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Juan/ Terê

Mão suando, corpo tremendo, Fadiga fodida, as alucinações começaram e eu tô perdendo a noção do tempo

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Mão suando, corpo tremendo, Fadiga fodida, as alucinações começaram e eu tô perdendo a noção do tempo. Esses são os sintomas da minha abstinência. Sensação de morte!

Juan Elioterio, 29 anos. Pai de uma menina de 6 anos, Calena, minha princesa! Se eu tô passando por tudo isso agora é por ela, pela minha herança também, mas é mais por ela. Minha Pretinha me tem na palma da mão, sabe que o pai dela move o mundo todo por ela.

A Calena tem um apego enorme em mim, talvez pelo fato da mãe dela ter morrido cedo ou só por eu ser o pai dela, mas nossa conexão é imensa.

A mãe dela morreu quando ela tinha quase 3 anos. Eu tava numa fase louca da minha vida quando conheci a Carina, tinha 22 anos e ela 28. Fui num pagode na favela do Batan, lá em Realengo e conheci ela. Era uma mina da hora, uma morena gostosa a beça e de cara rendeu pra mim. Soube o que ela queria desde o início, só pela cara e pelas companhias dela e como um bom filho da puta que eu sou, dei o que ela queria: Patrocínio.

Me envolvi com ela por quase 1 ano, mas engravidei ela com 1 mês de lance mesmo, primeira vez que fui no pelo já veio a Calena. Mas ela não tava doente ainda. Carina teve uma gravidez tranquila e um parto mais ainda. Dei do bom e do melhor enquanto eu ficava com ela, mas no 7 mês de gravidez já não sentia nada por ela, nem tesão. Não que eu tenha sentido amor, mas eu curtia ficar com ela e trocar umas ideias, era uma mina cabeça e ambiciosa.

E nessa de ambição, quando eu dei o papo que não queria mais ficar com ela e que não sentia mais tesao nela, foi o momento do surto. Ela falou que eu tinha acabado com a vida dela, com o corpo dela, que estava feia e que nenhum homem ia querer ela, que eu tinha feito aquilo de propósito, mas não foi não, mané. Foi um bagulho de irresponsabilidade, mas não proposital!

Deixei claro pra ela que meu lance com ela era só minha filha e que não iria faltar nada pras duas, mas ela queria mais. Me queria.

Começou me importunando, surtava com as mulheres que eu pegava, batia mesmo de barriga e eu deixava passar por ela tá carregando minha filha e isso fez com que ela criasse asas pra cima de mim.

Numa dessas brigas dela, a bolsa estourou e minha filha veio e por incrível que pareça, veio numa paz de Deus.

Cuidei da minha filha todos os dias porque a Doida teve depressão pós parto e não conseguia olhar pra ela, Calena era linda, os cabelos enrolados e a pele negra que me encantavam todo dia.

Depois de uns 3 meses eu comecei a desconfiar dos traços dela, não era muito parecida comigo e nem com a mãe dela. Mas pra mim era só coisa da minha cabeça. Até que um dia eu estava assistindo o jogo com os caras na quadra daqui da favela e tinha levado a Calena, uma mulher surgiu do além e brincou com ela e nessa a Carine viu.

Surtou, bateu na garota e nesse dia eu decidi que era a última surra que ela dava em alguém. Chamei duas garotas que cobrava mulher pra mim e assim foi feito. Garota apanhou demais e depois eu ainda levei ela pra casa.

💭

-Você não tá cansada disso não, Carina?- ela me olhou com ódio e gemeu de dor quando tentou levantar.- Todo dia passando vergonha por algo que não é seu, caralho, quantas vezes eu já te disse que não te quero?- perguntei falando alto.

-Você acabou comigo, acha que vai ser assim, fácil? Estragou a minha vida e acha que vai se livrar de mim como um copo descartável?- gritou irada e eu percebi que não conhecia ela, não mais.

-Olha as coisas que você tá falando, mano, você é bonita pra caramba, não acabei com nada, mesmo depois que ganhou a Calena continua em forma, você tá ficando maluca?- perguntou já não sabendo o que ela tava falando.

-Se eu sou bonita, por que você não me quer mais?- perguntou e eu estalei a língua percebendo que o problema era eu não estar com ela.- Porque você não me toca mais?- gritou e eu escutei a minha filha chorar.

-Para de gritar mano, acordou a garota!- disse acalmando a neném.- eu te disse desde sempre que a gente tinha só um lance, Carina, nunca te jurei amor ou algum bagulho assim. Gostava da sua companhia como uma amiga que eu pegava as vezes, mas nunca te iludi ou algo do tipo.

-Mas eu me apaixonei!- gritou de novo.

-Mas eu não!- disse na maior tranquilidade e ela veio pra cima de mim.

Não sei como ela se levantou tão machucada, mas me bateu a beça mesmo com a neném no meu colo e até eu consegui colocar a Calena no carrinho foi uma luta.

Ela me arranhou, me deu soco, me xingava, gritava e a neném chorou. Chorava alto e parecia que irritava mais ela fazendo me arranhar. Eu não tive reação a não ser segurar os braços dela, não ia encostar nela pra machucar.

-Faz essa macaca calar a boca!- gritou e aí meu sangue subiu. Gritei na bochecha dela e aí ela riu.- Agora o viado resolveu reagir?- riu debochando.

-Não fala da minha filha sua vagabunda do Caralho!- ela riu.- Olha bem como você fala dela porque você pode se crescer pra cima de mim e não da em nada, mas pra cima dela você vai entrar em uma comigo que eu não vou querer sair.

-Sua filha?- riu alto, gargalhou mesmo.- Que filha você tem aqui?- tentou me roubar um selinho e eu me afastei.

-Tá pagando de doida por que?- perguntei soltando ela e ela sentou no sofá.

-Não tem filha sua aqui não, a garota não é sua filha!- gritou rindo e jogando a cabeça pra trás.- nunca percebeu nada? Tu é um burro mesmo.

-Presta atenção nas coisas que você tá dizendo, Carina!- meu sangue corria pelo meu corpo quente pra caralho. Meu rosto esquentava e eu tava tentando me controlar a beça.

-Vai fazer o que? Me matar?- me encarou.- Você é frouxo Juan, tão frouxo que nem desconfiou de nada.

💭

Aquele dia eu perdi o controle, desconfigurei a Carina, sai da minha razão quando espanquei ela. Meses sem ela sair na rua, e sem ver ela também.

Tirei a garota dela decidido de fazer um exame só pra ter certeza, mas ela continuaria sendo minha filha. E assim foi feito, o exame deu negativo, mas a consideração e o amor continuou o mesmo. Criei a Calena como minha e ela é.

Dois anos sem ver a Carina, até que ela apareceu na barreira do morro do meu pai, Morro Dois irmãos, Vidigal. Tava descabelada, descalça, com roupas rasgadas, mais magra e só de olhar dava pra ver que estava drogada.

Ela me pediu ajuda porque achava que tava doente e eu não neguei. Paguei os melhores médicos, todos os exames e aí descobrimos que ela tava com HIV. Foi um desespero total na minha família e na minha cabeça também. Fiz todos os exames e em mim deu negativo. O alívio foi enorme e depois de dois meses ela morreu por conta de uma pneumonia piorada pelo vírus.

Calena não sente falta ou algo assim, o amor de mãe que ela recebe é o da minha madrasta que foi o mesmo amor que eu recebi, que pra mim é minha mãe. É cabeça dura ela, sempre contou pra Calena tudo e eu também sempre deixei claro que não era o pai de sangue dela mas que era minha filha do mesmo jeito.

Depois de todas essas coisas que aconteceram, eu me fechei. Sou o Terê fora de casa, e dentro sou o pai da Calena, filho do Pitu e da Selena. Foi daí que veio o nome da minha filha mesmo.

Voltando a falar da minha abstinência. Tem 3 meses que eu estou em uma casa em Capitólio. Eu entrei em uma onda muito grande e não conseguia sair, até que um dia, eu recebi um olhar de medo da minha filha e aí eu pedi ajuda ao meu pai.

Vim pra cá pra me recuperar sozinho. Eu e eu. Sem celular e sem ninguém. Mas pra mim já tinha dado dessa porra. Não sei se to totalmente limpo, mas eu quero ir pra casa.

Peguei o celular que ficava numa caixa no guarda roupa mas que não foi usado durante esse tempo. Mandei uma mensagem pra gestão e avisei que eu tava voltando.

(...)

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