Saudade que machuca: 23

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Em Mato Grosso do Sul o pôr do sol parecia lento e monótono indicando que a noite se faria presente logo.

Cabelos escuros descansavam em um travesseiro umedecido por lágrimas que jaziam ali, mãos apertavam a fronha enquanto ombros tremiam suavemente pelo choro amargamente derramado. Recolhendo as pernas para ficarem o mais perto possível, vestidas em uma calça de yôga, Simone se permitia o sofrer do término que parecia um espinho enfiado em sua pele, a mulher fechava os olhos com força tentando seu máximo para não pensar nos momentos com Ciro. O final de semana chegara e sua mente junto ao coração a levavam aos dias que passou por Sobral ao lado do ex namorado e de seus enteados, os momentos de interação que começavam a melhorar com Gael, as noites de paixão que o Gomes a proporcionou tão bem, os carinhos que trocaram... Tudo parecia gravado na pele da morena que sentia-se queimar em angústia e saudade. A intensidade do amor que demonstravam em beijos, atitudes, gestos, carícias, abraços, todos e cada detalhe nublavam com a sombra de uma gravidez inesperada. A mulher não conseguia suportar a culpa que sentira em ocupar o tempo que poderia ser dedicado a criança não nascida, mas a gota d'água para a morena foi o momento em que sentiu ser o motivo da perda do filho de outra mulher. Naquele dia ela não sabia o que a atormentava mais estar distante do homem que amava tão profundamente ou voltar a estar em seus braços e atrapalhar a vida de um ser que apenas era gerado.

- Mãe? Vamos entrar, ok?! - Com uma batida tímida a porta do quarto Maria Fernanda anunciou a entrada dela e da irmã sem esperar uma resposta da mãe.

- Ela ainda está com a mesma camisa de ontem - Maria Eduarda sussurrou para a sua irmã que caminhava devagar ao seu lado - É do Ciro, não é?! -

- É sim... - Em um tom piedoso Fernanda suspirou pesado observando a camisa social azul larga que a mãe usava - Mãe, vem cá - Sentando ao lado da mulher chorosa à cama a filha tirou os cabelos do rosto de Simone e ofereceu seus braços para que a mesma usasse de refúgio.

- Vou buscar uma água e um chá, tá? - Avisou Eduarda lamentando com olhar o estado da mãe e saindo logo após Fernanda afirmar com a cabeça.

- Ei, dona Tebet, olha aqui pra sua filhota, por favor - Fernanda pediu com meiguice descansando o queixo no ombro da mãe que cobria o rosto com uma das mãos.

- Nanda, eu prefiro estar sozinha, não se preocupe comigo - Com rouquidão na voz e embargo a mulher mais velha fungou enxugando as lágrimas que mesmo após a chegada das filhas não paravam de fluir - Eu vou ficar bem -

- Bem? Mãe, pelo amor de Deus, você não anda se alimentando bem desde o término e ontem quando chegou a vovó nos contou que a senhorita nem tocou na janta - Com dedos carinhosos a jovem acariciou os cabelos da mãe que agora a olhava com o canto do olho mostrando seu nariz avermelhado e olhos inchados rodeado por olheiras - Você está sofrendo e eu te entendo, mas precisa se alimentar mãe e nem que te arraste desse quarto ou traga aqui alguma coisa você vai comer - Apesar da seriedade no olhar a filha usava um tom docemente preocupado com a mulher deitada a cama.

- De onde será que você puxou esse autoritarismo todo? - Simone virou-se para sua filha que se afastou com um sorriso brincalhão dando de ombros - Eu vou comer, mandona! - Com um riso fraco e rosto manchado por lágrimas a morena se sentou a cama respirando pesado.

- A Duda já vai voltar com um chá pra você se acalmar - Comentou, mais uma vez oferecendo os braços para a mulher de olhos tristes sentada a sua frente - Agora, se quiser um abraço de urso e meu ombro pra chorar... Bem, estou aqui - A jovem apertou os olhos com pesar quando rapidamente sua mãe a abraçou com angústia e voltou a tremer com o choro lastimoso que a dominava.

Salve-me do caosOnde histórias criam vida. Descubra agora