chapter 9. Yamada's family

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Hoje era mais uma sexta feira, só que dessa vez eu estava me arrumando para visitar a família Yamada e devolver, então, todas as coisas que pertenceram a Bruce. Suas camisetas ainda tinham seu cheiro, seu primeiro taco de beisebol estava comigo também, além de muitas outras coisas.
- Robin. - O chamei atônito(a). - Você acha que a família dele vai me receber bem?
  - Poxa, gatito(a), por que não receberiam? - Me olhou de canto enquanto arrumava o cabelo e o prendia com a bandana.
   - Porque eu briguei com ele. Fui ignorante e orgulhoso(a) em não tentar perdoa-lo. - Mordi o lábio em negação ao me recordar.
   - Calma [nome], se eles te chamaram deve ser porque gostam de você. Não se estresse com isso, já temos muitos problemas para lidar.
- Verdade... - Suspirei pesado. - Enfim, quando terminar de se arrumar me avisa, tô lá embaixo trancando a casa.
- Certo mi amor. - Respondeu com um sorriso fino.
Eu não estava em um dos meus melhores dias, além de ter que visitar a casa dos pais do meu melhor amigo desaparecido tive que mexer no meu sótão junto dos meus pais mais cedo. Foi duro quando achei uma caixa cheia de fotos impressas minhas e do Bruce quando éramos mais novos.
Obviamente estava lidando com isso da melhor forma possível, do meu jeito, mas já era uma amostra de um avanço. Sabia que não podia ignorar seu sumiço para sempre, mas estava sendo minha melhor maneira de não chorar todos os dias e quem estivesse contra essa forma de aguentar tudo isso, eu consideraria uma pessoa errada para mim.
- Finn falou para passarmos na casa dele antes, ele disse que quer nos entregar uma torta que ele e a Gwen fizeram. - Robin me alertou enquanto descia as escadas.
- Uau, você está lindo. - Disse o ignorando.
Robin usava mais uma de suas habituais bandanas, mas dessa vez era preta, junto de uma regata marrom escura, uma calça boca de sino larga e uma Letterman jacket branca e beje.
  - Eu sei gato(a), você também está. - Sorriu andando em minha direção. - Agora vamos pegar essa tal torta de frango do Finn.
- Desde quando Finney Blake sabe cozinhar? - questionei duvidoso(a).
- E não sabe, quem fez foi a Gwen.
Dei risada, mirei meu rumo para a porta e quando percebi já estávamos saindo de casa e andando sozinhos pela rua.
Me sentia bem ao lado do Robin, ele sempre segurava minha mão e fazia de tudo para ter o mínimo de contato físico com pessoas próximas, podia ser até do dedo da mão até a mão inteira. Importava para ele sentir o calor da pele de alguém junto ao seu, acho que ele sempre faz isso sem nem ao menos perceber.
- Já percebeu que você tem mania de tocar os outros? - perguntei retoricamente.
- Como assim mania de tocar as outros?
- Você preza contato físico até o mínimo possível. - Olhei para nossas mãos e as levantei. - Tipo agora, reparou em algum momento que estávamos de mãos dadas?
- Não, na verdade. - disse divertido. - Mas é legal andar de mãos dadas com você [nome].
Eu ia beija-lo, mas esqueci que já estávamos na frente da casa do meu amigo ruivinho.
- Eca, sem isso. - Indicou o dedo de cima a baixo para nós. - Aqui.
- Cala boca maninho, você é assim com a Donna também. - Robin respondeu como uma patada.
- Tem razão moleque! - Gwen gritou saindo de dentro da casa, com uma bela forma de torta nas mãos.
- Uau gatinha! - Disse surpreso(a). - Você que fez essa belezura?
- Minha irmã arrasa na cozinha! - Finn falou me abraçando. - Agora vão logo, não podem se atrasar para o jantar.
Puxei Arellano pela gola da regata e saímos andando.
- ¡ Adiós chicos! - Robin acenou por fim.
Andávamos calmamente pela rua até chegar na casa da família. Como não lembrava o endereço tive que ligar de novo para a tia Kelayne, que rapidamente me atendeu.
- É aqui. - Parei Robin com o braço antes que ele andasse à diante da casa.
- Está preparado(a). - Me perguntou carinhoso.
- Acho que sim.
Logo que terminei de falar a mãe de Bruce abriu a porta.
  - [nome]! - Ela parecia surpresa ao me ver. - Não sabia que viria mesmo! Entrem por favor.
- Obrigada tia. - A abracei. - Esse daqui é o Robin, meu amigo.
- Ah! Olá Robin! - Ela o puxou para um abraço. - Um prazer conhecê-lo.
Logo que entramos não pude deixar de reparar no quão bom era estar lá de novo. Tudo no mesmo lugar de sempre, mesmos móveis, mesma pintura desgastada da parede, mesmas fotos, mesmo cheiro de lavanda... Só que faltava ele. Não dava para ser a mesma casa sem o Bruce ali.
  - Se não quiser não precisamos fazer isso. - Robin disse apertando e entrelaçando nossos dedos. - Sabe que estou aqui e se quiser podemos ir embora.
  - Está tudo bem. - Limpei uma lágrima que escorreu no canto do meu olho. - Não é como se ele estivesse morto, só desaparecido.
Nos sentamos na grande mesa de jantar da família Yamada. Robin ficou do meu lado e apoiava uma de suas mãos na minha coxa para tentar me acalmar caso algo me afetasse muito.
  - Então. - O pai de Bruce pergunta. - Você trouxe as coisas do meu filho de volta?
  - Trouxe sim, senhor. - Apontei para uma caixa encima da estante da sala. - Estão todas as roupas, fotos, acessórios, livros, etc.
  - Fico feliz de ter vindo [nome]. - A mulher na minha frente se levantou um pouco para segurar em minha mão. - Ainda temos esperança de Bruce só estar perdido, por isso contratamos detetives e investigadores de primeira linha.
  - Obviamente teve um grande custo, então para isso tivemos de vender algumas coisas da nossa casa. - O pai de Bruce complementou.
  - O que querem dizer com "vender algumas coisas"? - Robin perguntou tímido.
  - Decidimos vender algumas coisas do quarto de visitas e do quarto de Bruce. Seus armários de cama e cabeceira por exemplo. - A mãe dele respondeu meio sensível. - Não queríamos mas, é o preço a se pagar para termos nosso filho de volta.
  - Estão dizendo que venderam coisas dele? - perguntei desacreditado(a). - Por que logo dele? Quando ele voltar não iria gostar de saber que grande parte dos móveis do seu quarto não estão lá. - Rebati minha própria pergunta de forma grossa.
  Logo senti um aperto na minha perna. Olhei para o lado e Arellano sinalizava para que eu me acalmasse.
(Porra, como que eu vou me acalmar? Estão tratando as coisas do meu amigo como mercadoria.)
- [nome], isso é importante para eles, calma. - o mexicano disse.
- Tente ter calma quando os próprios pais do seu amigo estão vendendo seus itens para pagar um detetive famosinho. - Me levantei da mesa jogando os talheres no prato.
Corri até o segundo andar e me fechei no banheiro. Aquele lugar tinha o cheiro até mesmo do shampoo dele, era tudo tão difícil de aguentar.
  - [nome], porra! O que foi aquilo? Está louco(a)? Você não percebeu que esse sacrifício é para acharem o filho deles? Tente ver o outro lado da situação também. - Robin sentou do meu lado limpando meu rosto sua manga da jaqueta.- Não vai poder se apegar a ele para sempre, nem sabemos como ou onde ele está... Se ele voltar vai ser graças ao sacrifício dos próprios pais ao pagarem um bom investigador. Você sabe disso não é? - Ele encostou no meu ombro.
  - Não Robin, eu não sei. Por que tenho que me desapegar de coisas dele? Por que? Não é você que perdeu um amigo de anos e está sofrendo assim. Eu tenho meu jeito de lidar e você não tem a mínima autorização de interferir. - Tirei sua cabeça do meu ombro e me levantei.
  - Sério essa? Vai me tratar assim agora? O que você espera fazer a partir de hoje? - Se levantou me olhando. - Tem que pensar em todas as possibilidades [nome]! Seja maduro(a). Tem que bater de frente com os seus problemas e tentar lidar com isso. Em qualquer situação ele pode não voltar... Se criar esperanças para sempre pode acabar machucado(a) no final. Isso é o certo... Eu sei que você sabe.
  - Quer saber Robin? Por que algum dia eu já achei que você foi uma boa opção? - perguntei bravo(a) tirando do meu pulso a bandana que ele me deu. - Quer que eu seja maduro(a)? Então aí está. - o encarei vermelho(a) de choro. - Toma essa porra de volta. - joguei a bandana nele e abri a porta do banheiro.
  - O que... O que você está fazendo? - Senti um tom de tristeza na voz dele. - Volta aqui, você sabe que tem que ser responsável e eu estou aqui para te ajudar nisso!
  O ignorei de forma rude e sai do banheiro correndo pelas escadas.
  - [nome]! - Robin grita lá de cima. - O que você pensa que está fazendo?
  - Batendo de frente com meus problemas e superando eles. - O olhei furioso(a). Dessa vez os olhos do garoto estavam tão tristes que eu não consegui olhar por muito tempo. Bati a porta na cara dele e corri para rua até chegar em casa.
  Estava destruído(a). Briguei com a pessoa que eu mais gostava e já sentia uma falta enorme dele. Queria abraçá-lo e pedir desculpas, nem que precisasse comprar buquês de rosas até ele me perdoar, mas agora eu não iria fazer isso. Meu orgulho e covardia subiram a cabeça, tudo porque ele me disse a verdade. Não conseguira aceitar isso e briguei com ele. Fui idiota ao ser grosso(a), mas não aceitara o fato dele estar certo.
(Meu jeito de lidar com o Bruce me faz sofrer mais, mas não deixa de ser um jeito.)
    Queria pedir desculpas, mas não faria isso nem morto(a). Sabia que teria de ver ele segunda feira na escola, mas não o olharia naqueles olhos nem que me pagassem. Não queria encontrá-lo, eu cederia a tentação e assumiria meu erro.
Não saber lidar com meus erros, não saber controlar minhas atitudes. Esse era meu maior defeito, e agora eu o tinha usado contra minha melhor pessoa.
Eu espero nunca mais ver ele. Assim nunca terei de pedir desculpas e lembrar que cometi um erro.

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Se preparem que a partir desse cap é só ladeira a baixo. Fudeu galera 😍
   Perdão pelos errinhos de coesão, coerência e ortografia.
   Queria causar discórdia de um jeito incomum, que não seja o Robin como errado igual em todas as outras histórias. Queria mostrar que quando se trata de dor e perda cada um tem sua maneira de lidar e fica machucado de formas diferentes. Então tá aí, mostrar que nem toda forma de lidar é positiva, ela pode te fazer bem mas quando os resultados forem mostrados você pode acabar mais destruído do que no início.
   Lidem com isso. Beijao do Azi 💋💭

ALIVE - The black phone, Robin Arellano.Onde histórias criam vida. Descubra agora