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Terê

Segunda chegou e com ela trezentas coisas pra fazer. Reunião, escola da Calena, boca, verificação dos cartões. É muito bagulho pra uma pessoa só, não dá, a única parada que eu queria era uns dias de descanso de novo, mas se eu falar isso eu tomo um tiro.

Meu pai tá pesando na minha pra ter a porra da reunião logo, queria até que fosse ontem mas eu consegui dar uma enrolada porque eu sei qual o motivo da reunião, e eu não tô preparado ainda, nem preparado e nem pronto.

É uma responsabilidade fudida pra um cara que ainda tá com um pé na abstinência. Eu sei que eu melhorei muito, mas não sei se estou na boa pra ficar perto demais dos bagulhos toda hora e não usar.

É certo que o que eu preciso é de algo que eu tenha como escape pra quando a vontade vim. Poderia ser a Calena? Poderia, mas não quero colocar minha filha nessa porra! O medo de fazer merda é gigante.

Tenho pra mim que toda essa briga dos meus pais é influência dessa reunião. Minha mãe quer que eu pai saia de vez da boca, mas também não quer que eu entre de vez. O que seria uma coisa que não ia mudar.

Trabalho na boca desde os 14. Comecei como todos, fogueteiro. Fui crescendo nos assuntos de pouco em pouco, papo de quase 1 ano em cada função. Quando a calena nasceu eu tava de segurança do meu pai, e quando ela tinha 6 meses pra proteger meu pai tomei um tiro de oitao na clavícula. Meu pai ficou maluco, porque os caras pegaram a porra de uma arma Velha pra tentar matar ele. Coroa soltou o papo que merecia uma arma melhor pra morrer. Ele é mandado.

Com esse tiro, meu pai ficou grilado e resolveu me subir pra gerente do pó de vez, e aqui estou até hoje. Ele é o dono e quem comanda também.

Meu pai não fecha com facçao, nunca fechou. Sempre foi ele por ele e pela favela. Isso aqui virou um paraíso de tanta coisa que meu pai mudou aqui. Escolas, postos de saúde, escola de samba e tudo mais. Os bares são bem visitados com o pessoal de fora, mas tem toda aquela segurança pra quem mora aqui.

Então é uma parada muito bem organizada, onde os moradores estão muito satisfeitos com a gestão do meu pai. E o medo é de dar uma vacilada e minha gestão ser uma merda.

Eu tenho medo mesmo, pô, tenho medo porque é a vida de muita gente que vai depender de mim, então eu não posso colocar meu ego acima de tudo e vacilar com os moradores, mesmo sabendo que eu consigo, não sei se agora é o momento.

Levantei e fiz tudo que tinha que fazer em casa, organizei o quarto de brinquedos que vai ficar pra minha filha e parti pra padoca pra tomar um café reforçado pra aguentar o dia cheio que vai ser.

(...)

Entrei na boca sentindo os olhares em mim e logo ouvi um burburinho.

XX: Mal chegou e já vai subir de cargo, só por ser filho do pitu, pô.- comentou com o cara que tava do lado dele. Obrigada Deus por ter me dado uma audição boa pra caralho.

Olhei pra trás e ele percebeu que eu escutei. Segui meu rumo pro sala do meu pai e entrei vendo ele e meu tio dandan. Comanda aqui junto com ele as vezes, mas tem o morro dele, morro da caixa d'agua, Penha.

Dandan: Eai mulecote, tá de volta!- veio me abraçar e eu retribui.- Bom te ver!

Terê: Bom te ver, Dandan.- olhei pro meu pai que me observou com atenção e apontou pra eu sentar na cadeira na frente.- Já tô ligado o que tu tá querendo, Pitu.

Pitu: Se tá ligado é melhor ainda que poupa meu tempo.- riu falso.- Tô te passando o comando, Juan!

Eu respirei fundo puxando o ar do planeta todo se possível. Namoral, vai dar ruim.

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