Engatinhando: 73

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Pelo avançar da madrugada, com a noite sombria envolvendo o mundo, Simone estava sentada ao lado do grisalho que dormia com uma tranquilidade contraposta há horas atrás quando parecia que lhe pedia socorro com os olhos e implorava para não partir. Sua mão estava levemente vermelha com o aperto forte dele no momento mais tenso daquela noite, agarrou-se a sua mão como se assim conseguisse permanecer ali, como se ela fosse sua salvação e sua ancora para jamais ir. Acariciava o braço dele com cuidado em seu acesso, traçava com os dedos desenhos imaginários por sua pele, seus olhos estavam fixos no rosto pálido do mesmo.

- Por que não me disse que não se sentia bem, querido?! - Indagou baixinho, mesmo que ele não lhe fosse ouvir, e suspirou pesadamente.

Temeu o perder, sentiu o mundo desmoronar ao seu redor, o coração ainda estava pequeno em seu peito. Eles tinham uma família para manter, filhos para ver crescer juntos, ela não aceitaria viver tantas alegrias sem ele ao seu lado para desfrutar tudo aquilo. Depois de tantos males, sustos, desafios, mereciam paz. Ela ainda queria o amar por muito tempo e sentir seu amor sobre seu corpo, sua alma, seu coração. Suas pálpebras estavam pesadas, o cansaço do dia lhe cobrava um preço alto, havia sido árduo o trabalho e a noite a afundou em exaustão e medo. Tentava se manter acordada para estar atenta ao marido e a qualquer novidade de Janja sobre os gêmeos ou Gael. Minutos atrás recebera uma foto dos pequenos dormindo e aquela imagem fora seu porto seguro após todo o desespero. A inocência e serenidade neles causava um refúgio adorável nela.

- Simone! - O grisalho despertou aturdido, como se estivesse saindo de um pesadelo, puxando o ar pela máscara de oxigênio.

- Calma! Estou aqui, meu amor - Se levantou, as mãos apertando os ombros dele, e o rosto rente ao do marido buscando acalmá-lo ao confirmar que estava lá para ele - Já passou. Está tudo bem agora - Tranquilizou com uma voz rouca, mas branda.

- Desculpa... me desculpa por ter descuidado dos remédios - Lamentou, os olhos marejados, a mão buscando a dela agitado - E-eu - Sentia o coração acelerar.

- Amor, me escuta, fica calmo - Pediu, preocupada, acariciando o rosto dele delicadamente - Está tudo bem. Você vai ficar bem agora, vamos ficar bem... Vamos cuidar para que isso não aconteça mais, não é?! - Deixou um beijo doce em sua testa e sorriu meigamente para o acalmar.

- Morena... - Fechou os olhos ao sentir o calor dos lábios dela em sua testa e trouxe a mão da mesma para perto do peito.

- Só descansa, Ciro - Orientou, o polegar fazendo um suave carinho em sua bochecha levemente fria, com um olhar determinado - Eu vou estar aqui, não sairei do seu lado. Durma mais um pouco para voltarmos aos pequenos logo - Encostou sua testa a dele soltando uma respiração pesada.

- Os pimpolhos estão bem?! Gael viu algo?! - Se preocupou, apesar de relaxar lentamente com o toque gentil da própria em seu peito.

- Nossos filhos estão bem e graças a Deus Gael não chegou a ver nada - Garantiu com um olhar marejado - Eu te amo, sabia?! - Engoliu em seco ao recordar do mesmo lhe afirmando isso enquanto tinha o ataque cardíaco.

- Eu também te amo, morena - Suspirou, com um sorriso fraco, enquanto voltava a adormecer.

- Não volte a pensar em me deixar sozinha nesse mundo, ouviu?! - Fungou, deixando uma quentura agradável no peito dele com a mão ali procurando sentir seus batimentos mais tranquilos.

- Nunca mais - Murmurou com os olhos já fechados - Prometo - Se permitiu levar pelo sono, com a mão entrelaçada a dela lhe passando segurança.

Pela manhã o Gomes fora liberado sob orientações do que tomar e o que poderia fazer em seu período de repouso. A morena prestara total atenção no que foi dito e guardara as receitas consigo. Antes que voltassem ao apartamento a mesma parou em uma farmácia comprando tudo que foi receitado ao marido. Quando enfim estavam em seu lar, ela com o braço entrelaçado ao mesmo tendo cuidado no esforço que esse fazia, pôde soltar a respiração que segurava. Levou o grisalho ao banheiro e lhe ajudou com o banho, retirando sua própria blusa para que não molhasse. Ligou o chuveiro mesmo que o homem insistisse que conseguia sozinho e adentrou o box com ele ao lhe ajudar em se desfazer das roupas. Lhe dedicou um sorriso divertido quando o mesmo desviou o olhar de seu sutiã enquanto ela ensaboava sua cabeça. Com o banho finalizado, o grisalho em roupas mais confortáveis, ela o deixou na cama com um beijo depositado em sua cabeça pretendendo sair do quarto para falar com Janja e ver seus filhos.

Salve-me do caosOnde histórias criam vida. Descubra agora