1

699 94 125
                                    

MINHO

Só acreditei que tudo daria certo quando desembarcamos do avião em Nova Iorque. No aeroporto, como eu já esperava, foi péssimo. E, por um minuto, podia jurar que Felix realmente ficaria em Dakota do Sul com nossos pais, e eu perderia o apartamento e o dinheiro mensal.

Não sou egoísta, mas quando disse que iria sair de casa para ir para Juilliard, nossos pais surtaram. Apesar de todo o trabalho que dei no ensino médio e de não ser um filho que obedece a tudo como Felix, eles me amavam e jamais esperavam que eu fosse sair de casa. Com isso, brigamos feio, e tudo que eles me desejaram no dia da minha ida foi "bons estudos". Não me importei com isso, claro, mas eles realmente se esqueceram de mim. A única coisa que recebia eram mensagens de feliz aniversário ou feliz natal. 

Não foi nada fácil ter que trabalhar e estudar, porque Juilliard era mais difícil do que eu imaginava, e como fazia o curso de dança, era mil vezes pior. Algumas vezes cheguei a praticar até três da manhã para uma apresentação em grupo, e tive que estar de pé às seis para ir pro trabalho. 

Então é óbvio que eu não queria que Felix desistisse da faculdade. Agora, tínhamos um apartamento nosso, o que significava que eu não precisaria me preocupar em ter que pagar aluguel, e eles mandariam dinheiro todo mês. Não precisaria mais trabalhar. 

Poderia focar apenas na faculdade, e isso era incrível.

— Vamos ficar esperando as bagagens agora. Vai encher de pessoas. — Aviso Felix assim que entramos na área de desembarque, onde ficavam as esteiras para as malas. Sabia que daqui a pouco isso aqui lotaria com pessoas de vários voos.

— Não dá pra pegar em outro lugar? — ele perguntou, me seguindo como se fosse um cachorro perdido. Reviro os olhos.

— Não, e nem é rápido. Só... fica perto, ok? Ninguém vai puxar conversa com você — talvez esse fosse o maior medo de Felix: um desconhecido puxar assunto com ele. Mesmo que fosse apenas por cordialidade. Ele preferia ser ignorado do que ter que passar por isso. 

Encontro a esteira do nosso voo e vejo as primeiras malas começando a aparecer enquanto mais pessoas começavam a desembarcar e vir atrás de suas coisas. Seria péssimo se Felix tivesse um ataque de ansiedade no primeiro minuto longe de nossos pais. Ele com certeza contaria para mamãe mais tarde, e então ela viria buscá-lo.

Adeus apartamento e dinheiro.

— Ei, pode ir buscar um daqueles carrinhos ali? — peço para ele, apontando para um canto onde haviam fileiras e fileiras de carrinhos de aeroporto — você despachou três caixas e duas malas. — expliquei, assim que ele franziu o cenho sem entender.

Felix olhou em volta, e, quando percebeu o quão cheia e barulhenta a sala de desembarque estava ficando, assentiu com a cabeça. Voltei a olhar as malas e caixas que passavam lentamente na esteira, tentando identificar as de Felix. Será se ele tinha colocado seu nome nelas? Droga...

Depois de alguns minutos, identifico uma das malas de Felix e a tiro da esteira com um pouco de dificuldade. Sinto meu celular vibrar dentro do bolso da calça mas ignoro ao ver duas caixas dele se aproximando também. As puxo depressa. Ótimo, agora só faltava uma caixa e uma mala. 

Meu celular continua vibrando insistentemente mesmo minutos depois, e, quando finalmente pego a última mala dele, puxo o celular do bolso e vejo que era minha mãe.

— Oi mãe — falei, olhando em volta e percebendo que Felix ainda não havia voltado. E os carrinhos não estavam tão longe assim. 

— Ah, finalmente! Felix não me atendeu, está tudo bem? Chegaram bem? Onde estão? Cadê Felix? — ela falava tão rápido que eu sequer conseguia entender, pois começava a olhar em volta preocupado. Onde Felix havia se enfiado? Será se ele se perdeu? Merda, merda, merda...

Juilliard (hyunlix)Onde histórias criam vida. Descubra agora