29. Não Me Desafie

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LETTICIA

— Muito bem, irmãzinha — Olívia andou ao meu lado pelo corredor naquela manhã. — Mais três dias e o orbe é seu.

É, ela sabia como me manipular. Olívia disse que eu teria uma tarefa final antes de ganhar o orbe, que era passar duas semanas sem falar com João. As coisas já não andavam muito bem e eu sabia que aquilo só pioraria tudo, mas eu precisava do orbe. Eu precisava.

— O que tem acontecido? — Nita me perguntou quando sentei com ela no café da manhã naquele dia.

— Eu já disse...

— Que é coisa sua. Ainda assim estou curiosa, conseguiu o que todas as princesas e nobres querem e ele parece ter simplesmente sumido da sua vida.

— É complicado.

— Tome cuidado, ou vai fazer jus ao que sua irmã diz de você.

— Cale a boca.

Olhei para João de longe, estava sentado com o irmão e outros amigos. Em pouco tempo aquilo acabaria e poderíamos voltar a como estávamos antes, como cão e gato.

Os dias com João eram bons, por mais que fôssemos completamente diferentes. Mas ele parecia estar ao meu lado, mesmo que fosse estressante, e aprendi a apressiar aquilo.

Esperava que ele não estivesse tão irritado comigo quando aquilo acabasse, mas então eu teria o orbe e tudo se apaziguaria.

Na primeira aula daquele dia, ele me passou um bilhete. Abri e li, estava escrito:


Condessa Letticia Berthold.


— O que é isso?

— Fique depois da aula e conversamos.

— Não posso.

No fim da aula, estava prestes a ir embora, mas ele segurou meu braço.

— Fique.

— João.

— Fique! — ele foi mais incisivo.

— Por favor, seja rápido.

— Conversei com meu pai e ele aceitou lhe dar título e propriedade aqui em Camellia.

— Como assim?

— Assim poderá terminar comigo sem precisar voltar à Magnólia, ou então poderá usar isso como poder de barganha com seu pai.

— Do que você está falando?

— Que pode terminar comigo.

— Quer terminar comigo?

— Não, mas acho que você quer, e não faz porque seu pai não deixa. E, sabe... Isso dói um pouco, então não precisa ser nós dois a sofrer.

— Eu não quero... João... — respirei fundo.

Como poderia contar a ele a razão de estar distante? Ele iria rir de mim. Ele ia me achar uma idiota, ele não iria compreender. Isso se acreditasse. Mas eu não conseguia agir diferente. Por Deus, eu queria aquele orbe, e não queria fazer nada que me arriscasse perdê-lo.

Sai rápido de dentro da sala o mais rápido que pude, sem lhe dar qualquer resposta, sem nem mesmo conseguir explicar por que fiz aquilo. Era isso que ia acontecer se eu continuasse com aquilo? Eu perderia João? Eu não queria perder João, eu não podia perder João. Quem mais eu teria?

Fui para a próxima aula em completa agonia, passei boa parte do tempo tentando organizar meu estojo, mas nunca ficava perfeito, nunca estava como eu queria, e a cada aula, eu o bagunçava outra vez. Em determinado momento, passei a andar de um lugar para o outro com o estojo na mão.

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