Juilliard (hyunlix)

8

FELIX

Depois de umas duas semanas de todo o caos foi que as coisas voltaram a ser o mais próximo do normal. Meus pais ainda estavam brigados, mas minha mãe havia voltado a responder minhas mensagens, embora de maneira mais seca e curta. Minho continuava não falando com eles, mas, pelo que me dizia, eles não haviam deixado de mandar dinheiro para nós. Falando em Minho, ele e Han ainda não haviam voltado a ser como eram: se falavam poucas vezes na faculdade, não andavam mais juntos e Minho parecia fazer um certo esforço para evitar Jisung. Em contrapartida, Minho estava indo cada vez pior naquela semana de provas. Havia errado uma sequência de passes numa apresentação, caiu enquanto se apresentava para uma banca de olheiros e não conseguiu gravar uma coreografia que ele deveria ter apresentado ontem.

Han ainda aparecia lá em casa, um dia sim e outro não, mas dessa vez era para conversar comigo. Com toda essa briga, havíamos nos aproximado mais e agora Han também podia ser considerado meu melhor amigo - e estava sendo muito legal, porque Minho quase não falava e eu havia perdido a amizade de Hyunjin. Quando ele vinha, Minho se trancava no quarto ou saía e ficava horas na rua. Ou, as vezes, trocava algumas palavras com Han, mas sempre desistia quando o ex melhor amigo notava suas olheiras ou tocava no assunto de como ele estava indo mal nas aulas. Minho odiava esse assunto, tanto que nem eu me atrevia a dizer algo.

Em relação a Hyunjin, fazia duas semanas que não trombava com ele em lugar nenhum, nem na faculdade. Mas sabia que ele não estava faltando, pois quando tinha exposições, sempre havia algum quadro seu ali. O último foi o retrato de um girassol com as pétalas caindo, e era impressionante o realismo naquele desenho. Fiquei tentado em mandar uma mensagem elogiando ele, mas me sentia péssimo depois do que aconteceu. Se ele falou o que falou, foi porque eu disse o que disse. Como poderia chegar como se nada tivesse acontecido? Não tinha como, mesmo que Han já tivesse me dito como fazer.

E, pelo que Han falou, Hyunjin parecia diferente. Pelo que ele ouviu de Seungmin, o menino parecia não conseguir dormir como antes e estava tendo bloqueios de criatividade, por isso seus quadros estavam sendo coisas simples e do cotidiano.

— Você vai pra aula hoje? — pergunto para Minho enquanto tomamos café da manhã em silêncio. Fazia dois dias que ele não ia, porque queria ficar treinando a coreografia que iria apresentar amanhã em um teatro e ainda não havia aprendido nem metade.

— Não — Minho responde com a boca cheia de cereal. Suas olheiras estavam escuras e grandes embaixo de seus olhos.

Suspiro.

— Por que você simplesmente não conversa com ele? É um motivo tão besta... e você está uma merda, vale mesmo a pena ficar assim por causa daquilo? — Me atrevo a perguntar, mesmo sabendo que ele poderia ficar tão irritado comigo a ponto de começar a me ignorar também.

— Você nunca gostou de alguém então eu não espero que entenda — ele responde, levantando e saindo da mesa, deixando a tigela de cereal pela metade. Suspiro chateado e afundo na cadeira, perdendo a vontade de comer o pão torrado que Minho me fez.

Poucos minutos depois, duas batidas na porta me tiram dos meus pensamentos e me levanto da cadeira, indo até a porta e abrindo para encontrar Han. Nesses dias que Minho não estava indo para a aula, ele estava me dando carona. Era quase como se fosse meu outro irmão mais velho.

— Tá pronto? — ele pergunta, com um sorriso no rosto enquanto entra em casa com uma mochila nas costas. Han vestia uma calça jeans escura, botas pretas, uma camiseta branca e por cima dela uma blusa oversized com listras grossas em rosa, azul escuro e laranja. Com certeza ficaria horrível em qualquer pessoa, mas nele parecia... bonito. — Ele não vai pra aula de novo? — pergunta, olhando para a porta fechada do quarto do meu irmão.