36: Transtornos

17 2 10
                                    

JOÃO

 
13 ANOS ATRÁS

Estava brincando com meu padrinho e meu irmão naquela tarde. Tio César e tio Diogo também estavam por ali com a gente.

— Vai João, você está livre! — meu padrinho gritou quando corri para o gol.

Corri e driblei o tio Césares. Jogar bola não me era algo tão interessante, mas eu sempre fazia aquilo um dia ou outro, para meus pais não ficarem tão preocupados comigo, eles eram muito preocupados comigo, mas a verdade é que, na maior parte do tempo, eu não tinha vontade de brincar de nada.

— Você está ficando cada vez melhor — ele sorriu para mim.

Um guarda apareceu e lhe chamou.

— Eu já volto — ele disse.

Andou até lá, ouviu algo do guarda e depois disse algo para meu padrinho, que pareceu aliviado.

— Vamos continuar — ele disse. — Tenho que conseguir minha revanche.

— Ah, então eu vou ter que deixar — brinquei.

— Claro que não — disse meu padrinho. — A gente não tem culpa se ele é ruim.

Meu padrinho veio driblar tio César e acabou chutando a bola para trás das árvores.

— Eu busco — falei e saí correndo.

Achei a bola escorada em um tronco, perto de dois guardas, que conversavam. Já ia me virar para ir embora quando ouvi o nome do meu irmão.

— Dessa vez foi mais sério, mas parece que agora está tudo bem.

— Graças a Deus. Príncipe Inácio ainda é tão pequeno e já passa por tanto.

Larguei a bola e saí correndo. Passei pelo tio César e pelo meu padrinho, que me chamaram, mas não respondi. Eles vieram atrás de mim. Corri o mais rápido que pude para que não me alcançassem.

Quando cheguei no hospital, encontrei minha família lá.

— João — meu avô exclamou.

Eu entrei lá dentro e vi meus pais olhando para Inácio que dormia. Eles olharam para mim surpresos, mas tudo que vi foi Inacio.

— Dom — minha mãe disse.

— João — meu pai veio até mim, mas eu me desvencilhei dele e fui até a cama de Inácio.

— Ele passou mal de novo? — falei já derramando lágrimas.

— Sim, filho, mas está bem agora — disse minha mãe.

— Mentira! — gritei para ela e comecei a soluçar. — A senhora está mentindo! Pare de mentir! Inácio, irmão, Inácio!

Meu corpo inteiro começou a tremer, minha mãe começou a chorar.

— Pode ficar aqui, eu cuido dele - meu pai me segurou e me arrastou para fora de lá enquanto eu gritava desesperadamente para que Inácio acordasse.

Ele parou comigo em um corredor.

— Escute — ele me disse enquanto eu soluçava. — Seu irmão apenas passou mal, mas agora está bem, está apenas dormindo.

— Ele também passou mal semana passada.

— Sim, e ele sempre fica bem, não é? Vamos, João, respire comigo. Faz igual seu pai.
    
— Não consigo — falei tremendo da cabeça aos pés.

Santa Herança: Sacrifício Onde histórias criam vida. Descubra agora