Parte I - Capítulo VII

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A água cobria Estrith totalmente. Parecia estar em um mar profundo, porém seu corpo não afundava mais do que já estava submerso. Por mais que estivesse coberta do líquido, não o sentia molhar. Ela reparava nesse fato que a deixou fascinada. Mexendo sua mão direita, a garota sentia como se seu corpo estivesse dormente. "A água flui entre os meus dedos, mas não a sinto... Será que é um sonho" pensou ela. Sua respiração continuava normal como se estivesse em terra firme. Seus olhos contemplam o vazio a sua frente. De repente, um pequeno ruído é emitido pelo vasto mar. Estrith não nota nada e continua olhando para sua frente. O ruído aumenta, e já se torna audível. Era a voz de alguém e parecia vir de trás dela. Subitamente Estrith torna para a direção do som. "Não há nada aqui..." concluiu ela. A voz aparenta estar mais próxima e continuava atrás da moça. Ela torna para trás. Nada. O som começa a ficar mais auto e mais frenético. Palavras como "minha", "meu", e outra palavra: "pupilo". Estrith começa a girar, olhando em todas as direção sem conseguir ver nenhuma pessoa sequer. Seu olhar desesperado começa a vagar pela imensidão. Aquilo parecia assustador para ela. Ela tentava gritar "quem está aí!?", mas nada saia da sua boca. Isso a deixava tensa. Sua respiração fica ofegante e ela pressionava as mãos contra a cabeça esperando que a voz parasse. De repente, a voz desaparece. "A voz parou..." pensou ela. O silêncio toma conta do ambiente. Um certo ar de alívio toma conta do coração da moça. A garota sente algo pressionando seu corpo delicadamente. Ao mesmo tempo, duas mãos surgem de trás dela se estendendo na sua frente. A sensação de pavor volta a reinar. Os braços, agora visíveis, começam a se envolver no pescoço de Estrith como um abraço. Um leve sussurro é ouvido em sua orelha esquerda: "meu pupilo, meu amor". Subitamente a garota perde o ar.

A água começa a molhar o seu corpo e ela sente uma sensação de afogamento. Os braços não a envolviam mais, porém o pavor por sentir-se em perigo naquela água a deixavam com bastante medo. Ela começa a se espernear, tentando ir para a superfície, mas sem sucesso. Seus olhos, assustados, começam a contemplar a imensidão de uma visão turva. Aos poucos, a claridade ia diminuindo, até restar o completo vazio da escuridão.

- Socorro! - grita a moça acordando subitamente. Sua respiração era ofegante e os olhos ainda mantinham uma expressão de pavor. A mesma olha o ambiente. "O que estou fazendo aqui... Onde está o meu..." pensou ela, o bastante para se lembrar que a palavra "pai" ia começar, a partir de hoje, ser usada com menos frequência. Seus olhos começam a se encher de lágrimas. Hayato estava ao seu lado com as mãos em seu ombro desde o instante que ela acordou aterrorizada.

- Sei que foi difícil. Já perdi vários amigos da mesma forma. - disse o monge. A garota não respondia nada, apenas chorava amargamente. O homem põe sua mão levemente sob os cabelos dela, fazendo um terno carinho, tentando consolá-la da maneira mais singela possível. Era só o que podia fazer. Não havia outro meio de consolar alguém que perdeu sua única família. - Isso não irá passar. Não diria para esquecer o passado, pois nunca isso foi possível. Apenas, tente descansar um pouco.

- Como posso descansar, sabendo que nunca mais verei as pessoas que amam. - disse Estrith. Na sua cabeça, um flash de memórias começa a passar em sua cabeça. "Pai... senhor Harold... O... Oliver!?" sua mente clareia rapidamente. A moça tira a coberta de suas pernas e se põe de pé, correndo desesperadamente em direção do fusuma, arrastando-o para o lado esquerdo. - Eu tenho... Tenho que trazer ele comigo!

- Ele? Quem? - pergunta o monge. A garota não responde. Do lado de fora do quarto, Estrith se depara com um local florido cheio de cerejeiras cujas as pétalas estavam caindo sobre o solo delicadamente. Ela contempla o lindo lugar de maneira confusa. A mesma olha para os dois lados como se estivesse procurando a saída. Dois monges olhavam para a garota sem entender muita coisa. Eles se entreolhavam. A passos rápidos, Estrith se aproximava da dupla que observava a mesma.

Pentandade Lendária: A Estigma DivinaOnde histórias criam vida. Descubra agora