Capítulo 2 (A.f)

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Na manhã seguinte, Merino deu o ar de sua graça, gritando ordens para os tripulantes. Não tinha pena da ressaca que alguns expressavam com clareza, em gemidos de dor.

― Desamarrar o navio! soltar as velas! Içar âncora! ― ordenava com imponência, no centro do navio. Seus enormes cachos ruivos, bem comportados em um rabo de cavalo baixo, davam um aspecto militar para Merino.

Jacob bocejava, olhando o sol nascer, enquanto o navio ia em direção ao mar aberto. Estava na proa, olhando para as águas inquietas como quem pedisse "Não me tire muito dessa vez".

De repente, o som de alguém vomitando em desespero lhe chamou atenção. Virando o rosto, ele viu ao canto da proa, Pheli'n. Estava debruçado sobre o corrimão, parecendo estar bem mexido pela maresia.

― Ei! Marujo ― Jacob chamou, assustando um pouco Pheli'n, que se virou para ele, limpando a boca. ― Tudo bem?

― Aham ― Pheli'n gemeu, antes de voltar a se debruçar no corrimão, se entregando ao enjoo. Jacob correu até ele de imediato.

― É a maresia? Ou comeu algo estragado? ― perguntou, segurando os ombros do marujo, dando apoio enquanto ele voltava a se recompor. Terminando de vomitar, Pheli'n levantou, ofegante.

― Acho que a primeira opção... Minha cabeça está tão tonta ― ele se jogou contra o corrimão, como um apoio para se manter de pé. ― Deus, eu quero morrer.

― Hahahah ― Jacob não conteve a risada, abrindo um sorriso carismático. ― Nunca esteve em um navio, não é mesmo?

― Não... ― gemeu, ainda com cara de quem comeu lesma.

― Uau! ― Jacob teve uma leve surpresa. ― Isso é novo. Mas tudo bem, sabe? Não é um monstro de sete cabeças. Você pega o jeito.

― É. Eu vou me virar ― Pheli'n acrescentou.

― Cresceu na casa da Ruth? ― Jacob perguntou, interessado em conhecer o recém-chegado.

― Eu tenho pais, tá bom? ― Pheli'n voltou nos próprios pensamentos. ― Pai. Na verdade. E... dois irmãos adotivos. É um pouco bagunçado, mas, enfim, eu tenho família.

― Oh, desculpe ― Jacob estava numa mistura de surpresa e confusão. ― É que... Sabe. Normalmente os marujos estão buscando uma vida, por não terem nenhuma. E você... ― ele parou de falar, como se o olhar de Pheli'n lhe tirasse as palavras. ― Você tem.

― Isso é estranho? ― Pheli'n estava confuso com a surpresa de Jacob. Até esqueceu de sua náusea.

― Não. Mas... Por quê? ― Jacob ainda sorria, de uma forma boba que parecia impossível de parar. ― Por que veio pra cá, se tem uma vida completa?

― Completa? ― Pheli'n sorriu. ― O que é uma vida completa sem adrenalina?

― Então é isso que busca? Adrenalina?

― Ai ― Pheli'n respondeu. Agora ambos compartilhavam do sorriso bobo. Um sorriso que aboliu qualquer palavra, deixando ambos em silêncio, apenas se olhando, como se tivessem descoberto um novo horizonte.

― Jacob ― Sarah surgiu de repente.

― Sarah! Oi! ― Jacob se virou em um susto breve. ― Você... Tá linda hoje.

― Hm ― ela fez, inexpressiva. ― O capitão quer te ver.

Jacob assentiu para ela, sem conseguir esconder o nervosismo em que estava. Olhou rapidamente para Pheli'n, antes de descer as escadas, acompanhando Sarah.

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