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FELIX

Meu corpo tremia de frio enquanto meus pés andavam apressados pelas ruas da cidade, desviando das pessoas e dobrando em esquinas que eu não era familiarizado. O vento frio bagunçava meu cabelo e gelava a ponta do meu nariz, me fazendo abraçar meu próprio corpo enquanto tentava me proteger dele. Ter saído de casa apenas com uma blusa e uma bermuda havia sido uma péssima ideia.

Mas eu estava tão irritado com Minho que sequer pensei antes de fazer: saí de casa batendo portas e corri pelas escadas do prédio, até finalmente estar na rua. Óbvio que não foi uma decisão nem um pouco pensada, porque se tivesse, eu teria apenas me trancado no meu quarto.

E agora eu acho que estava perdido. Meu celular não estava no bolso da minha bermuda, e estava de noite. Apesar de ainda ter algumas pessoas caminhando pelas ruas de Nova Iorque, eu jamais conseguiria pedir ajuda delas. Provavelmente ficaria perdido para o resto da vida. Provavelmente preferia isso do que ter que falar com um completo desconhecido.

Cruzo a rua assim que o semáforo de pedestres abre, percebendo que já havia passado por aquela loja da Macy's - ou seria apenas mais uma? - quando esbarro em alguém desatento.

— Desculpa — o garoto pediu, ainda com os olhos abaixados para a tela do seu celular. Mas, mesmo assim, eu o reconheci. Era o mesmo garoto que esbarrou em mim mais cedo, quando estava na frente de Juilliard. Só que agora ele estava com uma roupa mais despojada e não carregava uma mochila, nem um quadro. Era fácil reconhecer aquele cabelo tingido de preto. — Oh! — ele disse ao levantar seu olhar para mim.

Franzo o cenho. O que ele tinha visto em mim que o deixou surpreso? Será se também me reconheceu de mais cedo?

— Você... ahn — ele pareceu mudar de ideia sobre falar o que quer que fosse falar, mas continuou assim que pensou em outra coisa para falar: — está perdido? — perguntou casualmente. Olho em volta. Ele falava mesmo comigo? Ah não...

Mas assinto que sim com a cabeça. Eu realmente estava perdido e não sabia usar o metrô. Nem em que rua meu apartamento ficava. Como eu iria voltar para casa? Estava fodido.

— Você é coreano? — perguntou de novo, se aproximando mais de mim e analisando meu rosto. Dei um passo para trás, as perguntas e a aproximação repentina me deixando nervoso. Engulo em seco, ele me olhava esperando uma resposta, eu deveria respondê-lo...

— Descendência... — murmuro envergonhado. Agora ele acharia que eu tinha algum problema mental para sequer conseguir conversar.

— Ah! Seus pais? Avós? Você é novo na cidade, não é? Para ter se perdido... — ele falava rápido, olhando em volta por um momento antes de continuar: — já conheceu a Times Square?

Nego com a cabeça.

— Você deveria! É a duas quadras daqui, quer ir lá? É bem legal de noite! — ele estava animado, parecia que me conhecia há anos, e aquilo me deixava mais acanhado. Me afastei mais dele, desistindo de pedir sua ajuda, mas o garoto agarra meu pulso com suas mãos geladas e começa a me puxar pela calçada enquanto falava sobre a primeira vez que pisou na Times Square. Meus ouvidos não ouviam nada do que ele falava, enquanto olhava em volta tentando pedir ajuda para alguém. Mas minha voz não saía, e tudo que eu fazia era olhar assustado para as pessoas, que viravam a cara para mim.

No fim, me deixei vencer. Me deixei confiar naquele garoto, pois pelo menos sabia que ele também era de Juilliard. Talvez ruim ele não fosse. Meus pés tropeçam uns nos outros enquanto atravessamos a faixa de pedestres, meu olhos enxergando um enorme clarão ao final da quadra. Tão claro queneu poderia jurar que estava de dia.

Juilliard (hyunlix)Onde histórias criam vida. Descubra agora