JOÃO
Antes de sair do palácio, eu precisava entender perfeitamente o que Inácio tinha feito. Por isso corri até o quarto dele, mas logo percebi que não estava lá.
— O que foi? — ele perguntou ao dobrar o corredor e me ver saindo de seu quarto.
— O que você fez? — andei em direção a ele. — O que você fez?!
Eu o empurrei contra a parede.
— Acredito que Letticia tenha te dado a notícia. Talvez só assim eu consiga me comunicar com você.
— Pare de tagarelar!
— Tudo bem. Eu digo. — Ele falou e eu o soltei. — Contei ao Marcus Odilli o que de fato aconteceu com aquela menina, e agora Ayo sabe a verdade e não vai usar mais a Gales para ameaçar nossa família.
— Como você é idiota.
— Eu entendi o que estava fazendo, está bem? Mas você não tem que proteger Ayo se isso arrisca os seus irmãos de verdade.
— O que seria ser irmão de verdade para você? E qual seria o limite para eu ser o seu irmão, então? É só uma causalidade?
— Ah, como sempre lá vai você. Ama falar do meu egoísmo, mas e o seu egoísmo, João?! O único motivo pelo qual considera mais esses estranhos do que sua própria família, eu sei qual é. Você ia arriscar nossos irmãos para simplesmente não magoar Ayo? Tem noção do quanto isso soa tosco? Tudo isso só porque vê neles o garoto perdido que você foi! Se isso não é a droga de um grande egoísmo então me explica a sua grande benevolência, perfeito João.
Não pude me conter, e as razões eram óbvias. Quando vi, estava partindo para cima do meu irmão. Ele desviou, e começamos a lutar.
— Marcus não irá dar a informação a Ayo — falei quando o derrubei no chão. — Ele dará a Soren.
Ele me empurrou e caímos os dois no chão, mas levantamos rapidamente.
— O que tem a ver? Eles trabalham juntos.
— Ela era filha dele! E agora ele sabe que foi Ayo que a matou. Mas nem mesmo o Ayo sabe disso. Soren irá matá-lo, se é que já não matou. E a culpa é sua!
— Que mate! — ele gritou. — Ele é inimigo da nossa família! A menina morreu porque ele tentou matar você! Eu não me importo!
Eu dei um soco e dessa vez acertei.
— Eu não me surpreendo! — gritei.
Foi nesse momento que as portas dos quartos começaram a abrir.
— Eu tenho vergonha de ser seu irmão! De ser próximo de alguém como você! — cuspi.
Ouvi a voz do meu pai chamar.
— Deixe, pai! Deixe que fale o que quiser! Mas nada vai mudar o fato de que, se Ayo estiver morto, a culpa é totalmente sua, João. Porque você teve inúmeras chances de me contar o que estava acontecendo, mas não contou.
— Tudo que você tinha que fazer é ficar fora da merda da minha vida! — gritei.
— Sabe o quê, João? Talvez essa seja uma perfeita lição para você. A morte de Ayo vai te ensinar que as coisas que você faz sem medir as consequências implicam graves danos.
Olhei para ele sem acreditar no que tinha dito, mas sem ter tempo para continuar aquela conversa.
— Quer saber? Eu nunca senti tanto nojo de você, Inácio.
— João! — disse minha mãe.
—João, João, João. Não acha que está na hora da nossa família saber por que você anda por aí estragando tudo?
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Santa Herança: Sacrifício
Roman d'amourE se, na verdade, a história não acabasse naquela histórica coroação? A verdade é que, para compreender a grandiosidade de Anna e Dominique, é necessário que conheçamos a história de seus filhos, a história da família cruz. Por essa razão, agora dar...