Capítulo 5

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Como qualquer pessoa – que viva num ambiente com internet – faria, eu pesquisei no Google o que curava enjoos. Durante a noite não acordei para vomitar, e até achei que já tinha passado, mas assim que me levantei de manhã coloquei praticamente minha alma para fora enquanto vomitava até o que não tinha comido. Como respostas da minha busca apareceram alguns chás que, com certeza na opinião da minha mãe, eu já devia ter em casa. Então eu coloquei numa lista mental para comprar na próxima vez que fosse ao supermercado. Também apareceu em alguns sites que chicletes ajudavam e que chupar gelo era bom. Por sorte eu tinha um chiclete de menta na bolsa, então tomei um banho rápido e coloquei duas pedras de gelo na boca enquanto me vestia para ir trabalhar.

Quando cheguei à editora encontrei Taty que também estava chegando e juntas seguimos para nossa sala. Conversávamos sobre a última tarefa que Richard tinha passado, onde nós duas teríamos que ilustrar juntas uma coleção de livros infantis, quando Madu passou ao meu lado nos desejando bom dia.

Assim que senti seu perfume um enjoo veio forte e depois de pedir que Taty segurasse minha bolsa corri em direção ao banheiro mais próximo a deixando para trás completamente confusa.

— Melissa...? — Ouvi Taty me chamar receosa e depois de responder um oi dei descarga e saí da divisória do banheiro onde eu estava.

— Eu tô aqui.

— O que aconteceu? — Ela me perguntou se aproximando e segurando em um dos meus ombros.

— Eu comi um yakisoba que não me fez bem. Estou desde ontem colocando a alma pra fora. — Falei tentando manter o bom humor enquanto fui até a pia bochechar e jogar um pouco de água fria no rosto. — Você pode pegar um chiclete na minha bolsa, por favor?

— Claro. — Taty respondeu e pouco depois me entregou o chiclete de menta que eu recebi e coloquei na boca rezando para que, diferente do gelo, fosse eficaz contra a maldita onda de vômitos. — Você tem certeza que consegue trabalhar hoje?

Levantei o rosto e encontrei no reflexo do espelho os olhos castanhos de Taty me encarando com preocupação.

— Tenho sim, acho que daqui a pouco isso passa. Deve ser uma intoxicação alimentar — me afastei da pia e peguei minha bolsa que ainda estava com ela — obrigada. Vamos?

Assim que entramos na sala Pedro nos recebeu sorridente enquanto nos entregava folhetos.

— Bom dia meninas. Se vocês têm algum compromisso pra sexta desmarquem.

— Ein? — Eu e Taty dissemos em uníssono e ele riu.

— Sexta a banda do Hugo vai tocar num barzinho e vocês estão me devendo ir num show dele.

Olhei o folheto que ele havia enfiado na minha mão. No papel preto o nome da banda aparecia em letras brancas garrafais e, logo abaixo o endereço do bar e o horário do show. Hugo era namorado do Pedro. Ele, além de guitarrista, era um dos vocalistas de uma banda cover de indie rock e ao longo do pouco mais de um ano em que estavam juntos, Pedro sempre nos arrastava para todos os shows da banda. Eu gostava do som deles, o repertório geralmente variava entre Tame Impala, The Neighbourhood, Foster the People, Bastille e várias outras bandas.

— Sexta? Deixa eu pensar... — Taty titubeou de brincadeira e Pedro a encarou com os olhos semicerrados.

— A senhorita nem inventa. Vão por favor! — Ele pediu juntando as mãos em súplica, enquanto olhava de mim para Taty. Seus cachos balançavam no black power e eu estava a ponto de confirmar presença quando ele voltou a falar olhando para mim — lá provavelmente vai estar cheio de caras héteros. É uma ótima oportunidade pra você arrumar alguém.

De Repente AmoraOnde histórias criam vida. Descubra agora