Sailor's Love

Capítulo 4 (A.f)

Naqueles segundos de silêncio, Pheli'n tentava processar seu grande feito. Salvou Jacob, todo o navio, e matou a fera.

― Aye! ― a comemoração eufórica de Ji-ham quebrou o silêncio. ― Mandou bem, Thompson!

Após a fera morrer, seus tentáculos soltaram o navio, permitindo que ele voltasse a ficar na posição correta. Todos estavam se recompondo com o fim da batalha.
Jacob estava sem palavras, mal sabendo como ir até seu herói e lhe agradecer. Se preocupou tanto com Pheli'n, o achando incapaz, mas no fim de tudo foi salvo por ele. Precisava dizer algo, não apenas agradecer, mas se redimir por menosprezar o rapaz. Assim, caminhando entre os marinheiros desacreditados, Jacob chegou até o jovem ruivo. Ambos estavam molhados, em uma troca de olhar hipnótica. Pheli'n engolia em seco, nervoso com a presença de Jacob. E o jovem caçador, após novamente ficar perdido no olhar de Pheli'n, tomou coragem para falar.

― Você salvou minha vida... Serei eternamente grato ― Jacob não sorria, pois a seriedade daquela promessa não permitia. Olhou firmemente nos olhos de Pheli'n enquanto proferia as palavras. Jacob era o tipo de homem que pagaria aquela dívida com a própria vida se fosse necessário algum dia.

De repente, o capitão apareceu, segurando em suas mãos os dois lados do bico do polvo. Ele havia pulado no mar para serrar e trazer consigo, antes que o bixo sumisse nas profundezas do oceano. O capitão então caminhou diretamente até Pheli'n.

― Isso lhe pertence, marujo ― disse, entregando um lado bico para Pheli'n. O rapaz ficou admirado, segurando o osso pontudo com as duas mãos. Ao olhar para o Capitão novamente, recebeu dele um sorriso orgulhoso. Então o homem se virou para a tripulação, levantando o outro lado do bico com ar de imponência. ― E isso, marujos, pertence a nós!

― AYEE! ― todos gritaram em comemoração.

― O dia só está começando, vamos limpar essa bagunça e preparar uma grande bebedeira para essa noite ― o Capitão ordenava indo em direção à sua cabine. ― Não é todo dia que pegamos um polvo vermelho... ― ele resmungou, antes de fechar a porta.

Assim como o capitão mandou, os tripulantes começaram o trabalho, pois, apesar de terem derrotado a fera, os vestígios daquela batalha estavam por todo o navio. Sangue e pedaços de carne dos tentáculos do polvo estavam por toda parte. Sem contar o muco que os tentáculos soltaram, lambuzando boa parte do navio.
Enquanto Pheli'n usava uma esponja para limpar o corrimão, que estava sujo de muco, ele quase vomitava de nojo. Além daquela gosma ser grudenta e difícil de remover, fedia como carcaça de peixe morto.

― Ou! não vai vomitar, hein ― Ji-ham cutucou Pheli'n com o cotovelo, enquanto passava esfregando o convés com uma vassoura.

― É fácil falar... ― Pheli'n segurava a ânsia de vômito. ― Não é você que está limpando... Meleca de tentáculo.

― Hahaha ― Ji-ham parou de esfregar o convés, sem conseguir conter a gargalhada. ― "meleca". Essa é boa. Isso deve ser muco.

― Seja o que for... Fede muito ― Pheli'n dizia entre ânsias de vômito.

― Eu também tô limpando sangue aqui, Thompson, e não tô reclamando ― Ji-ham dizia enquanto esfregava o convés. ― Tenta pensar que depois disso teremos uma grande bebedeira para relaxar.

― Você otimista ― Pheli'n usou de sarcasmo. ― Estou até com medo.

― Só quero animar o meu melhor amigo.

― Uau... ― Pheli'n decidiu não continuar a conversar. Ji-ham não era bem um inimigo, mas definitivamente não era um "melhor amigo". Apesar de ser no mínimo estranho aquela forçação de intimidade, Pheli'n decidiu não pensar demais, pois só queria terminar logo o seu trabalho e ir tomar um banho. Ele não suportava aquele cheiro.

Enquanto os tripulantes limpavam as partes externas do navio, Jacob foi até a cabine do capitão. Notou um semblante pensativo nele, e deduziu que seria bom conversar sobre o ocorrido.

― Capitão? ― Jacob falou, abrindo a porta da cabine.

― Jacob. Algum problema? ― o Capitão perguntou. Ele estava sentado em sua cadeira, olhando para o bico da fera que estava sobre a mesa.

― Na verdade, eu vim lhe perguntar o mesmo ― Jacob respondeu, entrando na cabine e indo para perto da mesa.

― Nenhum navio de caça abateu um polvo vermelho antes... ― O capitão suspirava. Ele estava admirado pelo feito.

― É uma emoção muito forte para todos nós.

― Ai ― concordou o Capitão. ― Principalmente para aquele rapaz...

― Pheli'n... ― Jacob completou.

― Ele matou uma fera... Sabe o que isso quer dizer, não sabe, Jacob?

― Ai ― Jacob respondeu. ― Mas... isso se aplica mesmo nesta situação? Porque... O que aconteceu foi sorte. E claro que não tira o mérito dele, mas... Foi sorte.

― Pondere sobre as duas escolhas o quanto quiser, meu filho... ― o Capitão tocou o ombro de Jacob. ― Pois quem vai decidir é você.

― Eu?

― Ai ― o Capitão respondeu. ― Você é o que mais se aproximou dele, eu percebi. Imagino que tome uma decisão melhor, já que o conhece.

― Bom, nesse caso... Prometo que vou tomar a melhor decisão.

― Não tenho dúvidas disso ― o Capitão falou, confiante.

⚓

Já muitas horas depois, após todos os tripulantes terminarem seus trabalhos e tomarem seus banhos, Pheli'n e Ji-ham estavam na cabine onde dormiam.

― Você foi incrível! ― Ji-ham explodia de emoção ― Cara, todo mundo tava lutando, ninguém podia ajudar o Jacob, e o navio estava afundando. Era o nosso fim... ― Ji-ham fazia um silêncio dramático, assim como suas expressões tristes. ― Então você apareceu com uma lança, e com toda força, lançou bem na garganta da fera!

― Dá pra parar? ― Pheli'n sorria humildemente. ― Nem fui eu que lancei. Só tive que puxar a corda ― Aproveitou a posição em que estava sentado para se jogar na cama.

― Que seja! Você salvou todo mundo ― Ji-ham foi até a cama de Pheli'n e se ajoelhou diante dela. ― E se alguém perguntar... Eu deixo você dizer que somos melhores amigos.

― Ah! Então era isso? ― Pheli'n deu um salto da cama e se sentou. ― Todo esse papo de "Melhor amigo" é por causa do que aconteceu hoje?

― Ah, cara, mas que drama é esse? ― Ji-ham fingia inocência. ― Eu gosto de você! Gostei desde o início, tá bom?

― Tsc, sei... ― Pheli'n desviou o olhar, entediado com o teatro. ― Vamos, temos que subir. A tripulação já deve estar toda no convés. Não era beber que você queria?

― Ai! Vamo lá!

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