Almas rasgadas: 4

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Em um hotel pelos arredores de São Paulo a noite era densa e o clima pesava profundamente na iminência de uma discussão inevitável. Ciro estava encostado na parede próximo a varanda e Giselle andava de um lado a outro com as mãos na cintura, um silêncio afiado os perseguia desde que deixaram a delegacia, apenas suas respirações incomodas se faziam ouvir todo aquele caminho espinhoso.

Giselle adoraria poder fugir daquela conversa e continuar fingindo que nada estava acontecendo, mas para ela a cena na delegacia havia sido a gota d'água. Mesmo com a ameaça iminente que daquela conversa poderia resultar no final de sua história com seu marido a mesma preferia isso a deixar que uma farsa dominasse sua vida, se Ciro já não a amava de nada valia a pena o ter ao seu lado e mesmo sabendo que doeria como uma punhalada ela finalizaria aquela situação de uma vez por todas.

- A quanto tempo você está assim por ela? - Giselle cortando o silêncio com sua pergunta direta se posicionou ereta em frente ao marido.

- Ela quem? - Ciro sabia bem a quem sua esposa se referia, mas tentava prolongar aquela conversa não desejando terminá-la.

- Você sabe muito bem a quem estou me referindo! - Com os dentes cerrados Giselle o fitou com um olhar fulminante.

- Eu realmente não estou entendendo de quem você está falando - Ciro sentia o coração bater muito pequeno no peito.

- Simone Tebet! E nem venha me dizer que não sente nada por ela - Com uma aproximação perigosa até o grisalho a mesma usou o dedo indicador para pressionar no peito dele de maneira acusadora - Vocês já não disfarçam nada, qualquer um com o mínimo de atenção percebe o que está acontecendo entre os dois -

- Giselle, querida, você sabe o quanto eu te amo - Tentando envolver a cintura dela com seu braço saudável o mesmo rapidamente foi empurrado a parede de volta.

- Deixe de mentir para mim, para você mesmo - Pediu passando as mãos pelo cabelo e virando as costas para ele - Vamos, Ciro, seja sincero e admita de uma vez por todas o que já sabemos - Com a voz mais elevada Giselle voltou a encará-lo.

- Eu... Eu estou apaixonado pela Simone - Ao ver os olhos de Giselle marejarem e seus lábios tremerem Ciro tentou se aproximar, mas foi afastado outra vez.

- Por que demônios então você negou quando te perguntei se sentia algo por ela?! - Giselle tentava o seu máximo para manter o equilíbrio.

- Eu não queria sentir isso. Pensava que se negasse poderia aos poucos me livrar desse sentimento - Baixou sua cabeça com vergonha de tudo aquilo.

- Uau! Então imagine se você quisesse sentir, com certeza teriam transado na minha frente - Rindo com ironia Giselle ergueu os braços para cima demonstrando falsa surpresa.

- Você não merecia isso e eu me sinto muito culpado - Ciro coçou a nuca nervosamente - Mereço toda a sua raiva e mais -

- Você tem toda a razão agora! Eu não mereço esse papel de palhaça que você me deu - O rosto de Giselle tremia em fúria - Eu deveria te odiar, Ciro - Com a voz arranhada a mesma conteve a vontade de chorar que queria a dominar.

- Meu amor, me perdoe! Deveria ter sentado com você e conversado sobre essa situação - Com olhos suplicantes o mesmo tentou aproximação sem sucesso - Não é justo o que estou sentindo, eu sei, mas não consigo evitar - Engolindo em seco ele a observou passar as mãos pelo rosto impaciente e negar compulsivamente com a cabeça - Como você disse eu preciso parar de te enganar e me enganar... Não posso mais estar com você -

- Você deveria ter sido honesto comigo desde o início - Ela se aproximou lentamente do marido com profundo ressentimento no olhar - Desde que essa maldita campanha iniciou as coisas mudaram e se nessa reta final você não consegue nem mais controlar seu desejo por aquela mulher... - Frente a frente Giselle o encarava com uma dor dilacerante na alma.

Salve-me do caosOnde histórias criam vida. Descubra agora