9 - Como Uma Filha

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Jared

Ashley permanecia sentada no sofá desde que eles haviam chegado em casa. Em silêncio e com os braços cruzados sobre o peito.

Jared espreitou ela pela porta da cozinha, e ficou observando ela, de costas para si.

Tinha sido difícil para ele ver sua família cair morta no chão, ficou imaginando Ash, saindo do seu quarto e descobrir que todos haviam morrido, quando sua única preocupação era chegar na escola a tempo.

Regressou na cozinha e ficou olhando a janela.

O que tinha acontecido para que Ashley permanecesse viva? E porquê? Sua mente continuava pensando no facto de ser apenas ele e uma adolescente e nem sabia porque eram os únicos sobreviventes de algo inexplicável.

Foi de novo na porta da cozinha e ergueu um pouco o queixo.

- Ashley. - Chamou.

Ela o olhou, assustada, e ele ergueu a mão, chamando ela.

A garota levantou e entrou na cozinha, e Jared indicou um lugar na mesa para ela sentar.

Ela ficou olhando o prato, em silêncio e Jared revirou os olhos.

- Não está envenenada.

Ashley assentiu, pegou o garfo e levou um pedaço de comida na boca, e depois outro e mais outro.

Jared franziu o cenho. - Você se alimentou nesses últimos dias?

Ela sorriu. - Só o que minha mãe chamava de besteira. - Depois percebeu o que acabara de falar e baixou o olhar.

Jared se mexeu, desconfortável e assentiu. - Tudo bem, eu também perdi minha família.

Ashley ergueu o olhar. - É...

Ele suspirou. - Olha, eu não vou mesmo fazer mal a você.  Só não... Esperava encontrar ninguém vivo no meio dessa... Situação. Enfim. - Mexeu as mãos. - Sei que deve ser difícil, eu demorei dias para me acostumar e aceitar que era apenas eu. E eu não gosto de pessoas, no geral, então, não é nada pessoal.

Ela assentiu. - Valeu por me deixar ficar com você. Eu não consegui voltar para casa depois que eles...

- Onde dormia?

Ashley deu de ombros. - Em qualquer lugar.

- Hum.

Ela acabou de comer o pedaço que tinha na boca e depois indicou ele. - Onde achou a besta?

- É minha á anos.

- Sério? Serve para quê, nesse mundo?

- Caçar e me defender dos animais que ficam me perseguindo.

Ela franziu o cenho. - Foi você que matou as hienas? Porque uma delas tinha um ferimento na cabeça e, agora que vi suas flechas...

Ele estreitou os olhos. - É, fui eu sim.

Ashley assentiu. - Elas quase me pegaram. Sabe se tem mais?

Jared deu de ombros. - Não sei.

Nessa noite, Jared abriu a porta do quarto da sua irmã e Ashley parou na porta, olhando o interior. Depois olhou ele.

Jared ergueu a mão. - Fica á vontade, era da minha irmã. - Deu de ombros. - Ela era baixinha, então deve ter roupas que caibam em você, até a gente achar melhor. - Indicou o corredor. - Eu estarei na porta em frente.

A garota assentiu e depois franziu o cenho e Jared suspirou, colocando a mão por dentro da porta, tirando a chave e entregando a ela.

- Tranca a porta, se não confia em mim. Eu não vou te atacar.

Ashley olhou a chave e depois para ele. - Como sei que não tem outra?

Ele riu. - Deixa de besteira, garota. Você assistia muitos filmes, não assistia? - Revirou os olhos. - Boa noite. - E deu as costas.

-Jared.

Ele parou e depois girou, olhando ela.

- Obrigada.

Ele mordeu o lábio e assentiu. - Tá. - E entrou no quarto, fechando a porta.

Ficou parado no meio do quarto, aquilo era a coisa mais estranha do mundo.

Entrou no banheiro, tirando a camiseta pelo caminho e deixando no chão. Depois entrou no duche e abriu a água gelada, fazendo careta quando sentiu o frio na sua pele.

Lavou cada centímetro de pele e cabelo e depois saiu, colocando uma toalha em volta da cintura. Saiu para o quarto, abrindo a gaveta e tirando roupa limpa: roupa intima e umas calças de treino.

O que iria fazer com uma adolescente? Naquele mundo não existia policia nem nada disso, então não era como se ele não pudesse deixar a garota sozinha em casa, mas de repente, se sentia responsável por ela. Parecia que Ashley já passara por muita coisa e talvez tivesse criado traumas e ansiedades. Como quando abraçava o peito de cada vez que se sentia mais nervosa e desconfortável.

Jared, em um mundo normal, nunca pensara muito em casar e ter filhos, mas naquele momento, parecia que era exatamente isso que acontecera. O mundo acabara e uma filha surgira, do nada.

Suspirou e se jogou na cama, sem camiseta e olhando o teto.

Ele não era bom com pessoas, como iria lidar com uma adolescente?

Olhou a porta. Fosse de que jeito fosse, ele não iria deixar que nada acontecesse com Ashley, tinha de mantê-la viva e ter certeza de que, mesmo em um mundo vazio, ela chegaria na idade adulta.

Escutou bater na porta e sentou na cama, assustado, mas depois lembrou que seria a garota e saiu, se aproximando da porta e abrindo. Ainda não se acostumara a ter companhia.

- Ash.

Ela cruzou os braços. Tinha o cabelo molhado e vestia um pijama do Capitão América. Parecia nervosa.

- É... Será que... Tipo... Dava para você deixar a porta aberta e eu deixar a minha também? - Pediu e deu de ombros. - Eu não consigo dormir.

Jared sorriu fraco e assentiu, mordendo o lábio. - Claro.

Ela sorriu, assentiu e deu as costas, se afastando, mas depois parou e olhou ele novamente.

- Você não ronca, né?

Ele estreitou os olhos. - Não, e você?

Ela riu e negou, mas depois indicou seu peito nu. - Deveria usar uma camiseta, porque eu tenho 15 anos e não é legal ficar pelado na frente das pessoas.

Jared inclinou a cabeça para o lado. - Não estou pelado.

- É... quase.

- Vai dormir, patricinha. - E deu as costas.

- Jared.

Ele olhou ela, respirando fundo e buscando a paciência no fundo do seu ser.

- Belas tatuagens.

- Pfffff. - Fez ele e regressou para a cama.

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