chapter 19. the end.

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   Desistência. Esse foi o dia de desistir de tudo. Meus dias da semana passavam confusos e eu realmente nem sabia em qual dia do mês estávamos. Gwen e eu continuávamos a procurá-los rotineiramente, mas novamente começamos a nos afetar demais e gastar energias que mal tínhamos. Então decidi que era o fim. Desistir deles seria duro, mas não poderia nunca desistir da minha vida. As vezes não seria tão ruim lidar com uma perda.
    - Gwen. - A acordei de mais um dos seus pesadelos. - Precisamos conversar. Estamos adiando isso a semanas, acho que já é a hora.
    - Está falando sobre?... - Me olhou preocupada. - Está falando sobre desistir de tudo que temos?
    - Acho que sim amor. - A abracei de lado para conforta-la. - Não queria que acabasse assim, ou melhor, não queria que acabasse, mas não podemos mais adiar o impossível. Sempre tem um fim para tudo.
    - Mas como vamos achá-los? - Ela estava suando de nervoso.
    - Acho que não iremos achá-los, Gwenny. - Entortei a boca de desgosto ao pensar na possibilidade. - Temos que aceitar que nem tudo pode dar certo.
    - Eu gastei tanto tempo sonhando. - Puxou da parede nossos planos. - Tanto tempo calculando... Para no fim andar em círculos.
   A abracei forte, impedindo que a mesma continuasse a arrancar os papéis da parede rudemente. Senti logo meu ombro na qual ela estava encostada ficar molhado com lágrimas. Gwen sofrerá com esse afastamento, com esse luto, tanto quanto eu. Até mais do que eu, se duvidar.
   Seguimos até o campo abandonado atrás da casa da Blake e queimamos tudo que tínhamos. As vezes a desistência não é tão ruim assim. Logo após por um fim em tudo, levei a garota até sua casa e corri para a minha.
   Sentia um alívio pequeno, mas uma culpa grande. Sabe? Eu amava os dois, amava tanto Robin... Finn era como um irmão e eu não queria pensar que estavam mortos. Mas foram meses e semanas de tanta luta e esforço atoa. A frustração dominava meu corpo pouco a pouco nesse período.
   (Mas que porra! Vocês não estão mais vivos, eu sei disso.)
   Sentia uma sensação de constrangimento enorme ao ver que até a bandana de Robin do dia do desaparecimento tinha sido atoa. Quem sabe se eu tivesse acordado teria o visto, poderia ter impedido dele ir embora. Que droga, aquilo doía tanto.
   Fazia semanas que não chorava mais por eles. Gwen foi a que mais se afetou emocionalmente, sentia que eu também óbvio, mas não tinha mais forças para chorar, tinha que cuidar da mais nova a todo custo. Gwen e seu pai brigavam com mais frequência, em algumas vezes o homem ia até a escola buscá-la com um cinto na mão, doía ver aquilo e não poder fazer nada... Não conseguia reagir.
    - [Nome]! - Atendeu minha ligação mais animada do que mais cedo. - Meu pai vai chegar em casa logo, então seja o que tiver para me falar, diga agora.
    - Não é nada demais, quero saber se está melhor. - perguntei me encostando na parede da sala ao lado do telefone.
    - Sabe... - suspirou do outro lado da linha. - Mesmo que eu tenha parado de tentar achá-los, ainda acho que estão vivos...
    - Fico feliz de ter esperanças, Gwen. - Disse rindo fino.
    - Você não tem mais não é? - Enquanto ela falava, escutei um sútil barulho de fechadura sendo aberta. - Eu ainda acho que Finn está vivo.
   A partir daquele momento não ouvi mais a voz da garota, parecia que seu pai havia chegado. A ligação ainda estava solta, isso significava que Gwen esquecera de colocar o telefone no gancho, merda!
    - Com quem estava falando, Gwen? - o pai dela perguntou.
    - Ninguém, não estava no telefone.
    - Eu escutei o nome do seu irmão. - O homem suspirou alto. - Já sabe não é? Estou te avisando a tempos para parar com essa baboseira de procurar. Isso é trabalho da polícia.
    - Mas nada me impede de...
   Coloquei o telefone de volta no gancho, trêmulo(a), após ouvir um alto barulho vindo da ligação. Nesse momento parece que meu corpo inteiro começou a doer de preocupação. Até hoje não sabia como ajudar Gwen, até hoje não tinha coragem de perguntar se ela estava bem. Corri escada a cima e me tranquei no meu quarto. Falaria com ela depois, agora sentia minhas mãos tremendo demais para telefonar para sua casa. Admitia, eu tinha medo do pai dela, tinha medo do que poderia acontecer com ela... Das coisas horríveis que ele poderia fazer caso ela fosse desobediente. Sentia uma dor latejante de cabeça só de pensar nisso, em algum dia teria de oferecer ajuda a minha amiga e lidar com a situação.
   Assim que respirei um pouco e me deixei levar pelas situações da minha semana, desabei na cama, cansado(a). Sentia lágrimas rolando pelo meu rosto sem minha permissão. Sentia um aperto tão grande que seria capaz de perder o ar só de tentar alivia-lo. Era tão duro ver minha amiga estar sendo machucada pelo pai e ver que eu não conseguia fazer nada. Ver que o irmão dela sumiu e eu novamente não conseguira fazer nada... Ver que o garoto que eu amei desapareceu e eu não tive forças nem de tentar. Perceber que tudo estava acontecendo no mundo e eu não conseguia acompanhar a velocidade, não era como se estivéssemos lado a lado, eu e minha vida, e sim em uma corrida na qual eu percebera naquele momento que perderia miseravelmente.
   (Então, acho que esse é o fim.)
   Me joguei de lado na cama agarrando minhas pernas e as apertando, tentando buscar conforto em toda aquela confusão. Tentava buscar afeto em mim mesmo e me abraçar para acalmar um surto que não tinha a tempo. Crises que evitava para Gwen não me ver sensível, não queria que a garota achasse que não tinha ninguém para cuidar dela.
   Todos os momentos em que ficava sozinho(a) eram os momentos em que chorava de maneira desconsolável, quase sempre convencia a Blake a ficar comigo, fazia de tudo para não chorar. Mas chorar não é sempre ruim, precisava chorar para demonstrar que estava tentando resolver meus problemas, tentar dar explicações do porque chorava, por exemplo.
    (Hoje chorei porque percebi que todos que eu perdi, todos que eu estou perdendo, eu tive a chance de ajudar, mas meu medo prende minha coragem com algemas.)
   Era isso então? Estava chorando porque percebera que não conseguia ajudar as pessoas? Que não conseguia nem salvar quem ainda estava vivo? Talvez eu conseguisse, ainda só não tentara direito. Ou só não tinha força o suficiente.

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   Não, não é o fim da fic, mas enfim, votem e leiam!! Tem mais alguns caps e acho que logo faço o Finn voltar!
   Entrem na playlist da fic pfvr, uso ela para escrever sempre. Quero dizer um negócio pra vcs, isso de ter medo de ajudar, é algo duro porque sabemos que conseguimos, mas deixamos nosso pessimismo acabar com nossas possibilidades, não pensem assim. Não escondam os problemas, assumir eles é duro mas talvez seja mais fácil.
   Perdão por erros! Beijão do Azi!! 💋💭

ALIVE - The black phone, Robin Arellano.Onde histórias criam vida. Descubra agora