11. Um Fardo

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LETTICIA


As percepções sobre aqueles últimos dias eram as seguintes: 1, nunca fiz algo tão divertido na vida quanto organizar aquele evento. 2, eu me surpreendi com João e com sua predisposição em ajudar em quase tudo, o que não foi tão bom porque, 3, discordávamos bastante.

Depois de pensar bastante, optamos por transformar nossa festa em um café da manhã com jogos. Era uma forma de ter minha elegância e a diversão dele na nossa festa. Existiam muitas pessoas naquela escola com quem eu poderia ter caído, mas foi acontecer logo com o serelepe do circo.

Aqueles dias me permitiram observar bastante o príncipe João, ele era uma pessoa completamente expansiva, o que era muito distante de quem eu era. Ele sabia puxar conversa, e em determinado momento passei a admirar isso, ou invejar. Todo mundo queria estar perto dele, ele sempre parecia estar por dentro de tudo.

Quando algum problema na organização surgia, ele sempre conhecia alguém que poderia resolver, sabia conversar, sabia negociar. Enquanto João armava os jogos e o ambiente, eu me atentei aos detalhes da festa, como a comida, a decoração e, principalmente, a escolha das flores, sendo um evento diurno, não era qualquer flor que caia bem sem parecer um casamento. Só nessa parte demorei bastante, por fim escolhi os Lírios Brancos, escolha que foi aprovada pelos demais integrantes.

Aos poucos, como sempre acontecia com alguém depois de passar um tempo comigo, os integrantes do meu grupo foram notando as minhas manias. Marcelo e Nita não falavam nada, provavelmente só me achando esquisita. João, no entanto, já que não tinha papas na língua, gostava de me indagar.

— Por que não larga esses cartões? — ele perguntou quando estávamos no corredor a espera de nossos convidados naquela noite.

— Será por quê? Você deixou tudo bagunçado, virado para trás, de cabeça para baixo.

— E quem se importa?

— Eu me importo.

— Por quê?

— Pare de falar, estou organizando o que você inventou.

— Achei que tivesse gostado.

— Eu só não detestei.

Aquilo era, com toda a certeza, um eufemismo. Eu havia adorado aquela ideia de João. Era a seguinte: os cartões nas minhas mãos eram passes de rodada. Os convidados teriam que comprar uma chance de jogar. O que me agradou naquela ideia era que tudo ficaria mais organizado e nenhuma jogo ficaria superlotado. Já João teve a ideia porque percebeu que era uma oportunidade a mais de arrecadar dinheiro para caridade. Ele queria mandar para um orfanato que conheceu em Cravos. Era claro que cada um daqueles cartões nas minhas mãos valia uma fortuna, o que não podia ser diferente, já que aquela era uma escola de príncipes e princesas.

Príncipe Emanuel apareceu correndo.

— Nada ainda? — ele perguntou.

— Ainda não.

— Por que está aqui? — perguntei.

— Vou jantar com vocês — ele respondeu. — São meus padrinhos.

—Negativo — eu levantei do banco em que eu estava. — A recepção e o jantar de recepção só podem ser feito pelo grupo anfitrião, você não é do nosso grupo.

Emanuel me olhou estranho. João se levantou e deu dois tapinhas no meu ombro.

— Está vendo com o que tenho que lidar? — Ele suspirou. — Princesa Letticia, não seja tão dura. Eles vão embora amanhã logo depois da festa.

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