Salve-me do caos

Eu estou aqui: 64

A manhã se iniciava com raios dourados de sol espreitando por janelas, pássaros cantando anunciando o despertar da natureza e o frescor da despedida de uma noite invadindo os lugares. Todos esses elementos seriam uma recarga de energia para quem pudesse desfrutá-los, mas para Ciro preso àquele hospital, onde tudo parecia viver no limite, nada era capaz de repor as forças das quais ele sentia esvair.

A madrugada parecera ter sido um desafio cruel para quem já estava tendo um mundo desmoronando lentamente nos ombros. Ligou para seus filhos, sentindo que não poderia sozinho acalentar os dois gêmeos, e apenas Yuri ainda estava desperto chegando rapidamente ao hospital para socorrer seu pai e os irmãos. Ele ocupou o lugar de Ciro com Fernando, sentando-se a poltrona, e retirando sua camisa, trouxe o irmão ao seu peito, o segurando com mãos trêmulas, afagando o bebê com palavras suaves enquanto o aquecia.

Ciro então caminhou até Sofia, que chorava inconsolável a trazendo outra vez em seus braços, pegara a mamadeira deixada pela enfermeira e tentava persuadir a pequena a tomar o leite, em um embalo tranquilo e o bico da mamadeira próximo aos lábios dela, ele sentia as lágrimas caindo involuntárias vendo a bebê rejeitar o leite. Ela afastava o objeto com seus braços se abrindo furiosos, se movimentava inquieta nos braços do pai e chorava o mais alto que podia, já vermelha e sem fôlego, os lábios trêmulos e lágrimas rascantes molhando suas bochechas infladas.

- Moreninha, por favor, ajuda o papai. Você tá com fome, eu sei, mas se aceitar esse leite vai passar - A voz mais fraca do que gostaria, tentando enxugar as lágrimas com os ombros - A mamãe não tem como te alimentar agora, me ajude - Sofria vendo sua pequena faminta.

- Quando a doutora vai chegar? - Questionou, Yuri, que passara toda a madrugada com o irmão acolhido e extremamente quieto em seu peito.

- Agora de manhã... - Ciro se aproximou do filho e tocou a testa do gêmeo, inspirando profundamente - Ele tá molezinho ainda, não é?

- Tá sim e quentinho - Lamentou Yuri, com uma mão nas costas do recém-nascido - E se levassem eles até a Si? Talvez fosse bom para os três - Tentava achar uma solução, angustiado.

- Vamos ver o que a doutora vai dizer - Sofia agora choramingava um pouco mais baixo, fungando - Gostou da ideia de ver a mamãe foi? - Sorriu suavemente, ainda sentindo o coração pesar.

- Acho que o Nandinho também gostou - Comentou, percebendo o bebê abrir levemente os olhinhos.

- Gostou foi príncipe do pai - Ciro fez um terno carinho nas costas do bebê.

- Eu diria que sim - Yuri respondeu, atento aos olhinhos semiabertos do pequeno.

- Pois bem pimpolhos! O papai vai levar vocês lá nem que tenha que ir contra as regras aqui - Prometeu, olhando para a entrada do berçário ansioso que a médica chegasse.

- E ele é capaz disso mesmo viu, maninhos - Yuri riu contido, fazendo um carinho na bochecha quentinha do pequeno.

Com mais alguns minutos Lívia chegara junto ao mais velho dos irmãos completamente preocupada. Antes que Ciro comunicasse todo o ocorrido um enfermeiro veio lhe informar das reações de Simone durante a madrugada e o chamou para ir vê-la, aflito e ansioso o homem ficou dividido entre continuar ali ou ir ver sua amada, mas os filhos lhe incentivaram a ir garantindo que cuidariam dos gêmeos e esperariam a médica chegar. Ele lhes agradeceu e rapidamente foi ao encontro da morena em coma, o coração quase parando em seu peito a cada batida dolorosa, seus passos pareciam afundar naquele chão.

Chegou à UTI quase sem respirar, mas lá estava ela da mesma forma que a vira da última vez, envolvida em um profundo estado de inconsciência do qual ele daria sua vida para a resgatar. Ele se aproximou enquanto quase não ouvia o que o enfermeiro lhe dizia, sua mente estava um turbilhão de pensamentos, angústias e reflexões. Um pequeno alívio foi perceber que a mesma não estava mais entubada, agora mantinha apenas uma máscara no lugar, o que era alguma mudança, mas não a que precisavam com urgência naquele momento.