7 - Alien

71 8 19
                                    

Lauren

- Um prisioneiro? Um prisioneiro, Lauren?!

Revirei os olhos.

Estávamos sentados na frente da mesa, na nossa cozinha, e eu tinha um pé em cima da cadeira, com o joelho tocando no meu peito. Murphy estava sentado, de pernas afastadas, braços cruzados sobre o peito e olhando meu pai.

Bill andava de um lado para o outro, esbravejando por eu ter trazido um desconhecido para casa, ainda por cima um prisioneiro.

- Nem sabemos o que ele pode fazer!

Murphy franziu o cenho e fez uma cara de quem não entende nada. - Não vou fazer nada. - Disse, como se fosse demasiado óbvio.

Eu ri e Bill me olhou. - E você ainda ri!

- Pai, olha á sua volta.  - Abri os braços. - Ele vai fazer o quê? Nos roubar? Tem bancos cheio de dinheiro, lá fora, lojas cheias de jóias, casas de gente rica, vazias!

Bill cruzou os braços. - E se ele for algo pior que um ladrão?

Olhei Murphy, que me olhava, e depois de novo para o meu pai.

- Sério que você não lembra dele?

- O quê?

Suspirei. - Eu não entendi, lá fora, quando achei ele, mas depois, aqui, percebi de onde achava ele familiar. A gente viu ele na televisão, foi o rapaz que condenaram pela morte da namorada, que chamou a policia e que estava coberto de sangue, segurando um corpo sem vida, na frente da casa.

Murphy olhou o chão, cerrando o maxilar, e eu soube que estava certa. Eu fixara aquele cara pelo ar de desespero que ele tinha na tv, pelo choro dele, em pânico, segurando a namorada contra o peito. O olhar dele, azul igual o céu das Maldivas que todo mundo via nas fotos de viagens, havia chamado minha atenção pela dor que apresentavam.

- Como pode ter tanta certeza? - Perguntou meu pai.

Olhei Murphy, levantei e peguei no braço dele, que me olhou, pego de surpresa.

- Hey! - Disse.

Olhei nos seus olhos. - Cala a boca. - E puxei a manga da jaqueta para cima, olhando meu pai. - Lembra? Uma Winchester no braço esquerdo. A gente comentou isso naquele dia.

Bill olhou o braço dele e respirou fundo.

Coloquei a manga para baixo e soltei o braço dele, regressando para a minha cadeira e encarando meu pai.

- Ele não tem motivos para fazer o que quer que seja. - Insisti. - Ele pode ter, literalmente, tudo, agora. Não tem policia, não tem lei, nada!

Meu pai me olhou. - Ele matou uma mulher, Lauren. Havia provas.

Murphy riu sem vontade. - Só minhas impressões digitais na arma, porque eu fui burro o suficiente para pegar nela, mas quando fizeram os testes para resíduos de pólvora nas minhas mãos, eu estava limpo.

Bill riu. - E foi acusado mesmo assim. 

Murphy suspirou. - Alegaram um monte de merda e o juiz mandou me prender.

- Pai. - Chamei a atenção dele. - Eu não trouxe ele por lembrar quem ele era. Olha para ele! É um humano! Vivo! A gente viveu 20 dias, 20 dias achando que não existia mais ninguém nesse mundo. Ele está aqui.

Bill assentiu. - E como isso é possivel, já pensou?

Revirei os olhos. - Não sei! Seja razoável.

- Seja você. - Bill indicou o homem sentado na nossa cozinha. - Nem sabemos o que aconteceu.

Cruzei os braços. - É, e ele é um alien.

Murphy riu discretamente, de cabeça baixa, olhando o chão, e eu temi que meu pai percebesse, pois isso não iria ajudar as chances do prisioneiro. Mas depois lembrei de uma coisa que talvez ajudasse.

- Além disso, ele pode ajudar.

Os dois me olharam, sem entender nada.

- Ajudar? - Perguntou o meu pai.

Sorri. - Ele estava na prisão, certo? De Segurança Máxima, ora, eles têm geradores, bastantes. E espaço para mais geradores de substituição que a gente poderia pegar por aí.

Bill lançou as mãos para o alto e girou, andando até á janela e regressando.

- Aí já é demais! - Colocou as mãos abertas sobre a mesa, se inclinando na minha direção. - Quer viver em uma prisão?!

Ergui a mão, contando pelos dedos. - Comida armazenada e espaço para armazenar mais. Geradores e espaço para colocar mais quando aqueles morrerem... Tem tudo lá. Armas, a proteção dos muros...

- Não tem ninguém no mundo. - Disse Murphy.

- Cala a boca. - Falei.

- Ora, só estou comentando que a segurança não importa. Além disso, eu passei 10 anos da minha vida naquele lugar.

Olhei ele e sorri, o rosto da inocência. - Ótimo, assim já conhece os cantos da casa. - Olhei meu pai. - Não tem que ser para já, mas pode, ao menos, pensar no assunto?

Bill olhou para mim e depois para o Murphy, que olhava ele e deu de ombros. Então, respirou fundo e estreitou os olhos, encarando o prisioneiro.

- Se você tentar alguma coisa, uma coisinha que seja, contra mim, a minha filha ou até o Zeus, garanto que vai passar a ser como as pessoas que estão lá fora!

- Mas, elas estão mortas. - Disse Murphy.

- Exato. - Disse Bill, e saiu da cozinha.

Respirei fundo e olhei para baixo.

- Ele é foda.

Olhei Murphy. - Cala a boca. Credo, não sabe ficar calado? - Passei a mão pelo cabelo.

Ele indicou a porta com a mão. - Porque parece que é você quem decide tudo?

Olhei ele, estreitei os olhos e levantei. - Porque sim.

Saí na rua, com Zeus me seguindo como uma sombra.

Respirei fundo e olhei o céu, depois sentei na grama e Zeus sentou do meu lado. Coloquei o braço sobre ele e ele lambeu meu rosto.

- Sabe? Não entendo mais nada. Não sei mais o que pensar.

Zeus colocou a língua para fora.

Sorri. - Murphy é um idiota, né? - Olhei o cachorro. - E se existirem mais por aí? E se alguém tiver sobrevivido?

Fiquei ali com o cachorro durante mais algum tempo e depois levantei, fazendo ele levantar também, pulando e girando, latindo. Sorri e fiz carinho nele e depois bati com a mão nas pernas, chamando ele para dentro de casa.

Murphy estava agora sentado no sofá e me olhou.

- Cadê meu pai? - Perguntei.

Ele indicou o andar de cima. - Subiu. Escuta, você lembrava mesmo?

Entendi o que ele estava perguntando e assenti. - Juntei as peças pelo caminho, não apenas aqui. - Dei de ombros. - E sim, seu caso chamou minha atenção.

Ele assentiu, parecendo pensar.

- Vamos fingir que eu acredito na sua inocência. - Falei e estiquei a mão para ele apertar.

Murphy olhou minha mão e depois para mim. Depois de alguns minutos, ele esticou a mão e apertou a minha.

- Sou a Lauren Caine.

Murphy me deu um sorriso pequeno.

LegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora