Capítulo XIV

24 3 66
                                    

Tᴏᴅᴏ ᴍᴇᴜ ᴄᴏʀᴘᴏ ᴅᴏ́ɪ, como se uma carruagem tivesse passado por cima de mim. Poderia até esquecer dos meus problemas, momentaneamente, mas a dor logo me lembraria deles. Meus olhos também estão inchados. Não é tão difícil de descobrir, afinal, estou tentando abrí-los. É ridículo a forma como, em uma noite, não durmo de tanta felicidade, e, na outra, durmo mal de tanta tristeza.

Estou sobre a cama. E não sei como. Definitivamente, não me lembro de nada. Não ando enquanto durmo, então não faz sentido. Me recordo de estar no chão, à beira de um colapso, quando meu coração parecia sair pela boca... e nada mais.

De qualquer forma, não importa. Eu preciso decidir. E acho que sei o que farei. Não é justo que eu dê prioridade a uma amizade um tanto recente, e deixe de lado uma que me acompanhou por toda minha vida. Dean tem direito de ficar magoado; nós estamos juntos, e ele quer saber o que eu estava fazendo no quarto de alguém que mal conhecemos.

Saio de uma vez da cama, sem postergar. Do contrário, ficaria remoendo a situação até não encontrar mais forças para continuar. Estou decidida a resolver tudo isso o mais rápido possível. Ajeito o cabelo com as mãos; ele não está ruim. É ondulado, então sempre é um meio-termo.

Penso em colocar o vestido que Connor me presenteou, pois é o melhor que tenho para usar em um palácio estrangeiro lotado de pessoas ricas, mas a possibilidade de isso chatear Dean ainda mais me faz desistir. Coloco um que o próprio me deu, mesmo sendo mais simples e mais antigo.

Caminho em direção à porta, abrindo-a. Olho para os dois lados do corredor, e estão vazios. De repente, me deparo com Connor, sentado no chão, ao meu lado, com as pernas cruzadas. Está inclinado para a direita, com as costas apoiadas na parede. Seu cotovelo está dobrado sobre sua coxa e seu punho cerrado sustenta sua cabeça. Ele está dormindo. Aqui.

O que diabos...?

E então todo o peso que eu sentia se esvaiu, como areia escorrendo entre os dedos. Sento-me sobre meus pés, segurando o riso. Antes que caia, inconscientemente, pressiono seu ombro com uma das mãos, chamando-o por seu nome. Ele se assusta, encarando-me com os olhos arregalados e as sobrancelhas arqueadas.

Ao tomar consciência de quem se trata, seu olhar se acalma, tornando-se hipnótico. Como alguém que acabara de ver um anjo. Por algum motivo, minha atenção não consegue deixar suas pupilas, mesmo que eu me esforce exageradamente.

─ O que raios está fazendo aqui? ─ pergunto, soltando-o, finalmente.

─ Me desculpe, eu acabei dormindo ─ balbucia, ainda sonolento, esfregando seus olhos.

─ Eu não estou entendendo ─ rio. ─ Por que está aqui?

─ Ahm... ─ ele parece ter recordado um pouco da memória, e isso o faz perder as palavras. ─ Não é nada. Já estou indo.

Connor tenta se levantar, mas o paro. É muita coincidência estar justamente na porta do quarto onde estou. Nego com a cabeça, e ele percebe minha intenção. Faço-o encostar na parede, e ele, envergonhado, coça a parte de trás de sua nuca, enquanto tenta não me encarar. Cruzo os braços, me impondo.

Ele parece estar sentindo timidez. Em uma triste mistura com melancolia. O mesmo olhar que tem me mostrado desde que avistou meu beijo com Dean. Como se estivesse, ao máximo, fugindo de mim.

─ Por que você estava dormindo na porta do meu quarto? ─ indago, mais uma vez.

─ Não é nada, Ayla, já te disse ─ tenta reforçar, mas sei que não é verdade.

─ Sinto muito, Connor, mas você mente mal.

Ele assente, tornando-se absorto. Sua boca desiste de se pronunciar algumas vezes, buscando pelas palavras certas para se justificar. Sua feição está vazia e desnorteada, como se tivesse passado a noite toda acordado. E tenho receios de que isso seja fato.

Our Reign - The Resistance (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora