslizou ao lado dela, e ela foi recebida com olhos verdes, óculos redondos, um maxilar afiado e cabelos castanhos e encaracolados.

O menino em seus sonhos.

Ela se afastou dele. — Desculpe, eu te conheço?

Ele cerrou os dentes. — Isso tem que ser uma piada, certo? — Ela franziu as sobrancelhas, e ele agarrou sua coxa em sua calça de moletom, puxando-a de volta para ele. — Charlene. Você é a porra da minha esposa.

Um pequeno suspiro deixou seus lábios, os olhos ardendo. Sua confusão a varreu como um inseto, seu corpo parando. — Eu não entendo. Você tem que estar brincando.

Agora, ela não sabia que estava em perigo.

Agora, ela não sabia que Draco estava perdendo a cabeça ao se perguntar se ela estava em perigo.

Ela não sabia porque Draco a manteve no escuro e não disse nada a ela. E, claro, ela sabia que esse cara não era uma boa notícia, ele parecia exatamente com seus pesadelos.

— Meu amor — sua voz caiu para um sussurro, os olhos se enchendo de mágoa. — Por favor. Eu sou seu marido. — Ele lhe mostrou o anel, seu pulso acelerando. — Como você não se lembra?

— Eu... — sua voz estava perdida em algum lugar em sua garganta, virando seu corpo para encará-lo enquanto uma lágrima saía de seus olhos. — Eu não sei. Eu prometo, eu não sei–

— Volte comigo — ele implorou, segurando a mão dela suavemente. — Por favor. Eu vou te dar tudo o que você quiser – eu só preciso te ver. Eu preciso que você esteja comigo.

Ela respirou fundo. — Não. Me desculpe, mas eu não conheço você. Eu não vou com um completo estranho–

— Você tem uma sarda na parte interna de sua coxa — afirmou, e tudo dentro do corpo dela ficou completamente rígido. — É a única sarda que você tem.

Ela fez um som no fundo da garganta, jogando sua bebida na lata de lixo ao lado do banco e se levantou. Ela sentiu como se tudo não fosse real para ela. Se ele sabia disso, significava que ela dormiu com ele. Significava que Max não era sua primeira pessoa. Isso significava que ela não sabia o que diabos está acontecendo agora.

Quando ela se levantou, ele também. — Charlene, eu sei tudo sobre você. Até que um dia, você desapareceu. Eu conheço você. Você é minha. Você é minha esposa–

— Eu não sou sua — ela rosnou em seu lábio. — Você não me possui.

Esse foi seu primeiro e último erro para Harry.

— Eu não queria ter que fazer isso — ele murmurou, outra lágrima caindo de seus olhos. — Mas você não me deixa escolha.

Ele a puxou para perto de seu braço, colocando um pano sobre seu rosto, drogando-a.

𝑴𝒂𝒊𝒅 𝑶𝒇 𝑻𝒉𝒆 𝑴𝒂𝒇𝒊𝒂 {𝑫. 𝑴𝒂𝒍𝒇𝒐𝒚} +𝟏𝟖Onde histórias criam vida. Descubra agora