Santa Herança: Sacrifício

5. Orquídeas Rosas

LETTICIA

Meu primeiro dia foi completamente estragado, e quando príncipe João apareceu no final, tudo só piorou. Como se não fosse o suficiente, depois do jantar, Olivia resolveu vir me ver.

— Maninha, soube que faltou todo o seu primeiro dia de aula.

— Ah, então você lembrou que eu existo.

— Eu também soube do incidente de de manhã, com o príncipe João.

— Eu realmente achei que você demorou para vir aqui rir da mina cara.

— Rir da sua cara? Soube que ele passou o dia batendo na sua porta.

— Isso não é bem verdade.

— Então esse é o seu plano? Fazer com que ele corra atrás de você?

— Eu não tenho plano nenhum. Não vou ficar com o João.

— Mas é o que o papai quer.

— Ele quer um bom casamento. Não precisa ser o João.

— Ah, eu pensei que você não o desobedecesse. Não é por isso que está aqui nessa escola?

— Você não supera isso, não é? E é por que eu nem estou tentando incomodar você. Fiquei apenas na minha. Mas eu já deveria estar acostumada. Acha que tenho inveja de você, mas é bem o contrário. Eu tive um péssimo dia, então se você já disse tudo que tinha para dizer, com licença.

Ela não saiu, pelo contrário, começou a andar pelo quarto.

— Se você pedisse ao papai de verdade para voltar, ele atenderia, principalmente por causa da sua condição.

— Eu não sei do que você está falando.

Ela sorriu, e fingiu esbarrar na minha prateleira.

— Não! — corri até ela para que não caísse. Tarde demais, ela bateu contra o chão. Pude ouvir o som de vários objetivos quebrando.

Olhei estática para o chão do meu quarto enquanto Olívia sorria.

— Alteza — uma das assistentes apareceu.

— Sai daqui! — gritei para ela, que voltou para fora assustada.

— Você vai perceber em breve que não é o tipo de pessoa normal que pode conviver entre os outros.

Ela passou pela porta do quarto. Eu corri até lá e tranquei. Voltei e, com muita força, ergui a estante de volta. Minha maior felicidade, quando cheguei ali, foi encontrar meu quarto praticamente igual ao meu na Magnólia. Claro que algumas coisas não tinham a posição correta, mas o armário... O armário era minha felicidade e ela sabia disso, eu passei tempos analisando como seria colocar cada um dos objetos e livros da forma mais simétrica possível. Quando cheguei na escola e encontrei a estante da mesma forma, foi uma grata surpresa.

Respirei fundo enquanto uma lágrima descia.

— Tudo bem, Letticia, não chore por causa disso.

Meu plano não deu muito certo. Limpei tudo e deixei o armário vazio. Eu ia levar algum tempo tentando organizá-lo de uma forma razoável outra vez. Tentei não criar caso em cima daquilo, mas a verdade é que até a hora que fechei os olhos para dormir, o que foi no meio da madrugada, algumas lágrimas silenciosas ainda desciam pelos meus olhos.

Foi um péssimo primeiro dia, e eu não tinha ninguém para desabafar sobre aquilo. Eu estava sozinha.

A única coisa que me fez acordar no outro dia e ir para aula foi o meu apreço por regras e ordem. Não importava o que eu sentia, agora eu era aluna daquela escola e tinha que fazer o que os alunos fazem.