2. Vespeiro

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JOÃO

Eu estava dentro do jatinho voltando para Camellia e pensando em tudo que tinha acontecido naquele último ano que passei em Cravos. Eu sempre tive o costume de passar um tempo lá, mas aquele vez não tinha sido como as outras vezes. Ainda assim, eu teria que sorrir e fingir para todos que foi apenas um ano de missão como qualquer outro.

As aulas começariam em uma semana e tinha garantido à minha avó que dessa vez iria ficar o ano todos. Akhil já tinha me mandado várias mensagens, porque quando eu estava fora, ele assumia todas as responsabilidades, e odiava. Prometendo a todos que naquela ano eu não sairia da escola para nenhuma missão, voltei para casa louco de saudade da minha família.

Desci do jatinho e caminhei até o motorista do palácio.

— Bart, e aí — apertamos as mãos — Deixa que eu levo.

Ele jogou a chave para mim.

— Como sempre — nós entramos no carro. — E então? Como foi a viagem? Ajudou muitas pessoas?

— Eu fiz o que pude — respondi. — Lá é completamente diferente daqui. Mas é aquilo lá que dá sentido à minha vida.

— Você devia tirar mais fotos.

— Ah, eu sempre mando algumas fotos. Até porque se eu não mandar, vão aparecer pessoas lá para tirar. Só que quando estou lá é tanta correria que mal lembro disso.

— Eu imagino.

— E as meninas, como estão? Roberta já terminou a faculdade?

— Termina esse ano. Vai ser uma excelente professora. Lívia ainda vai terminar o ensino médio, mas é sempre muito dedicada, ganhou um concurso de escrita recentemente.

— Você é um cara muito inteligente, por isso suas filhas não seriam diferentes.

— Se fosse inteligente, não era motorista.

— Um motorista do palácio ganha muito mais que outros cargos por aí, porque exige confiança. Nós confiamos em você.

— E sempre serei grato por isso.

Nós chegamos e parei na porta da frente, queria entrar pelo jardim do palácio. Quando fiz isso, como sempre, uma multidão de pessoas veio até mim. Em primeiro lugar, eu tinha muitos irmãos, 10 no total e até o momento. Emanuel, que era adotado assim como eu, ele também gostava de fazer missões, ia em algumas comigo, era três anos mais novo. Inácio era o primeiro filho biológico. O que dizer dele? Era extremamente brilhante e extremamente complicado. Era como meu pai em uma versão estendida e menos madura. Depois tinha Tito, o palhaço, era o principal motivo das gargalhadas nos momentos de família. Nós nos perguntavamos se algum dia ele levaria as coisas a sério. Maria Madalena era a próxima, e primeira filha mulher, o que dizer dela? Extremamente brilhante e extremamente complicada. Madalena era de dar nos nervos, fervorosa e opiniosa como ninguém. Em seguida havia Joaquim, ou, como costumávamos dizer, a benção da família. Ele era calmo, obediente e respeitoso quase que o tempo inteiro. Não dava trabalho para ninguém. Em compensação, havia o Antônio logo depois, diziam que ele era uma junção minha e de Tito. Falava e aprontava o tempo todo. Tomás era o último dos homens, era um meninos doce e sensível. Depois tinham as três florzinhas da família, Maria Amélia, Maria Esperança e Maria de Luz.

Enfim, uma família bem grande. E era tradição, sempre que alguém da família passava muito tempo fora, todo mundo fazia a recepção. Isso só não se aplicava, é claro, ao meu pai, que sempre tinha muitos compromissos. Além disso, os empregados mais próximos sempre faziam questão de me receber, então era uma verdadeira festa. Queriam saber como foi lá, queriam saber se corri perigo, queriam saber se fiz algum milagre, se fiquei doente, se já tinha comido naquela dia, como havia sido a viagem, queriam carregar minhas coisas, queriam me abraçar, mas não muito porque eu deveria estar cansado. Mas era só papo, ninguém iria me deixar descansar tão cedo.

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