Capítulo 10

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Duas semanas depois

— Eu vou chorar! — Falei dramática ainda de frente para o espelho e Micaela riu me fazendo lhe passar um olhar fulminante.

Ela estava sentada na minha cama mexendo no celular enquanto eu procurava alguma roupa para vestir e descobria que muitas das minhas calças não estavam mais me servindo. Agora que eu já tinha completado três meses de gestação estava começando a ganhar peso. Minha barriga ainda não era aparente, mas já tinha crescido o bastante para minha numeração não ser mais trinta e oito.

— Isso era inevitável Mel...

— Eu sei. Só não esperava que fosse tão rápido! — Soltei um suspiro e joguei longe a calça jeans de lavagem clara que não me servia mais. — E agora o que eu visto?

— Que tal aquele vestido? — Ela apontou para algum lugar atrás de mim e me virei olhando para o guarda-roupa.

— O preto?

— Aham. Veste aí pra gente ver como fica.

Fiz o que ela disse. O vestido era bem simples, com um corte reto, alças finas e um rendado na barra que ia até a metade das coxas. Por ser folgado não marcou meu corpo e gostei disso. Voltei a me olhar no espelho.

— Você ficou linda. — Mica disse também olhando para o vestido — esse mesmo?

— Aham. Agora só preciso pegar minha bolsa.

Poucos minutos depois já estávamos dentro de um carro a caminho da boate. Eu estava decidida a contar para Nicolas sobre a gravidez, mas agora que eu estava às vias de fazer isso, um medo crescente insistia em aparecer.

— Tem certeza que não quer que eu entre? — Mica me perguntou assim que o carro parou em frente as paredes pretas que eu achei que nunca mais voltaria a ver.

— Tenho. Eu preciso fazer isso sozinha. — Falei convicta e me surpreendi por minha voz transmitir mais coragem do que eu sentia.

— Ok então. Eu vou ficar aqui fora. Se acontecer qualquer coisa é só você gritar que eu entro correndo. Viu?

Acabei rindo e lhe dei um abraço rápido.

— Obrigada por ter vindo comigo.

— Você sabe que eu sempre vou estar do seu lado. — Ela disse enquanto apertava minhas mãos geladas e eu respirei fundo antes de sair do carro.

Já eram quase oito da noite. Precisei vir nesse horário porque a boate não abria durante o dia. Ainda fiquei alguns instantes de pé em frente a porta antes de finalmente entrar.

Com as luzes coloridas desligas, a boate ficava um pouco diferente do que eu me lembrava. O espaço estava vazio e a única luz vinha do bar, lentamente caminhei até lá e vi um homem colocando algumas garrafas de bebida na prateleira atrás do balcão. Seus cabelos eram ruivos e as costas eram largas sob a blusa preta que provavelmente era o uniforme de trabalho dos funcionários dali.

Abri a boca para dizer algo, mas nada saiu. Me xinguei mentalmente e apertei com mais força a bolsa que segurava contra o corpo, logo depois pigarreei para que o homem percebesse minha presença. Ele olhou para trás e foi rápido em dizer:

— A boate ainda não está aberta.

— Humm, eu sei. — Disse e me aproximei mais do balcão — eu estou procurando pelo Nicolas. Ele ainda trabalha aqui?

O ruivo então colocou uma última garrafa na prateleira e se virou para mim. Percebi que seu cabelo era mais curto nas laterais e tinha sido arrumado num topete. Ele esquadrinhou meu rosto com seus olhos castanhos por um momento antes de me responder.

De Repente AmoraOnde histórias criam vida. Descubra agora