Capítulo 29 (A.f)

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Em um pôr de sol quase sem cor devido ao acúmulo assustador de nuvens no céu, com o mar agitado e uma brisa fria, o Inevitável foi recebido com uma população de aldeões emocionados. Sempre havia emoção com a chegada de tal embarcação. No entanto, ao notarem o estado do navio e seus tripulantes, os sorrisos eufóricos se transformaram em olhos arregalados e buxixos curiosos.

Escoltando os prisioneiros acorrentados, o Capitão descia a rampa do navio junto de Sarah e Jacob. Atrás deles, o resto da tripulação descia ao cais, cambaleando pela mudança de solo.

― Piratas? ― Ji-ham pôde notar uma moça de seios fartos cochichar com um homem barbudo. Mas o homem não respondeu. Apenas tirou o chapéu, assim como todos que apreciavam a chegada dos caçadores.

Naquele momento, a postura da população acolhia os marinheiros como uma rede de apoio. Em respeito pelas vidas perdidas, faziam silêncio perante o navio destroçado. Reconhecendo a força dos sobreviventes, observavam sua passagem pelo cais com uma postura firme. Isso era algo que a realeza só recebia por cobrar, mas os caçadores... eles conquistaram.

― Como se sente? ― Pheli'n se aproximou de Ji-ham, colocando o braço em volta dele como forma de apoio para ambos, pois estavam cambaleando.

― Ah... ― Ji-ham olhou seu pulso direito, coberto por panos. O ferimento não doía mais tanto, embora sua amputação estivesse longe da cicatrização. ― Bem.

― Não tô falando disso.

― Eu sei... ― Ji-ham mantinha o olhar baixo. Não conseguia olhar a população que os recebia em silêncio. Seria tolo esperar que seu pai ou seu irmão estivessem ali para vê-lo chegar.

― Vai ficar tudo bem ― Pheli'n o olhou nos olhos, de modo que ambos pararam para conversar. ― Você matou o Capitão pirata. Salvou a todos...

― Eu não fiz mais do que ninguém ― Ji-ham interrompeu. ― Todos ajudaram de alguma forma.

Você tirou o controle deles sobre as sereias. Você descobriu a fraqueza delas: a luz do sol. E aquela faca? Voou magicamente na cabeça daquele pirata, quando estávamos sem saída? ― riu brevemente. ― Todos lutaram, porque você nos deu essa chance. Fez mais que todo mundo sim!

― Matar o tal do Tãnk foi o que matou o Bosco. Se eu não tivesse feito isso...

― Tênio era um maluco! Teria matado todo mundo de qualquer forma.

― Mas eu...

― Você lutou até o fim! ― Pheli'n interrompeu Ji-ham para esclarecer, e pela mudança súbita no olhar dele, pareceu funcionar. ― Se entregou de corpo e alma na batalha, matou o Capitão dos piratas! Pode não ter o chifre de uma fera, mas... ― na pausa de sua fala, olhou o pulso enfaixado de Ji-ham, abrindo um sorriso. ― Não está de mão vazia.

― Hahaha ― Ji-ham soltou uma gargalhada breve, balançando o corpo, comprimindo os olhos à medida que mantinha seu sorriso. ― Obrigado, cara.

― Olha! ― Pheli'n apontou para uma direção na multidão. ― Meus irmãos!

― Uau... ― Ji-ham ficou alguns segundos procurando as palavras certas. ― Não são muito parecidos com você.

Não eram mesmo. Ambos os gêmeos de cabelos densamente escuros, em um corte baixo, tinham um porte físico avantajado, maxilar bem marcado, sobrancelhas grossas e uma estatura semelhante a de Jacob. Não eram nada parecidos sequer com o pai, que estava entre eles. O senhor era de uma estatura baixa como Pheli'n, e embora não fosse ruivo, seus cabelos marrons lembravam muito a tonalidade do filho. Seu rosto tinha traços mais finos, assim como o resto do corpo. Era praticamente uma versão mais velha do filho ruivo, tendo apenas mais pelos no rosto, rugas, e um nariz maior.

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