De Repente Amora

Capítulo 4

Antes de ir embora passei na ala da editoração e conversei com as meninas para saber o que elas esperavam da capa que Richard havia dito que eu deveria fazer.

— A autora quer algo sexy, mas não explicito. — Laura, me disse ajeitando os óculos de grau no rosto delineado pelos fios que escapavam do rabo de cavalo alto que ela havia feito no cabelo ruivo.

— É um romance erótico, mas ela não quer que a capa mostre só isso. — Madu disse olhando da tela do computador para mim e fitei seus olhos azuis enquanto concordava com um aceno de cabeça. Mesmo já estando na casa dos quarenta anos ela transmitia uma jovialidade invejável. Eu me perguntava se era resultado de se trabalhar com aquilo que ama, e se fosse, eu esperava exalar a mesma energia boa quando chegasse a sua idade.

Saí de lá com o pdf do livro e com algumas ideias do que não poderia fazer.

Quando cheguei em casa, tomei um banho, preparei meu jantar, peguei meu kindle e me debrucei sobre o livro. Como era um exemplar de 450 páginas não conseguiria ler tudo para  desenhar a capa, então li os primeiros capítulos e fui pulando de trechos em trechos.

Já tinha terminado de comer a alguns minutos e ainda estava com os olhos fixos na tela. A história era sobre uma espiã que, usando uma falsa identidade, conseguia se infiltrar na vida de um homem aparentemente comum para descobrir se sua família estava por trás do assassinado de um candidato à presidência às vésperas da eleição. A forma como a autora descrevia os cenários e os personagens me permitia imaginar tudo perfeitamente, até que ela finalmente deu a descrição do homem que a personagem devia investigar. Nas palavras dela, ele tinha "um maxilar marcado, uma boca convidativa e olhos verdes como eu nunca tinha visto antes. Aqueles olhos traziam consigo uma profundidade que ao mesmo tempo me convidava e me desafiava a desvendar seus segredos".

Involuntariamente me lembrei de um par de olhos verdes que tinham me causado um mix de emoções há poucos dias atrás. Pelo que ela descrevia a única diferença entre os dois era que o personagem do livro tinha os cabelos castanhos e não os fios loiro-escuros do homem que conheci. No mesmo instante deixei o kindle de lado, peguei uma folha branca e comecei a esboçar o que me lembrava do olhar de Nicolas. Poucos minutos depois tinha colocado no papel aquele par de olhos que tinham capturado minha atenção na noite em que fui à boate.

Voltei a dar uma lida no livro e quando a parte erótica começou eu não conseguia separar o que era fruto da minha imaginação causada pela leitura, do que eram minhas lembranças da noite que passei com Nicolas. Resolvi pular mais uma parte e enquanto a personagem principal se via contra a parede por perceber que se apaixonou pelo homem que devia investigar eu tive a ideia de completar o desenho que tinha começado a fazer. Mas não com um rosto masculino. Tentei colocar nos meus traços toda a delicadeza e força com que a autora descrevia a personagem principal. Quando terminei analisei o desenho e gostei do resultado, ainda precisava ser finalizado, mas ao meu ver passava a impressão que o livro me deu: algo sexy, misterioso e ao mesmo tempo intenso.

Feliz por ter conseguido produzir algo, escovei os dentes e fui dormir. Só não esperava ter uma noite de sono povoada por sonhos não apenas com os olhos , mas também com todo o corpo de Nicolas e com todas as sensações que ele me proporcionou quando ficamos juntos.