26 - O Beijo

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Um ano depois do apagão...

Estávamos no pátio e olhei em volta.

Tínhamos ampliado o terreno de cultivo, como meu pai queria. Produziamos energia, como Murphy falara. Tinhamos achado mais sobreviventes, vindos de uma cidade vizinha. Agora éramos 50, sem contar com nosso grupo inicial. Não tinhamos crianças, só adultos, jovens adultos e um adolescente.

Todo mundo ali tinha uma tarefa, ou ocupava o tempo de alguma forma benéfica para todos.

Murphy estava sentado na minha frente, em um banco, enquanto eu ia andando em seu redor, com uma tesoura na mão, mas quando parei na sua frente, vi que ele estava de olhos fechados.

- Eu não vou cortar uma orelha sua. - Sorri.

Ele riu. - Eu sei.

- Então abre os olhos.

- Não. Você lembrou de usar uma blusa com um decote enorme. Você está bem na minha frente.

Eu ri. - Murphy.

Ele ergueu o dedo na direção que meu pai estava. - Se ele vê, ele me mata.

Revirei os olhos. - Não é um decote enorme.

- Seu peito está na altura dos meus olhos, daqui é enorme. - Bati na sua cabeça. - Au!

- Terminei.

Me afastei para trás e ele abriu os olhos, esticando a mão e pedindo o espelho.

Escutei o som de motos e olhei o portão.

Zeus entrou na frente, correndo que nem louco. Ashley entrou de seguida, vestida de negro, com os óculos que meu pai dera a ela, no rosto, e os cabelos loiros esvoaçando, dirigindo uma moto vermelha.

Por último, entrou Jared, na sua moto negra, com a besta presa atrás, e parou do lado da garota. Ele olhou na minha direção e acenou com a cabeça.

Imitei o gesto e depois vi Murphy levantando.

- Valeu, ficou ótimo.

Passei a mão na sua cabeça. - Vou sentir a falta do seu cabelo.

Ele sacudiu a minha mão. - Que nada!

Nos dirigimos até Jared e Ashley e parámos junto deles. Ash colocou os óculos na cabeça.

- Não vai gostar.

Franzi o cenho. - Hã?

Jared respirou fundo. - Suas suspeitas estão certas. Tem mais alguma coisa na cidade.

Fiquei olhando ele. - Sério?

Jared assentiu. - Tem coisas que sumiram, e outras que mudaram de lugar. Então, não foi um animal.

- É humano. - Disse Murphy.

Jared assentiu.

Eu suspeitava de que algo estava acontecendo na cidade, e para ter certeza, colocámos vários objetos espalhados por vários lugares, os quais não chamariam a atenção de nenhum animal, mas de um humano sim. E também nos certificamos de que nenhum animal poderia movê-los.

Olhei o chão. O que raio estava acontecendo ali?

Olhei o grupo e depois os muros e o portão e me afastei, indo na direção do pequeno grupo de pessoas, militares e policiais que sobraram e alguns civis, que ficavam responsáveis pela segurança. Parei junto de quem liderava o grupo.

Ele me olhou, atento.

- Fecha os portões. Divide seus homens, quero vigias em todos os muros.

Ele franziu o cenho. - Caine?

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