chapter 3. Friends.

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   Quarta feira. Era incrível como eu amava contar meus dias da semana, repassar meus planos de 24h enquanto andava pela nova escola. Dessa vez, enquanto estava no hall de entrada, não sentia medo ou preocupação, estava relaxado(a). Sabia que tinha "amigos". Sabia que Finney, Gwen e Donna eram boas pessoas, tinha consciência também que Robin era bom, mas obviamente tínhamos nossos conflitos internos.
   (Nossa, me sinto tão bem perto deles). Um conforto enorme mesmo que nos conhecêssemos a algumas horas, tudo fluía tão bem que nem percebi que já era quase noite de terça feira. Ficamos a tarde juntos rindo e competindo para ver quem pedalava mais rápido, nos ajudamos e em alguns momentos eu e Arellano discutimos. Então ficamos sem nos falar porque fui embora pilhado(a) de raiva novamente, mas sem contar essas "brigas" foi tudo incrível.
   Estava andando até a sala, bati na porta e entrei, dessa vez o professor não estava ali ainda. (Toma essa velhote carrancudo, cheguei primeiro). Avistei Finn em pé, não entendi direito o motivo até ver que ele falava com Donna. Suas mãos suadas e sua voz falhada significava que meu amigo estava muito nervoso.
   - 'Hey, Mexicano! - Chamei pelo Robin instintivamente. - Finney está bem?
   - Hola gatito(a), não sei se você enxerga daqui, mas o menino está suado, gaguejando e inquieto. Então por favor, defina "estar bem" - Respondeu, com aquele tom irônico idiota, forçando o máximo para imitar minha voz.
   - A cada dia minha vontade de te dar um belo murro na cara aumenta gatito - Dessa vez foi a minha vez de irritá-lo. - E a definição de "estar bem" é meu estado emocional quando não estou perto de você!
   - Vem então, vamos ver quem ganha. Um soco ou um chute? - Rebateu "exalando" ódio
( Bingo! Missão comprida, deixar o mexicano full pistola)
   Até o responderia se não fosse pelo professor que em questão de segundos entrou em sala. - Sentem se, por favor. - Resmungou com aquela voz desleixada, não sei se aquele homem gosta mesmo de dar aula.
   Estava tudo indo bem, obviamente me forcei a tentar entender o mínimo de física, até anotei tudo e coloquei post-it no meu caderno, mas tente prestar atenção quando a cada milésimo que você vira para trás tem um menino te encarando. Pior de tudo era que o Arellano era o garoto. Porra, os olhos dele. Eu não tinha reação a cada encarada e me sentia enrubescer. Tive apenas uma atitude, é claro. (Vou mandar ele tomar no cu). Acenei meu dedo do meio para ele que logicamente mostrou o dele de volta.
   Aulas e mais aulas, um tédio sem tamanho. Parei de tentar entender depois que um outro bilhete foi tacado na minha mesa. Dessa vez era a letra do mexicano, estava logicamente me ofendendo e mandando eu parar de encara-lo.
Sua forma de escrever me lembrava de um velho amigo meu, Bruce, não o vejo desde as férias de verão. Aquela sensação de saudade me contagiara. (E agora? Como Bruce deve estar? ) Não o via a tanto tempo parando para pensar...
   Nesse tempo que refletia sobre meu colega, nem vi que o ratinho de esgoto de bandana tinha saído do lugar e parado na minha mesa.
   - Está me encarando tanto niño(a). Se quiser uma foto me avise, me arrumo antes para não sair feio. Até que isso é impossível - Pronto. Era o que me faltava, além de ser briguento tem um ego inflado.
   Querendo ou não eu realmente estava o encarando, mas não era porque queria e sim porque estava concentrado em Bruce. Olhar para algo aleatório é só brinde da concentração.
   - Não sou eu que fiquei vermelho(a) quando te chamei de gatito não é? - Me aproximei, o enfrentando. - Pensaria em Bruce e na saudade que ele me faz mais tarde, agora tenho algo mais interessante para responder. - Acha mesmo que eu não reparei idiota?
   - Está tirando conclusões precipitadas piolho de cobra. Fiquei vermelho de vergonha! Seu espanhol é péssimo. - Disse com a intenção de me calar, e o pior é que funcionou. Eu havia estudado essa língua só para constar no currículo. Ele era fluente.
   Morei em muitos países na minha vida. Sou brasileiro(a), mas me mudei para o México, logo após para Argentina, Paraguai e Venezuela. Depois vim para os Estados Unidos. Claramente não era meu plano, queria voltar para o Brasil depois da curta estadia na Argentina. As vezes esqueço que ainda sou dependente dos meus pais.
   - Não ofenda meu espanhol Robin!
   - Me chamou pelo meu nome? - ele parecia confuso - Nenhum apelido estranho ou piadinha? Está doente? - colocou a sua mão na minha testa e novamente fui obrigado(a) a encara-lo nos olhos. Que inferno, os olhos dele eram tão cheios de vida.
   - Estou bem, doidão. Não tô afim de papo agora, aliás, não estava te encarando, e sim quando eu fico concentrado eu foco a visão em qualquer coisa burrão da porra. - Dessa vez eu desviei, não tinha disposição para olhar para ele.
   - Vou fingir que acredito! Certeza que tem uma queda por mim não é? - Ele praticamente cantarolou a última frase como se fosse muito satisfatório de ser escutada.
   - Te conheço a 3 dias marrento maldito. Me deixe quieto(a) e eu digo se esperava ou não, que tal? - Falei e sai andando, não via a hora de vazar de perto dele. Admito que nessa sequência de provocações baratas eu perdi, só que não estava com cabeça para isso.
   O pátio estava quase vazio, ninguém gosta de vir para aula quarta feira. Aproveitei todo aquele silêncio para tentar lembrar a última vez que falei com Bruce, fazia tanto tempo que não o via. Meu humor mudou muito rápido quando lembrei dele, não é como se tivéssemos brigado da última vez. É só que ele não reagiu bem ao saber que eu mudaria de escola, nem eu reagi bem sobre isso.
   - Você viu? Aquele sequestrador pegou outra pessoa, e por sinal não era aquele menino que você disputou contra no beisebol? - Era a voz da Gwen, que bom ouvi-la.
   - Gwen! Já disse para não falar essas coisas. Você nem sabe se foi o sequestrador, ele só deve estar sumido. Para sua informação o nome dele é Bruce Yamada. - Finn já estava sem paciência com a persistência de sua irmã nesse assunto.
   - Ei, [nome], está sabendo dessa sequência de desaparecimentos não é? - Gwen agora falava comigo. - Bruce Yamada sumiu, já estão espalhando cartazes pela cidade para tentar encontrá-lo.
   - Você disse Bruce Yamada desaparecido? - A última palavra saiu como um sopro, e junto dele meu olho ardendo. - Preciso ir embora, depois nos falamos pode ser?... - Sinceramente nem ouvi o que eles responderam, saí correndo para a saída e só ouvi por fim Arellano gritando se eu estava bem. O encarei de relance, aqueles olhos eram tão expressivos, que merda! Agora demonstravam preocupação por mim. (Me desculpe, Robin... Terei que olhá-lo uma outra vez). Desviei rápido e voltei ao caminho.
Eu nunca lidei bem com situações assim, e se, Bruce estiver mesmo desaparecido o que irei fazer? Qual será o sentido de ter amigos se terei de me preocupar sempre, sem nem mesmo querer? Por que temos que ter amigos, se algum dia eles terão de ir embora? Por que não passei mais tempo com ele enquanto podia?
Eu deveria ter aceitado ir ao jogo de beisebol aquele dia em que me chamou, talvez teria mais tempo com ele sem ser pensando em onde ele está.
Nenhuma pessoa lida bem com despedidas, ou com perdas principalmente. Mas quando não há uma despedida você vai carregar para sempre um peso de uma atitude que você poderia ter tido.
Bruce poderia estar apenas sumido na casa de algum colega de time, mas era impossível evitar pensar que ele poderia ter desaparecido assim como os outros meninos das mesmas idades que sumiram misteriosamente. Agora o que eu faria?
(Bruce, se essa for a última vez que você me ouvir moleque, então saiba, eu estou preocupado(a) com você. Irmão de consideração.)

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Não me cancelem pelo Bruce gente!!!
KJAKAH se ele vai viver ou não só no próximo cap né💭
Achei uma bosta esse cap com toda sinceridade da terra, queria colocar o desaparecimento do Bruce só no próximo, mas eu vou focar na narração personagem e no passado deles, vamos dizer. Então tive que colocar aqui, perdão se ficou ruim.
Me perdoem por erros de coesão, coerência e ortografia.
Beijão do Azi!! Votem e se cuidem!!!💋💋

ALIVE - The black phone, Robin Arellano.Onde histórias criam vida. Descubra agora