Capítulo 26 (A.f)

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No convés, Sarah e Merino ainda lutavam com piratas. Alguns estavam no chão, gemendo de dor, se não inconscientes. Elas lutavam, usando do mastro principal para chutar os marinheiros na direção. Era uma boa técnica para adormecer os piratas.


― Ah, se eu tivesse minhas pistolas... ― Sarah lamentou. Odiava espadas.

Já Pheli'n, no alto do navio, fazia sua festa. Ria dos piratas tentando pegá-lo, pois ninguém acompanhava seu ritmo. Eles perdiam mais tempo tentando se equilibrar, do que pegar Pheli'n.

― E vocês são marinheiros? ― Pheli'n zombava. Usava cordas para saltar de um lado ao outro, fazendo os piratas persegui-lo como bobos. Dos quatro que tentaram acompanhar, só sobraram dois.

Mas então algo chamou a atenção de Pheli'n, dando certa preocupação a ele. Na proa do outro navio, o Ánarquez, Pheli'n via entre a neblina que era empurrada pelo vento, Ji-ham lutando contra o Capitão dos piratas. Ambos lentos pelas suas incapacidades. Um envenenado, e outro com uma faca atravessando a mão direita.

― Ji-ham... ― Pheli'n decidiu ir até lá. Mas precisava tirar os piratas do seu encalço primeiro.

Ji-ham sentia estar lutando contra um búfalo. Os golpes de Enoque eram uma porrada que mataria; mas ele era ágil para desviar. Precisava ser, ou morreria. Também tentava golpear, mas era um tiro que saía pela culatra. Além de ser destro, o que tornava sua luta com a mão esquerda mais difícil, a cada movimento que fazia, a faca mexia sua lâmina na carne de Ji-ham. O corte ardia, de modo que ele queria gritar, cogitando largar sua espada e se entregar. Aquela luta era uma tortura, mas Ji-ham não lutava apenas por si. Lutava pelo Inevitável... Por Pheli'n.

Gemendo de agonia em cada golpe que efetuava, Ji-ham lembrava das vezes que, após perder para seu irmão em uma brincadeira de espadas (que eram galhos), insistia em lutar com ele novamente. Queria vencer e mostrar que era tão hábil quanto o caçula; mas perdia incessantemente.

Em todas as disputas, Ji-ham era o mais forte, mas Kim vivia dizendo: "do que adianta ser o mais forte, se eu sou mais rápido?"

Naquele momento, a frase em sua mente ficou clara. Via ela materializada ali. Enoque era forte como um búfalo, mas lento como uma preguiça. Ele dava golpes tão pesados que podiam matar, mas por serem lentos, Ji-ham nunca era atingido.

"Você precisa ser inteligente pra enxergar os pontos fracos do oponente e usar isso para vencer... Ji-ham, não pode contar com esses braços aí, fica esperto, cara!"

Outra frase que foi clareando em sua mente. Ele notou o ponto fraco de Enoque. Além de ser lento, ele cansava rápido. Estava, além de ofegante, cambaleando. O veneno estava o deixando debilitado.

Ji-ham podia, e ia vencer. Tinha tantas aberturas para acertar Enoque, que ele só não havia feito ainda por estar desacreditado que finalmente podia vencer. A cabeça de um pirata, um Capitão... Seria seu troféu. Teria seu nome entre os matadores de piratas... E seu pai não poderia mais dizer que ele estava desperdiçando a vida.

"Não pode ficar na fazenda pra sempre, Ji-ham! Veja seu irmão... Será um bravo cavaleiro. E você? Fazendeiro? Não seja fraco! Você pode mais que isso! Veja, é tão forte quanto seu irmão. Tem os mesmos braços fortes. Vai usar isso para alimentar vacas?"

Não, pai... Ji-ham focou o olhar. Se abaixou, desviando de um golpe que tentou cortar sua cabeça, e levantou com um contragolpe, enfiando sua espada na barriga de Enoque. Metade da lâmina estava o perfurando, enquanto a outra metade mantia a distância entre os dois.

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